Barrigudos

Como é triste a separação durante a gravidez (versão masculina)

Barrigudos

Hoje escreverei sozinho. E sobre um assunto triste. É que eu e Rita estamos separados há uns dez dias. Não, não é um divórcio. É uma separação geográfica.

Como estou cobrindo a Copa das Confederações para a Folha de S.Paulo, ando viajando muito. Hoje, por exemplo, estou indo de Fortaleza ao Rio de Janeiro, para ver a final. É claro que isso é divertido. Mas também causa uma certa ansiedade ficar longe da barriga de Rita. Sinto que estou perdendo alguma coisa, que não estou ajudando o quanto podia.

Mas a sensação mais terrível foi quando desmaiei. Ou quando acordei do desmaio. Explico:

Eu estava viajando de Salvador para Recife. Mal o avião levantou voo, comecei a suar gelado. Tirei a blusa que levo por conta do ar condicionado e fiquei só de camiseta, mas não adiantou. Continuei suando. Resolvi ir ao banheiro. Quando estava no corredor, me deu algo como uma preguiça imensa, um sono instantâneo, e eu desabei. Mas só percebi isso quando abri os olhos e vi a aeromoça me perguntando: “O senhor está bem?”. Nem consegui responder, o que em si já era uma resposta.

Fui levado até o chão perto da cabine, onde continuei deitado, com as pernas levantadas sobre uma dos assentos das comissárias. Minha camisa estava empapada de suor. A enfermeira perguntou pelo microfone se havia um médico a bordo. Para minha sorte, havia uma médica e uma enfermeira. Equipe completa.

Quando consegui pensar um pouco, me perguntei: “O que será que eu tenho? Será que eu vou morrer antes de ver o meu filho? Que droga! Quem mandou esperar tanto?”

Enquanto a médica checava minha pressão e a enfermeira procurava uma veia para me por no soro, eu continuava a ter pensamentos tétricos: “E se eu estiver muito doente e nem puder voltar para São Paulo? Será que Rita vem para cá, ter o bebê aqui? E se eu não sobreviver nem três meses? Será que é leucemia? Um tumor no cérebro?”

Foram pensamentos um tanto dramáticos, eu sei. Mas nunca tinha desmaiado antes. E é um tanto assustador você apagar de repente, ficar sem domínio do corpo. O engraçado é que não pensava no terrível que é morrer, pensava no terrível que seria morrer sem conhecer meu filho, sem ver a cara do cara. Tinha chegado tão perto… Faltavam só umas dez semanas… Seria uma grande injustiça.

Então ativei meus poderes de recuperação de Wolverine, que foram ajudados por um tanto de glicose dado pela doutora Michele, e fui melhorando aos poucos.

Continuei deitado até quase o fim do voo. Mas sempre pensando que não iria cumprir minha obrigação de cuidar do pequeno. E nem teria o prazer de pegá-lo no colo.

Chegando em Recife, fiz os exames. Não era um tumor no cérebro, mas uma reles infecção viral.

Agora não vejo a hora de voltar para casa e esperar junto com a Rita. Pode parece que esperar, ainda mais para o homem, é não fazer nada. E talvez não seja mesmo. Talvez seja só ficar ali do lado. Mas isso já é bem bom.