Tamanho (de barriga) é documento
Barrigudos
Um problema do início da gravidez é que você já se sente diferente, mas o mundo não sabe disso. Para piorar, minha barriga teimava em não crescer. Não sei se foi a quantidade de abdominais que fiz na vida ou se no primeiro filho a barriga demora para crescer mesmo. O fato é: eu não parecia grávida.
Era engraçada a expectativa dela quanto a isso. Todo dia de manhã se olhava no espelho e dizia: “Acho que já cresceu um pouquinho”. Mas não havia nada ali.
Essa falta de barriga me trouxe problemas.
Ela queria ter barriga e eu queria perder a minha. Ah, a eterna insatisfação do ser humano…
É que eu queria usar as filas prioritárias, afinal de contas, isso é um direito meu.
O direito no Brasil é torto.
A primeira fila preferencial que peguei foi no supermercado. Eu estava enjoada, com cara de limão azedo e queria sair logo dali. Mas fui fulminada por olhares maléficos de cidadãos sêniores que também se encontravam na fila. Um octogenário, com a baguete na mão…
No bom sentido…
… começou um discurso sobre direitos e cidadania, querendo me colocar para fora da fila.
Devia pensar que você era uma espertalhona, uma daquelas que gostam de levar vantagem em tudo, certo?
Sem dúvida. A sorte é que eu tinha o primeiro ultrassom dentro da bolsa.
Eu chamo essa bolsa de “A arca perdida”, porque pode sair qualquer coisa de lá.
Enquanto ele fazia da baguete uma espada, o ultrassom era meu escudo. Mas ainda assim ele não acreditou que era meu. Tive que mostrar minha carteira de identidade. No final, ele se calou. Saiu cabisbaixo e voltou a ficar corcunda.
Talvez a terceira guerra mundial seja entre as grávidas e o pessoal da terceira idade. Elas darão umbigadas, eles, bengaladas.
Também passei por apuros na fila do banco. Em pleno horário de pico, trinta pessoas me cozinharam com os olhos. Ninguém falou nada diretamente. Mas ouvi um burburinho cruel sobre a pena que deveria ser aplicada a pessoas que se aproveitam da fila dos idosos. Uma mulher foi reclamar com a gerente do banco. Mas esta sabia que eu estava grávida e a reclamante ficou com o rabo entre as pernas.
Para mim, esta gravidez tem sido ótima. Odeio ir a bancos e correios, então Rita tem sido minha office-girl.
Mas o pior mesmo é nos embarques dos aviões. Algumas vezes, as companhias aéreas não formam filas diferenciadas. É cada um por si. Outras vezes, quando formam filas prioritárias, há passageiros com alta milhagem que atropelam deficientes, idosos e grávidas sem dó. Cheguei a ser empurrada por um cliente diamante da Gol, que pressupôs que eu não tinha nenhuma necessidade especial nem era uma passageira premium. Isso me revoltou e armei o maior barraco no aeroporto.
Parece que a gravidez deixa as mulheres mais reivindicativas. São fêmeas protegendo os filhotes. Grrrrrrr!
Nunca imaginei que falaria isso, mas não vejo a hora de minha barriga crescer. Ela será a garantia definitiva dos meus direitos.
Na gravidez, tamanho de barriga é documento.