Barrigudos

Ser pai é padecer em casa

Barrigudos

Dizem que ser mãe é padecer no paraíso. E o pai? Padece onde? Ou não padece? Claro que padece! E até antes de ser pai. O pai antepadece.

Por exemplo, estes dias Rita está doente. Logo, eu faço tudo. Hoje de manhã saí para comprar pão, lavei louça, fui à farmácia, marquei o próximo ultrassom (fazendo um bico de secretária) e esquentei o almoço.

Conjuguei a trilogia “lavar, passar e cozinhar”. Acho até que escreverei um livro sobre o assunto. Será um novo best-seller, substituindo “Comer, rezar e amar”.

Estou semimorta na cama, e é Torero quem me acorda para me dar remédio, às vezes à uma da manhã, e me leva alimento.

Se eu trabalhasse fora de casa seria um problema. Por sorte, sou escritor e meu escritório fica na mesa da sala.

 Grávidas não podem tomar qualquer medicamento. Então a cura pode demorar mais. Eu tive que trocar de remédios duas vezes. Durante todo o tempo, Torero teve que medir minha temperatura, avaliar pelo meu rosto se eu estava com mais ou menos dor, checar pressão e batimento cardíaco, enfim, tudo o que uma mãe faria.

O pai é a mãe da mãe quando a mãe está doente.

 Esta definitivamente não é uma posição confortável para o homem. Mas às vezes ela é necessária. E é respeitável quem aceita fazer este papel.

 Acho que hoje em dia isto está mais comum. Pais estão assumindo parte do que eram atividades exclusivamente maternas. Nos sábados e domingos pela manhã, quando vou tomar café na padaria, vejo vários pais sozinhos com seus filhos. Uma mente mais maldosa talvez tenha pensado: “Devem ser pais divorciados”. Mas não. Pelo que ouço das conversas com seus filhos, eles optaram vir tomar café na padaria e deixar a mãe dormindo.

O cuidar deixou de ser exclusividade da mãe.

A maternidade deixou de ser exclusividade da mãe. É só ver que, no começo do Barrigudos, eu quase não escrevia. Mas agora os textos estão bem mais azulados do que antigamente. Ainda escreverei um blog chamado Papatraca.

Estes dias você foi um super-herói.

Só se for o Bolsa-de-água-quente-Humana, o homem-termômetro, ou o Super-Kleenex.

Torero passou de coadjuvante a protagonista esta semana.

Mas não faço nenhuma questão disso. Minha especialidade é a coadjuvância (se é que esta palavra existe). No cinema, nos meus filmes e nos de amigos, já fiz papel de motorista, de atropelado, de público de boxe e de motoqueiro. Só neste último tive uma fala: “Ciao, bela”. E fui péssimo. Nasci para ser o Tonto e não o Zorro. Por isso, fique boa logo!