Ser pai de prematuro na UTI é viver numa montanha russa
Barrigudos
Matias está na UTI neonatal. Já escutamos previsões muito diferentes sobre quanto tempo ele vai ficar por lá. De uma a seis semanas.
Mesmo por um dia, a UTI é uma montanha russa sentimental. A cada notícia ruim, você entra em depressão. A cada notícia boa, carnaval.
Matias nasceu bem, mas aos poucos teve que ir colocando apetrechos. Primeiro foi uma sonda que entra pela boca e vai até seu estômago, depois um cateter no braço para receber alimentação parenteral, luz para a icterícia (o que implica nuns óculos azuis), um tubo que empurra ar em suas narinas (que implica num gorro e em dois tubões, um vindo de cada lado do rosto), aí teve apneia e precisou de medicação, tem eletrodos no peito para monitorar a frequência cardíaca, uma botinha azul com fiozinho que não sei para que serve etc… Meu filho parece astronauta.
Só dá para ver o queixo com covinha.
A cada apetrecho colocado, você sente vontade de chorar. E às vezes chora mesmo.
Aliás, chora-se por vários motivos. Por exemplo, ao ver a enfermeira tirando sangue de um mãozinha tão pequena. E não tanto pela agulha, mas mais pelo fato de ele não reagir, não espernear, não berrar de dor e de protesto. Pode ser também o email sincero de um amigo ou uma mãe que cantarola uma música triste para a filha que está na incubadora ao lado.
De todas as tristezas, a mais triste ir para casa sem nosso filho. É uma frustração. Uma sensação de incapacidade, de impotência. Dá uma certa raiva do mundo. Você sabe que ninguém tem culpa, mas dá uma raiva geral, com foco indeterminado. Para piorar, a saída do hospital é cheia de burocracia. Na mesma hora em que temos que pagar todas as despesas (como se fôssemos fugir para a Toscana e deixar o nosso filho na UTI), tivemos que assinar os papéis da internação de Matias. A vontade é de trocar uns socos com o dono do hospital. Pelo menos aliviaria a raiva.
Mas o problema não é a saída do hospital. É chegar em casa. Ver aquele berço vazio é uma tristeza violenta. Você sente que abandonou o menino, pensa que nada tem justiça nem lógica.
Mas também há lágrimas de felicidade. E por coisas aparentemente pequenas. Por exemplo, anteontem ele recebeu pela primeira vez o leite da mãe e não houve problema. Foi uma festa. Quase estouramos uma garrafa de champanhe. Se bem que minha vontade era apertar os seios de Rita e ver o leite espirrar num jato imenso, molhando o teto, escorrendo pelas paredes e fazendo poças no chão. Mas seria desperdício. Todo o leite deve ir para Matias.
Os médicos avisam que esta montanha russa emocional vai durar até a saída de Matias do hospital. Mas, depois dele conseguir beber o leite materno, não consigo acreditar nisso. Penso que ele ficará cada dia mais forte, e daqui a pouco estará tão musculoso que vai arrebentar a incubadora, andar até a sala de espera da UTI e falar para nós com voz grossa: “Vamos embora, pessoal. Quero tomar um porre de leite lá em casa!”