Barrigudos

Arquivo : agosto 2013

O dia em que virei canguru
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É isso mesmo, eu virei um canguru!

Não um canguru muito típico, é verdade. Não estou na Austrália, não tenho aquelas orelhas enormes, nem aquele rabo comprido. Mas fiquei com Matias na minha barriga.

A técnica do canguru consiste numa série de medidas que visam ajudar na recuperação do bebê prematuro. A parte mais conhecida é deixar o bebê em contato com físico com o pai ou com a mãe. Eles ficam em nosso peito, mais ou menos como um filhote de canguru. E nunca por menos de uma hora.

Os especialistas dizem que ajuda a criança a ganhar peso, auxilia na produção de leite materno, diminui o impacto provocado pela prematuridade, cria vínculo afetivo etc…

Não tenho certeza dos benefícios que traz aos bebês, mas os pais sempre saem alegrinhos da sala depois de fazerem o canguru.

Matias também parece gostar muito. No começo ele até dá uns miadinhos, sons que eu traduzo como: “Isso é gostoso”, “Você é quentinho” e “Sua barrigona é bem macia, não emagreça nunca”.

O canguru é um jeito ficar mais perto dele. Um jeito dele ser mais meu. Um jeito de este pronome possessivo ser usado com mais autoridade.

Como Matias foi para a UTI logo que nasceu, nosso contato físico foi pequeno até agora. Se juntar todos os momentos em que o segurei no colo, deve dar menos do que um pai segura o filho recém-nascido em seu primeiro dia em casa.

O canguru, que também é chamado de pele-a-pele (no meu caso seria mais certo dizer pele-a-pelo), ajuda a diminuir esta distância. Eu posso sentir seu calor, a penugem nas suas costas, passar o dedo pelo seu narizinho arrebitado (como o da Rita), pelo seu queixo com covinha (como o da Rita) e pelo seu cabelo ralinho (como o meu).  

Algumas enfermeiras não deixam o bebê ficar em contato com os pelos do peito do pai. Outras dizem que é melhor assim. Por conta das primeiras, um pai chegou a depilar o peito. E nada de passar lâmina de barbear. Ele usou cera mesmo. Acho que colocar um paninho sobre o peito é mais prático. E dói menos.

Uma coisa divertida é ficar bem deitado na cadeira. Aí consigo sentir o peso de Matias. Um pesinho. Ele agora está com 2,07 kg.

Matias fica tão à vontade nesta posição que dorme em poucos segundos. E fica uma hora sem se mexer um milímetro. Só solta uns puns de vez em quando.

Fazer o canguru me deu uma boa ideia: Vou colocar Matias dentro de minha camisa e fugir com ele da maternidade. Se alguém perguntar, digo que engordei um pouco por causa da tensão. “Sabe como é, a gente fica comendo muito chocolate…”

Acho que colocarei meu plano em prática amanhã.

Tomara que os seguranças do hospital não leiam este blog.


Mães de bebês prematuros sofrem com falta de leite
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Logo que nasceu, Matias ficou alguns dias só com soro, porque seu pequeno estômago prematuro não conseguia enviar tudo ao intestino. Por isso fiquei contente quando soube que meu leite começaria a ir para ele.

Mas não foi fácil.

As primeiras vezes em um banco de leite são desesperadoras. Não porque somos sugadas por uma bomba. Mas porque não sai nada.

É que, quando nasce um bebê prematuro, também nasce uma mãe prematura. E assim eu precisei de alguns dias de estimulação da bomba elétrica de sucção para que o colostro começasse a descer.

Não era um volume graaaaande, mas Matias começou tomando apenas 2 ml de leite por mamada. Então não havia problema.

Era um mix de felicidade e estranheza. Estava feliz porque, com o leite materno, Matias passaria a receber anticorpos, seus leucócitos (que estavam baixos) aumentariam e eu tinha a certeza de que ele começaria a melhorar. Mas me senti estranha porque ele mamaria através de uma sonda.

Nossa rotina no banco de leite é estranha. No hospital em que estou, a ordenha (sim, este é o termo oficial) acontece quatro vezes por dia, de três em três horas.

Tudo começa numa antessala, onde lavamos e higienizamos as mãos com álcool-gel. Depois vestimos nossos uniformes: avental azul, touca e máscara brancas (nos primeiros dias eu só conhecia as outras mães de UTI pelos olhos). Depois entramos na sala da ordenha. Ali somos novamente lavadas, desinfetadas e vamos para as baias. Como as de um escritório.

Ou como as de um estábulo de ordenha.

Em cada baia há uma bomba elétrica de sucção. Nela, gastaremos dois minutos na velocidade mínima, oito na média e cinco na máxima. A máxima pode machucar muito os mamilos. Mas dizem que o poder de sucção de um bebê é ainda maior. Infelizmente ainda não sei se é verdade.

O leite é depositado em vidros esterilizados. Há os de 70 ml e os de 150 ml. Dá muito desespero quando pego o vidro maior, porque parece que ele não enche nunca. Esse vidro me deprime. Prefiro pegar o de 70 ml e vê-lo cheio.

Algumas mulheres possuem muito leite e a mama fica dolorida. O apelido carinhoso dessas mães é “mimosa”. Elas precisam alugar, ou comprar, uma bomba, e tirar leite mais uma ou duas vezes em casa, senão ele empedra, o que dói muito. E não podem emprestar o excedente, porque cada criança recebe o leite de sua própria mãe.

Os meus seios doeram bastante nos primeiros dias. Depois aprendi a fazer uma massagem de “desempedramento” enquanto sou sugada pela bomba. O mantra é: “Onde dói, você tem que apertar”. Vai machucar, mas depois alivia, porque o leite escoa.

Isso me fez entender as mulheres que desistem de amamentar. Mas, depois que vi o quanto Matias melhorou com o leite materno, acho que vale sentir toda esta dor pelo filho.

Também vi que há mulheres que não sentem nada. E outras só vão sentir dor quando o bebê começa a mamar no peito. Não há regra.

Uma questão delicada é a contagem dos mililitros. O prematuro começa recebendo muito pouco leite. Então você facilmente produz o bastante para alimentar seu bebê. Mas aí, aos poucos, eles vão tomando mais leite. Matias começou com 2ml. Depois foi para 4, 8, 9, 12, 15, 20, 30 e agora está em 35ml. Como ele faz oito mamadas, são 280 ml por dia. E eu ainda não forneço tudo isso. Ele tem que complementar com leite artificial. Tenho a sensação de falhar como mulher e mãe. Mesmo com os médicos dizendo que estou produzindo uma quantidade normal para as circunstâncias.

O leite virou minha obsessão. O pior é que, quanto mais eu fico nervosa com isso, menos o leite desce. E quanto menos o leite desce, mais nervosa eu fico.

Todos dizem que a lactação aumenta quando o bebê começa a mamar no peito. Matias já está tentando. Mas ele ainda é muito pequeno e dorme depois de duas sugadas.

O meu maior medo é o leite secar antes de Matias aprender a mamar.