Grandes pequenos sustos
Barrigudos
Vou começar atacando: mulher grávida é cheia de frescura!
Eu não diria que somos frescas. Diria que ficamos mais cuidadosas. Talvez um pouco neuróticas. Ok, a gente fica louca demais.
Agora você consegue admitir, mas na hora do surto, não. Aí acredita piamente que vai abortar em dez segundos.
Você só está dizendo isso porque eu encanei com a epidemia de dengue. Custa, uma mulher no meu estado, evitar as áreas contaminadas?
O problema é que você considera o mundo uma área contaminada.
O mundo, não. Só todos os lugares aonde a gente vai.
Ficamos mais de um mês sem ir para Santos. E, quando fomos, eu não podia abrir a janela. Qualquer mosquito era um assassino em potencial.
Não sei identificar um mosquito que é portador de dengue de outro que não é. Eu não fico com uma lupa para ver se ele tem pintinhas brancas ou não.
Logo, todos são culpados. E dá-lhe repelente! Você ficou mais lambuzada que telefone de açougueiro. Pelo menos o cheiro era bom. O que tinha naquele negócio?
Cravo (muito cravo), óleo de amêndoas e álcool. Foi a receita de um repelente caseiro.
O pior é que não adiantou.
Levei uma picada enorme na mão, muito dolorida e surtei.
Até que enfim admitiu!
Achei que tinha pegado dengue. E que tinha sido uma irresponsável por usar um repelente caseiro, em vez de um com icaridina, aprovado para grávidas. Toda hora ia medir minha temperatura para ver se a febre estava começando.
Surpreendentemente, não deu em nada. Assim como aquela vez em que você carregou uma sacola pesada e achou que ia perder o bebê.
Nem adianta me provocar, porque, enquanto eu estiver grávida, vou evitar levantar peso. Ou carrego o bebê, ou carrego as sacolas.
Evitar peso, tudo bem. Mas até massagem virou uma coisa perigosa.
Vou explicar: comecei a fazer sessões de drenagem linfática para diminuir o inchaço das minhas pernas. Grávida nenhuma merece ter o pé em forma de pãozinho. E eu não queria ter que comprar um número maior de sapato para usar só por alguns meses.
Você está justificando a massagem, não o medo.
É que me avisaram muito que a drenagem linfática para grávidas tinha que ser suave, e não poderia mexer na barriga. As primeiras que fiz foram assim. Mas teve um dia que uma nova massagista me atendeu e o procedimento foi bem diferente.
Explica o diferente.
Primeiro, ela começou com movimentos muito fortes, como se estivesse mudando a musculatura das minhas pernas do lugar. Depois, ela usou um aparelho que parecia um rolo compressor. Tenho certeza que todas minhas células de gordura foram achatadas. Até aí, tudo bem. Ou médio. Mas, quando ela começou a fazer movimentos vigorosos em minha barriga, pedi que parasse. Ela se justificou, dizendo que fazia isso em várias outras grávidas. Achei estranho, e encerramos a massagem por ali.
Uma hora depois Rita estava no sofá, com os pés para cima, com medo de que fosse acontecer uma tragédia. É que ela tinha lido na internet, esta maldita fofoqueira, que uma drenagem linfática mal feita poderia causar um aborto.
Eu sentia dores no baixo ventre e na pélvis. Dores estranhas. Não tive sangramento, mas o bebê se mexia como nunca.
Isso é verdade. Ele parecia estar dançando axé. Mas não justifica o medo que você sentiu. Se bem que eu desconfio desse medo. Por causa dele tive que fazer tudo em casa, desde o jantar até pegar uma água. Você não levantava do sofá para nada. Pensei que fosse até me pedir um peniquinho.
Quase pedi. Eu sentia muita cólica ao andar. Fiquei bem quietinha mesmo. Pensei em ligar para a médica, mas estava sem seu número de celular. Mandei e-mail, mensagem pelo Facebook, e quase tentei sinais de fumaça.
Foi uma noite tensa. Mas não precisava. O nervoso acabou sendo mais incômodo que a massagem. Talvez até mais perigoso.
Na manhã seguinte falei com a médica e ela me tranquilizou. Percebi que tinha feito uma massagem modeladora, e agora estou mais atenta para escolher profissionais que tenham longa experiência com gestantes. Vi que a drenagem linfática pode ser um benefício quando bem executada, mas, nem todas as mulheres podem fazê-la, e deve ser conduzida com leveza.
Agora você fala com tranquilidade, mas, no próximo susto, aposto que teremos um novo drama.
Estar grávida é passar por grandes pequenos sustos.