Barrigudos

Como será a cara do cara?

Barrigudos

O bebê não surge no parto. Ele vai nascendo antes, em prestações, se materializando aos poucos. Ainda mais para nós, homens. No meu caso, a primeira vez que o senti mais próximo foi quando ganhamos uma roupa de bebê. Era um macaquinho azul. Aí eu pensei: “Daqui a pouco isso aqui vai estar recheado com uma criança. Dentro desse macaquinho vai ter uma pessoa de verdade.”

A materialização para mim veio com os primeiros chutes. Eu estava na 19ª semana de gravidez. Não era um arroto, não era um pum, não era o intestino brigando com a feijoada do dia anterior. Alguém se mexia para lá e para cá na minha barriga, me cutucando. Foi uma sensação incrível!

Eu colocava a mão na barriga de Rita, mas não sentia nada. Para mim, ele só existia quando ganhávamos alguma roupa. Mas eu não conseguia, e ainda não consigo, imaginar como ele será. Com as avós é diferente.

Minha mãe e a minha sogrete já sonharam com o bebê. No sonho da minha mãe, nosso filhinho fazia carinho no rosto dela e ela se derretia como manteiga quente.

No da minha, ele corria pela sala.

Coincidência ou não, as duas disseram que ele era um menino lindo.

E, é claro, elas são imparciais.

Totalmente.

Um filho lindo? Confesso que vejo mais graça nos meninos esquisitos. Quando vou numa escola falar sobre algum dos meus livros infantis, sempre simpatizo com aquele garoto de nariz comprido, com o mais baixinho, com o de orelhas pontudas. No fundo, talvez eu esteja torcendo para o meu filho ser mais esquisito que lindo, mais engraçado que belo.

Você pode até achar ele esquisito, mas eu vou achá-lo lindinho. Sou geneticamente programada para ver todas as belezas escondidas do bebê.

O fato das avós imaginarem nosso filho gerou uma certa curiosidade, porque nós dois não tivemos nenhuma visão premonitória.

Acho que não podemos nos culpar, porque sua mãe estudou astrologia e a minha, economia. As duas entendem de prever o futuro.

Comentando com os amigos sobre nossa vontade de ver o rosto do bebê, eles disseram: “Isso é moleza. É só fazer um ultrassom 3D”.

Então, durante uma consulta com a minha médica, falamos sobre isso. Ela, animada, começou a nos mostrar diversas fotos de bebês em 3D.

Horror, horror, horror… Todas as crianças tinham uma coloração amarelo-hepatite. Já os rostos pareciam feitos de barro. E por um artesão ruim, porque eram muito macilentos.

Cruz credo! O ultrassom 3D me diria que meu filho era um pequeno alien!

Vendo nossa decepção, a médica começou a procurar o que ela considerava como belos ultrassons.

Mas só achava monstrinhos.

Não é este esquisito que eu quero para o meu filho.

Os tecnológicos que nos desculpem, mas 3D não é fundamental.

É melhor continuar a imaginá-lo dentro de macaquinhos azuis.