Barrigudos

Carta aberta ao senhor Sling

Barrigudos

No último texto, Rita escreveu uma carta para Shantala, a mãe que teria ensinado a massagem indiana para o doutor Frederic Leboyer, que por sua vez a ensinou para o mundo. Fiquei com inveja e por isso hoje também farei uma carta aberta. Mas para o senhor Sling. Vamos a ela:

 

''Caro senhor Sling, não sei se o senhor nasceu na Ásia, na África ou se é parente do Sting, mas desconfio que o senhor era escritor.

Penso isso porque é praticamente impossível escrever se você é pai de um bebê. Toda hora há que pegá-lo no colo, seja porque ele está com cólica, seja porque dá vontade de tê-lo por perto.

Deve-se tomar cuidado com as migalhas de pão quando se usa um sling.

O problema é que, mesmo que eu faça um malabarismo e segure-o com apenas uma mão, não é fácil digitar com a outra. Eu, que escrevo usando só com dois dedos, o indicador e o médio, passo a digitar em passo de tartaruga.

Mas com o sling tudo é divino maravilhoso. Matias fica confortável, tranquilo, e eu posso escrever com meus quatro dedos.

Além disso, o sling me deixa com um certo ar romano, ou mesmo indiano, dependendo do modo como ajeito o pano.

Para gêmeos, aconselha-se tecidos e coluna reforçados.

Imagino, caro Sling, que o senhor deve ter inventado este suporte num dia em que estava atrasado para entregar seu texto para o blog (como eu, hoje). Imagino-o atrapalhado com Sling Junior, até que pegou um lençol, deu um nó diferente e inventou uma espécie de rede para o pequeno.

Além de deixar as mãos livres, há mais uma vantagem. É que Matias já chegou aos cinco quilos, ou seja, é doce e pesado como um saco de açúcar, e levá-lo para lá e para cá está acabando com minhas costas. Mas, com o seu instrumento, o peso fica mais bem dividido. Parte vai para o ombro, que ainda não está estragado. E assim já não ando como o corcunda de Notre Dame.

O sling tem mil e uma utilidades.

Rita diz que o sling dá uma sensação de ele estar mais perto, de recuperar a barriga da gravidez. Como nunca perdi a minha, isto não me afeta tanto.

A bem da verdade, há dias em que Matias não suporta ficar no seu invento. Ele quer é colo. E aí não tem jeito. Tenho que usar as mãos mesmo.

Ou melhor, mil e duas.

Com o sling fico me sentindo um pouco canguru. E isso é bom. Lembro do canguru que fazíamos na UTI. Só que agora Matias está com o triplo do peso, o que torna sua criação muito útil.

Acho que seu invento também deve ser bom para o bebê, pois deixa-o numa posição parecida com a da gravidez. Quando ele nasce, não fica mais todo encolhidinho e vai para um berço enorme, como se fosse uma cama de motel para um adulto. O sling deve lhe devolver um pouco da sensação de acolhimento. Aliás, Matias às vezes fica numa posição de contorcionista em seu sling, mas lemos uma reportagem que diz que isso não atrapalha seu crescimento.

Uma opção mais viril de sling é o modelo cowboy.

Falam até que seu sling, senhor Sling, ajuda a diminuir as cólicas. Mas ainda não mensuramos isso. Se conseguir, será um feito e tanto, porque cólica é o principal motivo dos choros de Matias.

Enfim, caro Sling, quero agradecê-lo por sua grande invenção. Ela facilita minha vida e é o único jeito de eu ter algo em comum com Brad Pitt.

 

Um abraço, Torero.''