O sol não nasce para as hemorroidas
Barrigudos
Ninguém tem hemorroida. Ou, pelo menos, ninguém admite. Numa festa, você vê gente falando com naturalidade de dores nas costas, sobre problemas nos dentes, diabetes, colesterol alto, etc… Mas hemorroidas, nunca.
Tem gente que mostra a obturação nova, tem gente que mostra a cicatriz da operação de apêndice, mas ninguém vai mostrar aquele calombo que não vê a luz do sol.
Só que as pessoas têm hemorroidas. E as grávidas também.
Mas é claro que ninguém te conta isso. Ela é a vilã secreta da gravidez. Só vai descobrir quem tiver.
Nas capas de revista para pais você dificilmente verá uma manchete sobre o assunto (procuramos um bom tanto e não encontramos nada). O tema, quando aparece, fica na página de conselhos médicos, sem destaque.
É um assunto que entra pela porta dos fundos.
Maria, a mãe de Jesus, pode ter tido hemorroidas. A rainha Elizabeth também. E Angelina Jolie, com o peso da gravidez de gêmeos, mais ainda. Catherine Deneuve, Gisele Bundchen, Beyonce e até a presidenta Dilma Rousseff podem ter tido hemorroidas na gravidez. Mas nunca saberemos.
Eu tive. E pensei que era uma exceção. Nunca tinha tido isso. E, como ninguém fala que gravidez pode provocar hemorroidas, tomei um susto danado.
Nunca pensei que teria que sair em busca de uma almofada em forma de donut.
Um dia tomei coragem e comentei com algumas mães sobre o meu desconforto. Só então elas me contaram que tiveram hemorroidas em algum momento da gestação ou no pós-parto. Para minha surpresa, a maioria contou uma história sobre isso.
Mas é um assunto tão tabu que ninguém oferecia uma dica, nem apontava uma solução.
Teve a sua tia.
É verdade. Uma tia nonagenária, que já não tinha nada a perder, que já não se importava mais com falsos moralismos. Ela sugeriu um banho de assento com chá de mamona. E funcionou.
Mas você também usou os remédios receitados pela médica.
Ela explicou que aquilo acontecia porque a barriga já pressionava as veias da parte inferior do corpo. E me indicou dois remédios e meias de compressão para ajudar no retorno do sangue das pernas.
Eu só pude colaborar não tocando no assunto. Pensei em fazer um poema com rimas como meditabunda, furibunda, barafunda, iracunda e pudibunda. Mas desisti. Nestes momentos, a solidariedade há que ser profunda.
Para piorar, junto com as hemorroidas veio a azia.
E logo agora que o enjoo estava dando uma trégua. A gravidez parece um carro velho: quando você conserta uma coisa, outra dá problema.
A azia me obriga a ficar sentada, com o tronco alto, para evitar o refluxo. Já a hemorroida pede que eu fique com as pernas para cima. Não é uma posição muito fácil. Nem na ioga eu consegui isso. Acho que a saída é comprar um colchão em forma de “V”.