Barrigudos

As emoções de uma ida ao pediatra

Barrigudos

Ir ao pediatra é como um plantão de dúvidas sobre química orgânica para um vestibulando, ou seja uma chance de fazer milhares de perguntas.

Pois bem, esta semana levamos Matias à sua pediatra. Num caderninho tínhamos 14 perguntas anotadas. Desde “O que é esta manchinha branca” até “Estamos colocando muita roupa nele?”

Os pediatras talvez sejam os médicos mais pacientes da classe médica. Para suportar as perguntas dos pais, há que ser um tanto monge budista.

No fundo, tudo o que um pai quer é ouvir que ele está fazendo tudo certo e que seu filho está lindo e perfeito.

Se os pais não aprenderam na escola que não há pergunta boba, aprendem no consultório do médico. Lá não há timidez, não há espaço para dúvidas. Perguntamos o que é cada cisco, cada pintinha, cada tipo de arroto do bebê.

E lá vai o pediatra pacientemente respondendo o que já deve ter respondido um milhão de vezes.

Desta vez perguntamos coisas como: Ele tossiu ao dormir, é refluxo? O cocô saiu mais escuro, é normal? Quantas vezes podemos dar este remédio por dia? Tem um remédio menos amargo que aquele? Ele gosta de dormir mais do lado direito, tudo bem? Há uma vermelhidão por baixo de onde ajustamos a fralda, será alergia? Essa manchinha vermelha no olho vai sumir? Aliás, já dá para saber de que cor serão os olhos dele? 37,1 graus já é febre? Qual o limite de leite por mamada? Mesmo em dias muito frios temos que lhe dar banho?

Todas as respostas para nossas perguntas foram tranquilizadoras. Então passamos à fase seguinte, que é a pesagem do bebê. Ela corresponde mais ou menos à prova de redação no vestibular. É uma chance para tirarmos uma bela nota ou para sermos reprovados.

Ficamos de olho nos números vermelhos da balança. Eles iriam dizer se Matias ganhou o peso necessário ou não. Para nosso azar, ele fez um cocozão antes de sair de casa, com o que perdemos boas gramas, e por isso estávamos tensos.

Mas mesmo assim passamos com louvor. Matias ganhou quase 800 gramas em 15 dias. Pena que esquecemos de levar rojões.

Estava tudo divino maravilhoso, como na música cantada pela Gal. Mas, quando já estávamos saindo, Rita lembrou de uma última pergunta, que estava no verso da página de nossa lista.

“Vi uma gotinha de sangue no cocô dele. É de fazer força?”

Uma sombra passou pelo rosto da pediatra, que disse: “Eu já ia dar alta para vocês, mas agora teremos que fazer uns exames para investigar o que é isso. Pode ser uma intolerância ao leite de vaca. E isso pode gerar uma colite. Se nos próximos dias sair muito sangue alguma vez, não se assustem.”

Eu nem sabia que havia leite de vaca na fórmula do leite artificial. Para mim era só química. De repente me senti ignorante.

E eu me senti com muito medo e culpa. Se eu não estou conseguindo produzir leite materno suficiente e ele está precisando tomar complemento, o que ele vai tomar?

Agora estamos apreensivos com o resultado dos exames. Será que ele não poderá mais tomar a fórmula? Essa intolerância ao leite, se comprovada, pode durar muitos anos e prejudicá-lo?

Já fomos ao pediatra, ao nosso plantão de dúvidas.

Agora teremos que enfrentar os exames de química orgânica. No caso, os exames de Matias.

Só aí sentiremos o alívio da aprovação. Ou tomaremos bomba.