Barrigudos

Socorro, meu QI despencou!

Barrigudos

Nunca fui uma criança bonitinha nem popular. Mas desde pequena diziam que eu era inteligente.

Também diziam que eu era inteligente. Mas o que mais poderiam falar de um menino que usava aparelho nos dentes e óculos?

Eu acreditei nisso e por algum tempo fui uma nerd convicta. Na adolescência, cheguei até a usar óculos sem grau para ficar com um ar mais intelectual.

Já eu operei a minha vista para tirar os óculos. Quero que valorizem o meu corpo.

Frequentei várias universidades e colecionei alguns diplomas. Mas os últimos meses têm me convencido que eles não merecem mais estar na minha parede.

Acho que a ideia é que você não merece que eles estejam na sua parede, não é?

Ai, este raciocínio está muito complicado… O que eu quero mesmo dizer é que tenho sentido uma dispersão maior, falta de foco e uma maior dificuldade para operacionalizar raciocínios simples, como multiplicações e divisões.

Em resumo: burrice. 

Também não estou me chamando de burra! Só sinto que a gravidez derrubou alguns pontos do meu QI.

Ainda dá para fazer eufemismos.

Quando percebi que o meu Tico e o meu Teco não trabalhavam sempre na mesma sintonia, procurei a médica. Ela me disse que isso era algo absolutamente normal na gravidez. E acontece com todas as mulheres, mesmo quando elas não percebem. Até deu um número: disse que nosso QI cai uns 30%.

Comecei a ver este fenômeno quando ela passou a confundir ditados populares. Por exemplo, uma noite ela disse que eu estava “me mexendo como um bife à milanesa”. Mas queria dizer “pulando como um peixe na frigideira”. Dá para entender, bife e peixe são comida, frigideira lembra milanesa…

Fui a uma festa de aniversário e esqueci o presente. E eu tinha certeza absoluta de tê-lo colocado no carro. Para piorar, quando fui embora, esqueci minha bolsa e a dona da festa teve que levá-la para mim. Acho que ela vai demorar para me convidar de novo.

Ainda na troca de palavras, esses dias Rita falou “A galinha está tendo um ovo”. Misturou “por um ovo” com “tendo um filho”. Freud explica.

Mas há vezes em que eu lembro até demais. Por exemplo, estava preocupada em não perder o horário de uma reunião de trabalho. E consegui chegar na hora exata. Mas dois dias antes.

Por recomendação médica, Rita teve que diminuir o peso da bolsa (uns dez quilos). Depois de tirar um monte de tralhas, digo, utilidades, segurou-a e disse: “Agora ela está bem fresquinha”.

Minha atenção anda precária. Na compra da minha primeira calça de grávida, experimentei uns trinta modelos e gostei de um. Só que, na hora que fui vesti-la em casa, percebi que tinha trazido a calça errada.

Numa viagem de avião, ela virou-se para mim e perguntou:

“Tem alguma parte da asa que se chama step?”

Acho que o estepe do pneu do avião não fica embaixo da asa. Por quê?

“Porque está escrito: ‘NÃO PISE NO STEP’.”

Olhei para a asa e entendi: Estava escrito: “NÃO PISE”. E depois, em inglês, “NO STEP”. 

Antes dele falar qualquer coisa, percebi meu erro. Mas já era tarde. Torero rolava de rir.

Rolava é exagero. Eu estava com cinto de segurança.

Acho que para os próximos meses eu tenho duas saídas: tirar os diplomas da parede e me recolher à minha ignorância ou voltar a usar óculos sem grau. Onde será  mesmo que eu os coloquei?