Barrigudos

Como é triste a separação durante a gravidez (versão feminina)

Barrigudos

 

Hoje é minha vez de escrever sozinha. E vou contar como foi ficar separada durante a gravidez. Mesmo que tenha sido apenas uma separação geográfica.

Logo que o Torero viajou por duas semanas para cobrir a Copa das Confederações, pensei: “Vou aproveitar esse tempo sozinha para fazer várias coisas que ele não gosta”. Então aluguei filmes “de mulherzinha”, bati perna no shopping, troquei o queijo prato por cottage e marquei uma sessão de spa em casa com as amigas, com direito a touca térmica e máscara facial verde.

A diversão durou dois dias. Depois disso, bateu a estranheza de estar separada.

A casa ficou vazia e a geladeira, cheia. Foi estranho ter o controle remoto da TV só pra mim. E, curiosamente, passei a me atrasar para os compromissos, porque agora eu já não tinha mais quem me apressasse.

Além disso, comecei a sentir uma pressão danada para dar conta de tudo sozinha: trabalho, casa, reforma do quarto do bebê, último trimestre da gravidez. Fora as noites mal dormidas por conta do refluxo, o cansaço geral e o barrigão, que agora já incomoda para andar. Até passei a ter falta de ar. Eu fiquei exausta.

O jeito foi racionalizar esforços. Ida ao supermercado? Só na falta de comida e papel higiênico. Padaria? Um luxo desnecessário. Que saudades do pão quentinho que Torero traz pela manhã…

Ficou claro para mim que gravidez é parceria. Uma grávida precisa de apoio e ponto. Seja ele qual for. Deixo aqui meu profundo respeito a quem encara ou encarou a gestação de forma mais solitária. Não é fácil.

A barriga crescia mais do que nunca e eu não podia mostrá-la ao Torero. O bebê chutava forte, se mexia de um jeito diferente, e ele não estava lá para sentir. Foi chato.

Mas pior mesmo foi quando ele me contou que não tinha passado bem. Em uma conversa com vídeo por Skype ele apareceu com olheiras profundas e estava levemente esverdeado. Vi que ele sofria, apesar de jurar que estava melhor. Torero mente mal.

Pensamentos dramáticos surgiram, turbinados pelos hormônios loucos da gravidez: “E se ele estiver com algo mais sério e não quer me preocupar? E se ele piorar enquanto estiver sozinho? Como ajudá-lo estando tão longe?”

Pensei em pegar um avião e ir até ele, em Recife, mas já estou proibida de voar. Cotei até passagem de ônibus, mas eu demoraria demais para chegar e a viagem longa, na minha situação gestacional, poderia provocar um parto prematuro.

Eu sentia que o Torero precisava de cuidados e ao mesmo tempo eu não podia descuidar desse serzinho que é fruto de nós dois. Fiquei entre a cruz e a espada. Ou melhor, entre o marido e o bebê. Foi horrível.

Por sorte, era uma infecção viral e ele vem se recuperando aos poucos. Mas ainda não está 100% bem. Só voltará da Copa um pouco mais animado, por conta da vitória do Brasil.

Agora faltam poucas horas para Torero chegar em casa. Ainda bem que tudo não passou de um susto. Só serviu para sentir na pele que separação na gravidez é muito triste.