Barrigudos

O primeiro dia de Matias em casa

Barrigudos

(hoje o texto é em dupla: Torero escreve em azul e Rita em preto)

 

Depois de vinte e três dias na UTI, Matias finalmente veio para casa.

Ele teve direito a um corredor de aplausos na saída da maternidade. Foi bom ver as enfermeiras, funcionários da UTI e as outras mães dando adeus para nós. Mas fiquei um pouco triste ao deixá-las. Provavelmente nunca mais verei muitas delas, e elas foram tão importantes para nós.

Eu queria que as outras mães de UTI pudessem sentir essa felicidade de levar o filho para casa logo, logo. As amizades que fizemos por lá foram intensas porque os dias foram muito intensos. É como uma expedição que subiu o Everest: ficamos ligados com aqueles que estiveram conosco lado a lado em uma aventura de grandes proporções.

Na saída do hospital, minha primeira trapalhada: não consegui colocar o cinto de segurança da cadeirinha em Matias (aliás, a colocação da cadeirinha merece um post à parte). Então o porteiro-recepcionista-segurança da maternidade veio me ajudar. Ele certamente é um expert em cadeirinhas. Deve salvar vários pais todos os dias. Ele deu um jeito no cinto e aí consegui colocar Matias no banco de trás.

Eu sentei atrás com ele.

No caminho andei bem devagar. Minha máxima deve ter sido de 30 km/h. A ideia era fazer minha carroça balançar o menos possível. Se houve congestionamento em São Paulo naquele período, a culpa é minha.

Eu fiquei segurando a cabeça dele para que não a batesse. Ele era tão pequenininho para o bebê conforto…

Quando chegamos em casa senti uma sensação de que finalmente o parto de Matias tinha acabado.

Eu fui fazer a caminha dele. Tentei deixá-la parecida com a que ele tinha na UTI, fazendo uma espécie de ninho com os lençóis. Ele olhava para o teto com olhos arregalados.

Depois acabamos colocando ele na nossa cama, só para que ele tomasse posse do lugar. E, eu juro, ele riu nessa hora.

Na primeira troca de roupa, éramos dois trocando uma criança. Nos atrapalhamos um bocado com os colchetes da roupa dele.

Deve ter sido a troca mais lenta da história.

Pelo menos, da história de Matias.

Mas na segunda troca já fomos melhores.

E, na terceira, Matias deu um show. Primeiro fez xixi em Torero.

No meu casaco favorito, é claro.

Depois, soltou um jato de cocô que foi longe, que chamei de cocô-spray.

Eu nunca tinha visto nada parecido. Se houvesse uma competição de cocô à distância, Matias iria para as Olimpíadas!  

Carimbou a parede como uma obra de arte e deixou um rastro amarelado em vários objetos que estavam na cômoda.

Inclusive numa caneca que ganhei num encontro de escritores. Acho que daqui pra frente vou usá-la apenas como porta-lápis.

Para ganhar peso, ele continua tendo que mamar de três em três horas. Ou seja, nossa chance de dormir é entre estas mamadas. Mas nem isso conseguimos.

Passamos a noite em claro. Rita não queria apagar a luz, para ficar olhando Matias e ver se estava tudo bem.

Eu tinha medo de que acontecesse alguma coisa com ele. Um sufoco, um engasgo, uma apneia.

Por algumas horas ficamos assim. Mas convenci Rita a deixar apenas uma luz fraca. Aí foi minha vez de ficar preocupado, porque não dava para vê-lo direito. Então decidi ser mais radical: coloquei Matias sobre meu peito. Depois de algum tempo foi a vez de Rita.

Só assim conseguimos dormir. Porque Matias estava onde devia estar.