Barrigudos

Cadê o meu leite?

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A produção de leite para uma mulher é como o pênis para o homem. Se o volume é grande, há de se gabar. Se é pequeno, há de se lamentar.

Há duas semanas eu me peguei chorando o leite materno não derramado. Por que depois de quase dois meses de amamentação eu ainda tinha pouco leite? Por que a minha produção não tinha aumentado, mesmo tomando Plasil, Equilid, tintura de algodoeiro, chá da mamãe e bebendo mais de 3 litros de água por dia?

A primeira coisa que lemos em qualquer artigo sobre amamentação é que toda mãe tem leite suficiente para o seu filho. Por que afinal eu não fazia parte dessa regra? Qual era o meu problema? Eu não conseguia parar de me perguntar: “Que espécie de mãe eu sou que nem consegue suprir o filho com o que ele mais precisa?”

Um turbilhão emocional bateu à minha porta. Chorei como mocinha em novela mexicana.

Chorei por culpa, frustração e incompetência. Matias é flex, ou seja, toma leite materno e leite artificial. Mas ele se revelou alérgico à proteína do leite de vaca, que está presente na maioria dos leites artificiais, e precisou trocar de suplemento. O problema é que ele não estava se adaptando bem à nova fórmula. Então pensei: “Por não conseguir amamentar meu filho só com meu leite, ele está sofrendo.”

Mas a verdade é que choros e lamentações me deixaram empacada.

Decidi procurar especialistas em amamentação para entender o que estava acontecendo comigo. Consultei médicos, doulas e enfermeiras. E identifiquei algumas questões que podem ter contribuído para a baixa produção de leite.

Primeiro descobri que chorar não é nada bom para produzir leite. O tsunami emocional só atrapalha o processo. A mãe tem que estar feliz e tranquila para se tornar uma vaca leiteira. E o que eu mais fiz desde que Matias nasceu prematuro e ficou 23 dias na UTI foi chorar e ficar preocupada. Era muito difícil ver aquele serzinho frágil todo entubado e monitorado. Sem contar que eu chorava escondido com medo de perdê-lo. Até hoje acho que não relaxei por completo do trauma hospitalar.

Também aprendi que o normal é que bebês recém-nascidos comecem a mamar em suas mães logo nas suas primeiras horas de vida, para que o leite desça e a produção se estabeleça. Matias demorou quase 15 dias para colocar sua boquinha no meu peito pela primeira vez. Segundo os especialistas, se eu não tivesse tirado leite com a bomba elétrica, nem mais leite eu teria. Meu corpo entenderia que não havia bebê e meu leite teria secado por inteiro.

Outra questão interessante foi descobrir que o poder de sucção da bomba elétrica é menor do que o poder de sucção do bebê, o que limita a produção de leite.

Além disso, o bebê precisa mamar com vontade em cada seio para estimulá-lo a produzir mais.  Matias começou a mamar preguiçoso, já acostumado às mamadeiras na UTI, e eu tinha que complementar a retirada de leite com a bomba elétrica. Para ele, era mais fácil chupetar o peito do que fazer força para tirar algum leite dali.

O mais curioso, porém, foi a revelação de que olhar para o bebê enquanto se amamenta aumenta a produção de leite. É que a admiração da fofura do bebê libera oxitocina, o hormônio do amor, que estimula a descida do leite. Confesso que eu ficava um pouco dispersa durante as mamadas, pensando no celular que tocava, na conta a pagar, na mamadeira para lavar e outras pequenices sem importância. Entendi que amamentar é um momento de curtir o bebê longe dos gadgets tecnológicos, das preocupações, dos pensamentos estressantes.

As conversas com os especialistas também detonaram alguns mitos. Por exemplo, eu achava que só tinha leite quando a mama estava pesada, enrijecida. Ledo engano. Eu não sabia que o leite é produzido na hora da mamada, a partir dos primeiros minutos de sucção do bebê. Isso significava que meu peito também produzia leite quando estava murcho e eu não precisaria esperá-lo encher para dar de mamar a Matias. Ufa! Que alívio!

Parece que nem tudo está perdido para mim em matéria de amamentação. Ainda há algo a se fazer. Mas o principal foi que entendi que um pouco de leite materno é melhor do que nada. Uma médica da UTI me disse: “É melhor você produzir 20 ml por dia até os seis meses de vida do seu filho do que não dar leite materno algum.”

Pelo jeito, estou no lucro. Mas não sou de desistir fácil. Esta semana começarei um novo processo para tentar achar o meu leite. Contarei os resultados aqui no Barrigudos.