Barrigudos

Viva o cocô!

Barrigudos

''O cocô é nosso amigo

O cocô é nosso irmão

Às vezes fica no umbigo

Mas é só passar sabão.''

Essa é uma musiquinha que fiz um dia desses enquanto limpava Matias. Já estou tão íntimo do seu cocô que consigo limpá-lo cantando.

Antigamente eu tinha nojo de cocô. Até do meu. Mas hoje o cocô faz parte da minha vida. O cheiro já não me incomoda, a visão já não enoja. Cocô é só cocô.

Por conta da consistência pastosa e da cor, Torero chama o cocô de Matias de acarajé.

Num bom dia, Matias pode fazer cocô até oito vezes. E uma dessas vezes pode ser um cocô a jato. Na primeira vez que vi isso, lembrei do filme “O exorcista”. Só que, em vez de vômito, Matias ejetava cocô. Mas ele não estava possuído, acho. Naquela primeira vez ele esguichou longe, atingindo todos os nossos apetrechos do trocador e chegando até a parede.

É o que eu chamo de “cocô spray”.

Pensamos que nunca mais iria acontecer, mas, por via das dúvidas, tiramos os apetrechos do trocador (fraldas, cremes, algodão, cotonetes, garrafa térmica, etc…) da linha de, digamos, tiro.

Porém, logo depois ele acertaria a parede uma segunda vez e uma terceira. O pior é que é uma daquelas paredes com textura. Gastamos um bom tempo limpando tudo.

A saída foi usar contact transparente.

Pensamos que, depois do contact, pela Lei de Murphy ele nunca mais faria seu cocô spray. Mas o plástico na parede já nos salvou duas vezes.

Chegamos até a pensar em comercializar uma linha de contact anti-cocô spray. Em vez de transparente, ele poderia ter um alvo com marcações de pontos. Ou o Congresso Nacional.

O curioso é que ficamos íntimos do cocô de Matias. Pela cor e pela consistência sabemos se ele foi feito mais de leite artificial ou mais de materno. E sempre em tons amarelados.

É terrível quando ele faz cocô durante a troca ou quando vaza para a roupa. Dá um trabalho danado. Mas o pior é quando o cocô não vem.

Recentemente, Matias ficou quatro trocas sem fazer cocô. Foi um problema. Ele continuava comendo bem, mas chorava com cólicas e nada. De vez em quando, fazia um punzinho e só.

Fiquei preocupado. Será que teriam que passar uma espécie de roto-rooter no meu filho? Recorreríamos aos antigos clisteres? Haveria um terrível aspirador cocozal?

Ligamos para a pediatra. Ela disse que aquilo era normal e que, se ele não fizesse cocô até o dia seguinte, usaríamos supositório para ajudar.

A palavra supositório caiu nos meus ouvidos como uma bomba. Memórias de infância foram desenterradas e me lembrei o quanto eu sofria. Segundo minha mãe, eu fui uma criança “ressecada”. O cocô não era meu amigo. Desejei muito que meu filho não tivesse que passar por isso. Fizemos massagem na barriguinha dele, cantamos as músicas pró-cocô inventadas pelo Torero e até ensaiamos com Matias uma dança para a divindade pastosa.

Deu certo. Durante a madrugada, no meu turno de troca e mamada, lá estava ela, a fralda cheia e amarelada, transbordando cocô body afora. Em outra circunstância, eu teria ficado enfezado de ter que limpar tudo, trocar toda a roupa de Matias, depois higienizar o trocador com álcool e por fim colocar suas roupas de molho para lavar. Mas eu estava feliz.

Matias voltou a ficar tranquilo durante o dia e mostrou fraldas carimbadas na maioria das trocas.

O cocô era, de novo, o nosso amigo.

 

(Hoje, Torero escreveu em azul e Rita, em preto)