Barrigudos

O primeiro dia longe de Matias

Barrigudos

Nesta última quarta-feira participei do programa “Encontro com Fátima Bernardes”. Ele foi gravado ao vivo no Rio de Janeiro e falou sobre prematuros.

Matias não podia ir comigo. Por causa dos baixos glóbulos brancos, ele ainda não pode ficar em ambientes como aeroporto e avião. Torero também não conseguiria ir ao programa, porque fazia uma séria de palestras pelo interior.

Tive que deixar Matias com minha mãe. Mas, mesmo assim não fiquei tranquila. E se ele vomitasse? Se tivesse febre? Se não mamasse direito? O que fazer se ele chorasse sem parar?

Na noite anterior preparei uma mala gigante com tudo o que ele poderia precisar: fraldas, lenços umedecidos, creme para assaduras, paninhos de boca, mamadeira, leite, bodies e mijões extras, meinhas, um casaquinho caso esfriasse, um cobertor, um lençolzinho, uma mantinha, os remédios com instruções de uso e horários, um termômetro , uma chupeta (que ele não gosta, mas vai saber?) e um esterilizador de mamadeira. Fora o bebê conforto e o carrinho, claro. Afinal de contas, eu ficaria fora por oito horas.

Deixei Matias de madrugada na casa dos avós. Beijei várias vezes seu pezinho e saí com o coração na mão. Depois que fiz o check-in, liguei para minha mãe para saber se estava tudo bem. “Ele está dormindo”, ela me disse. Ufa, pelo menos dormindo ele não sentiria minha falta.

Já dentro do avião, antes da decolagem, me bateu um arrependimento. Como assim eu estava indo longe, para outra cidade e deixando o meu filho? Que espécie de loucura tinha dado em mim? Senti um aperto no peito e comecei a chorar. Chorei um choro silencioso, em respeito ao executivo que dormia babando do meu lado. Lágrimas rolavam dos meus olhos vermelhos. Era um misto de culpa e saudade. Durante o voo fechava os olhos e via Matias rindo, aquele sorriso dengoso de canto de boca que ele dá quando acorda. E eu só pedia para que meu filho ficasse bem.

Cheguei ao Rio. Logo que saí do avião liguei para minha mãe para saber como Matias estava. “Continua dormindo” e eu, feliz, respirei aliviada, torcendo para que ele ficasse o dia todo assim, sem perceber a minha ausência. No caminho para o Projac, só deu Matias no papo com o motorista do táxi. A vontade de chorar ia e vinha, e eu usei óculos escuros para esconder a vermelhidão e o inchaço dos olhos.

Nos bastidores do programa conheci outras mães que tiveram seus bebês prematuros e que, assim como eu, viveram a traumática experiência da UTI. Enquanto nos maquiavam, arrumavam nossos cabelos e nos embelezavam para entrarmos no ar, pude conhecer a história de cada uma e trocar experiências. Então começamos a mostrar as fotos dos nossos bebês.  Foi quando meu olho voltou a marejar e a maquiadora, em tom descontraído, me deu a maior bronca: “Nem pense em borrar esse olho e estragar todo o meu trabalho!” E continuou: “Não foi fácil apagar essa vermelhidão e esse inchaço nos olhos.” Em respeito a essa mulher que fez milagres, segurei o choro.

Quando o programa acabou, havia uma mensagem da minha mãe no celular: “O Matias te reconheceu na tevê. Quando você apareceu, ele gritou ‘Angu, angu!’ e mexeu os bracinhos”.  Que fofo… Por mais que isso possa parecer impossível, uma parte de mim gostou de imaginar que meu bebê de quatro meses já me reconhece na tela.

Depois disso, eu ficava ligando para minha mãe de tempos em tempos para saber notícias de  Matias. Ela já nem falava mais “Alô”. Atendia ao telefone com frases como “Acabou de mamar tudo”, ou então “Fez um cocozão, troquei a fralda e fez outro cocozão”, ou ainda “Ele está na sala, brincando com o avô”. Como ela sabia que era eu do outro lado da linha?

Consegui adiantar meu voo. Não via a hora de beijar meu bebê.

Na volta, Matias estava bem, feliz, e meus pais melhores ainda, porque ficaram com o neto por bastante tempo.

Eles até disseram: “Você precisa sair mais vezes e deixar ele aqui.”

Nunca mais!

 

P.S.: para quem quiser conferir, o link do programa é este aqui: http://globotv.globo.com/rede-globo/encontro-com-fatima-bernardes/t/programa/v/maria-rita-teve-o-matias-com-7-meses-e-meio/2981634/