Barrigudos

O feijão e o sonho

Barrigudos

 

Do primeiro sutiã eu não lembro. Mas do primeiro ultrassom da gravidez, a gente nunca esquece.

É um momento tenso. Você vai ser apresentado ao bebê. Vai vê-lo cara a cara. Ou cara a tela. E o medo de que haja algum problema é enorme. Meu nervosismo começou já na ida para o laboratório. O trânsito estava horrível e eu me perdi um bom tanto no caminho. Mesmo com GPS. Comecei a desconfiar que gravidez emburrece.

Quando chegamos, na sala de espera havia inúmeras mulheres com barrigas enormes. Parecia que elas pertenciam àquele lugar. Mas eu não me via como parte daquela realidade. Pensava: “Elas já têm cara de mãe, eu ainda não”.

Para aumentar a tensão, o cartão do plano de saúde não autorizava o exame. Havia algum problema burocrático com o número. Estávamos quase perdendo a consulta.

Mas a atendente, esperta, ligou para o plano e conseguiu um número novo. Resultado: fomos liberados e seguimos para a sala de exames.

A médica era uma japonesa animada e disse: “Este é o bebê mais novinho que eu vou ver hoje.”

“O anterior deve ter sido um velho de sete meses”, pensei. Mas nem fiz a piada. Estava nervoso, muito nervoso.

Coloquei o avental de exame, aberto na frente, e lá fui eu sentar de pernas abertas naquela cadeira de tortura. Aliás, já não poderiam ter inventado algo menos constrangedor? O meu peito começou a palpitar muito rápido. Sentia que meu coração estava na boca.

O meu já tinha parado.

Este primeiro ultrassom seria transvaginal. Você não achou estranho ela enfiar aquele negócio transamazônico em mim?

Não, tudo bem. Estava com gel e camisinha.

O exame começou. E, de repente, do nada, naquela imagem em preto e branco, surgiu uma pessoinha. Uma pessoinha do tamanho de um feijão.

Já dava para ver cabeça, mãos, pernas. Levei um susto. Pensei que ainda fosse algo meio amorfo. Mas não. Já tinha jeito de gente.

E então veio a parte mais surpreendente: ouvimos o coração dele!

Daquele tamanho e já tinha coração! “Que bebê precoce!”, o ignorante aqui pensou.

Ninguém tinha contado para nós que já dava para ouvir o coração. Foi um golpe baixo.

Ali, ouvindo aquele coração acelerado, a mais de 150 batidas por minuto, você percebe que o bichinho já está funcionando, já está existindo. Tentei me controlar para não chorar ali na frente da Rita e da médica, mas sem chance. As lágrimas caíam sozinhas. Só consegui evitar aqueles soluços feios.

Depois do exame, quando passamos de novo pela sala de espera, enxuguei o rosto e fiz cara de durão, de quem faz ultrassom toda semana.

E eu olhei para todas as barrigudas da sala e me senti como uma delas. Me senti mãe pela primeira vez. A mãe de um feijão.