Apareceu a barriguinha, olê, olê, olá…
Barrigudos
Levei um susto um dia desses. É que, pela primeira vez, durante meu ritual matinal de levantar a blusa e mostrar a barriga pro Torero, ele falou: “Nossa, não é que tem um cara mesmo aí dentro?!”
Não era uma barriga grande, mas já dava para desconfiar que a Rita estava grávida. Ou tinha passado a tomar uns chopes depois do trabalho.
Senti orgulho. Finalmente eu via que meu filho estava crescendo. E aquelas bocas maldosas que diziam que eu não estava me alimentando bem, ou seja, subnutrindo meu bebê, finalmente teriam que se calar.
Mas o orgulho deu lugar à tristeza quando ela subiu na balança da médica. Rita estava acima do peso indicado para aquela fase da gravidez e tomou uma bronca. Até chorou.
Não era justo. Eu estava me alimentando direito. E quando escorregava, comia praticamente ar. Ou biscoito de polvilho, o que dá na mesma. Pelo menos, era o que eu acreditava. Até que fui olhar a tabela de calorias e vi que polvilho provavelmente era a comida favorita de Jabba, the Hutt.
Para quem não conhece, Jabba, the Hutt é este monstro de Star Wars aqui embaixo.
Eu estava sempre ganhando carimbos de estrelinhas na minha ficha gestacional. Mas, daquela vez, ganhei o carimbo do Cascão. Deu sujeira…
Rita sentiu o peso da responsabilidade. Ou a responsabilidade do peso.
Essas mudanças no corpo contribuíram para uma considerável diminuição na minha autoestima. Passei a me achar uma balofa porpética.
Traduzo “porpética” aos leitores: significa em forma de porpeta, redonda como uma almôndega.
Antes, quando eu passava na rua, na frente de uma obra, recebia elogios, cumprimentos e frases como: “Quanta saúde!”, “Quer lavar roupa lá em casa?” e “Essa não tá esperando ônibus mas tá no ponto”.
No começo da gravidez ela ainda recebia cantadas. Conta aquela da meia maratona.
Eu estava esperando o Torero cruzar a linha de chegada quando um sujeito se aproximou e disse: “A deusa está esperando uma amiguinha?”. Eu respondi: “Deusa? Só se for da fertilidade, porque eu estou grávida.”
Mas a gravidez espantou os conquistadores baratos.
Agora, se eu passo em frente a uma obra, sou ignorada.
Percebi um certo lamento nisso?
É que, para as mulheres, as cantadas dadas pelos operários de uma obra servem como termômetro de quão sexy elas estão. Coincidência ou não, tenho me sentido um trubufu. Não entendo como há mulheres que se sentem no máximo da beleza durante a gravidez. Invejo todas elas.
Digo, em nome de nós, homens, seres quase desprezados no sistema gravidecional, que não há muita diferença. A barriga não é uma quebra estética tão radical que nos faça preferir o celibato.
Por outro lado, minha redondez tem sido celebrada pelas outras mulheres. Sei que, secretamente, muitas torciam para que eu engordasse feito uma ogra.
Ah, a velha rivalidade feminina…
Essa questão da barriga tem dois lados.
O de dentro e o de fora.
Não. O lado bom e o ruim. O ruim é que as mudanças do corpo ajudam a derrubar a autoestima. O bom é você ter a certeza que está avançando na gestação, porque há um certo exibicionismo da identidade maternal. Ou seja, eu estou no pico da fertilidade e no fundo do poço da estética convencional. É uma situação ambígua.
Ou, no caso da barriga, umbígua.