Barrigudos

Comparar bebês prematuros é cruel

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Matias já veste RN! Esta semana comemoramos a perda de suas roupas de prematuro. Os bodys minúsculos já estavam muito apertados e difíceis de colocar, e o comprimento dos mijões já não era suficiente para o tamanho de suas pernas. Ele passou para o tamanho recém-nascido.

Para mim, a troca de numeração foi uma pequena-grande conquista, uma confirmação de que nosso filho está crescendo, engordando, e de que eu e Torero estamos conseguindo alimentá-lo e cuidá-lo. Para Matias, foi mais uma grande-pequena vitória na sua vida de prematuridade.

Mas, ao compartilhar a novidade com a família e amigos por telefone, percebemos que a maioria das pessoas se calava. O silêncio era uma espécie de pena, um constrangimento, uma interjeição oculta, que imaginávamos que queria dizer coisas como: “Coitado, já está com mais de 40 dias e só agora chegou ao tamanho de um bebê recém-nascido.” Até que alguém, em alto e bom som, confirmou nossas suspeitas dizendo: “Nossa, se só agora ele veste RN, antes ele deveria ser um ratinho. Como ele é pequeno!”

Sim. Temos uma criança que por um bom tempo será bem menor do que as outras da mesma idade.

Quando o assunto é bebê, o ideal de belo é ser grande, rechonchudo, cheio de dobrinhas. Um bebê prematuro não tem nada disso. As mães de bebês a termo sentem orgulho e enchem a boca quando dizem: “Nasceu com quase 4 Kg!”. As mães de prematuros sentem alívio quando seus filhos chegam aos 2 Kg.

Comecei então a imaginar várias situações pelas quais provavelmente passaremos quando um estranho perguntar a idade de Matias. Serão comuns comentários do tipo “Ele parece muito mais novinho”, “Ele é pequeno para a idade”, ou ainda perguntas como “Ele come bem?”.

O preço de ter um bebê que nasceu antes do tempo é a crueldade das comparações com os outros bebês.

A prematuridade de Matias me fez refletir sobre as projeções que fazemos para nossos próprios filhos, mesmo que de forma inconsciente.

Quem nunca desejou ter um filho galã de televisão? Ou um novo Einstein? Um campeão de MMA? Cantor? Jogador de futebol? Ou ainda uma filha miss, presidenta, executiva de sucesso?

No fundo, todas as mães secretamente querem que seus filhos sejam os maiores, os mais fortes, os mais espertos, os mais bonitos, os mais inteligentes, os reis-da-cocada-preta, os mais-mais. E quando isso é frustrado logo de cara?

No meu caso, houve um grande alívio nas expectativas em relação ao Matias. Não me importa mais se ele se tornará um baixinho atarracado, um sujeito de altura mediana ou um altão grandão. Há outras coisas com que se preocupar.

Com um bebê prematuro a gente passa a ser coadjuvante do crescimento do filho. Quem dita o ritmo é ele, a gente não controla nada. E tem que deixar de lado as convenções. A curva de crescimento dele não será igual a dos outros. E as comparações com outros bebês não farão sentido. Ele vai se desenvolver no seu próprio tempo, e eu só vou ajudá-lo.

Bebês grandes dão orgulho aos pais. Bebês guerreiros, como Matias, também.