Barrigudos

Em nome do filho

Barrigudos

Shakespeare já dizia que uma rosa teria o mesmo cheiro se tivesse outro nome. Mas se, em vez de se chamar William Shakespeare ele se chamasse Odroaldo Gilciclésio, ele talvez não estivesse sendo citado neste texto hoje. O nome faz diferença. Por isso é tão importante achar o nome certo para o seu filho.

Acredito que tanto eu quanto Torero temos que gostar do nome que dermos ao bebê.  Afinal, ele será uma das palavras que eu mais vou gritar na vida.

E a que eu mais vou escutar.

Curiosamente, nós tínhamos pelo menos cinco nomes engatilhados para o caso de o bebê ser uma menina. Mas ficamos numa sinuca de bico quando soubemos que vinha um menino.

Além de não termos nenhum nome na manga, inventamos algumas regras que deixaram a escolha ainda mais difícil.

A primeira foi o veto aos nomes duplos. Como sou Maria Rita e ele, José Roberto, sabemos que quem tem dois nomes não tem nenhum, porque cada pessoa nos chama de um jeito. Ora com só um dos nomes, ora com um dos nomes cortados pelo meio, misturando os dois e às vezes inventando um terceiro.

Outra regra é que não podíamos usar nomes de exes (exes é o plural de ex). Isso diminuiu muito nosso leque de ofertas, e não por minha causa.

Calúnias, Torero, calúnias…

Minha primeira opção, já que eu me chamo José e ela Maria seria… Jesus.

Barrabás!

Barrabás tem um som bonito. E seria uma boa propaganda para o meu livro “O Evangelho de Barrabás”, disponível nas melhores casas do ramo. Mas eu jamais faria merchandising.

Puxando a sardinha para minhas origens italianas, sugeri Lorenzo.

Mas eu tenho problemas com este nome por conta do filme “O óleo de Lorenzo”, que conta a história de um menino que sofre uma doença raríssima. No final, chorei feito um bezerro desmamado, ou como um torcedor que vê seu time cair para a segunda divisão.

Também gosto muito de Lucca.

É nome de cidade, não de gente.

E Lucas?

Jogou no São Paulo. Se é para colocar nome de jogador, vamos de Neylé, que mistura dois craques. Se você preferir, pode ser Peymar.

Acabo de criar uma nova regra, que nos impede de misturar nomes de jogadores.

Então vou criar uma que nos impeça de colocar nomes compridos.

Agora complicou. Não poderei chamar meu filho de Austregésilo ou Nicodemo?

Não. Mas podemos colocar nomes dos avós e bisavós. Ludovico, Giocondo, Altivo, Philúvio, Ariosto. Ou uma combinação de alguns deles.

Melhor deixarmos a família fora disso.

Eu gosto de nomes com tê, como Martim e Matias.

Martim é o nome de um parente distante, muito bigodudo, chato e com dentes amarelos. E Matias era o nome de um menino que me batia na escola.

Tá. E Eitor?

Só se for com agá. Heitor sem agá é como uma torrada sem geleia, como um brigadeiro sem granulado.

Sou contra o agá no começo de palavras. Eles não têm som, não servem para nada.

Eu acredito em homens com agá.

E Gael?

É perigoso. Rima com pastel e pinel. A gente tem que pensar no bullying que ele vai sofrer na escola.

Talvez a data do nascimento nos inspire. Se for em setembro, pode ser Setembrino. E se for no dia sete, pode se chamar Independêncio.

Só se, caso ele nasça em agosto, se chame Augusto.

Augusto é um nome muito convencido. Significa “majestoso”, “sublime”, “imponente”, “divino”, “venerável”.

Alguma outra ideia?

Nenhuma.

Então acho que nossa decisão vai ficar para a hora em que olharmos a cara do bebê.

Você prefere Joelhésio ou Joelhaldo?