Barrigudos

Meu filho é um radical de direita!

Barrigudos

O título acima não é relativo à posição política de Matias. Não, não é que ele acredite na Veja ou vote no Jair Bolsonaro. Seu radicalismo de direita é relativo à sua posição pescoçal.

Por conta de certas coincidências, ele olha muito mais para a direita do que para a esquerda. É que os dois berços – o do quarto dele e o do nosso -, mais o trocador estavam arrumados de modo que ele olhasse mais para a direita. Provavelmente fizemos isso porque assim usaríamos melhor a mão direita, e tanto eu quanto Rita somos destros.

Mas, quando fomos à médica, ela percebeu que Matias estava olhando mais para a direita. E seu movimento de pescoço para a esquerda estava até meio tímido, meio enferrujado.

Mal voltamos para casa e começamos uma mudança de posição radical. Tal qual Teotônio Vilela (que até virou música cantada por Milton Nascimento), trocamos a direita pela esquerda.

Invertemos o trocador e um dos berços, de modo que ficássemos sempre do seu lado esquerdo, e ele tivesse que forçar um pouco mais o pescoço para este lado. Além disso, sempre que lembramos damos a mamadeira com sua cabeça apoiada no nosso lado direito. E, mesmo quando colocamos Matias para arrotar, tentamos fazer com que ele apoie sua cabeça de um jeito que fique olhando à esquerda.

Essa inversão foi um tanto complicada para nós. Antes, para trocar Matias tínhamos o braço direito mais livre. Agora a mão esquerda é quem tem que trabalhar mais. Rita diz que sente que sua mão esquerda é enorme. Eu acho que a minha tem um monte de dedos que ficam dando nós entre si.

Dar a mamadeira com a mão esquerda é mais complicado. E passar o Bepantol com o indicador canhoto também não é fácil. Já não me sinto um hábil sushiman passando wasabi num salmão. Estou mais para uma criança tentando colorir um desenho, mas pintando mais fora do que dentro.

Mas nosso esforço não foi em vão. Em uma semana ele já ganhou mais mobilidade quando vira à esquerda. Antes seu pescocinho nem fazia a virada de noventa graus. Ficava nos quarenta e cinco, e olhe lá. Agora já estamos nos setenta e cinco, se bem me lembro das aulas de geometria. E, de vez em quando, Matias já escolhe ficar virado para o lado esquerdo espontaneamente, o que nunca acontecia.

Nestes tempos em que todo mundo se diz de esquerda, mas ninguém é de verdade, é bom saber que pelo menos Matias está se voltando para o lado do coração.