Barrigudos

O ataque da múmia bege!
Comentários Comente

Barrigudos

“É um cavaleiro medieval? É o Homem de Ferro? Não! É a Rita!”

Torero está dizendo isso porque, nesta altura da gravidez, eu tenho que usar tantos aparatos que mais pareço aquele bonequinho da Michelin.

Você anda tão enrolada que parece uma múmia. Vou começar a te chamar de Ritankâmon!

Meu uniforme de sobrevivência gravídica começa com meias de compressão. Mas não estou falando daquelas meinhas três quartos. Falo das sete oitavos, que cobrem do dedão até o fim da coxa.

Quando elas são pretas e têm uma rendinha, são bacanas. Mas as suas…

São beges, a cor menos sexy do planeta, e têm uma textura pouco agradável, o que deixa as minhas pernas parecendo de plástico. Uma beleza…

E ainda por cima são difíceis de colocar.

É como vestir uma calça jeans dois números menor. Mas a meia é só o começo dos meus problemas de vestuário. Em seguida vem a supercalcinha. Ela é maior, mais alta e, é claro, bege. Parece que assaltei a gaveta da minha avó.

Tem também a faixa. Pensei que você ia começar a lutar sumô. Com a barriga já estava parecida. Com a faixa, ficou igualzinha.

Eu sabia que uma hora você ia usar minha barriga contra mim. Pois fique sabendo que esta faixa me ajuda a segurar o peso do bebê.

E também é bege. Combina com o resto.

Inclusive com o sutiã especial, que mais parece com um top. Como os seios aumentam bem durante a gravidez, a gente precisa buscar conforto longe das rendas e armações.

Em vez de Victoria’s Secret, é um modelo Victoria’s Support.  

Com todas essas coisas, parece que eu estou usando uma armadura bege. Por quê? Por quê? Por que os fabricantes de acessórios íntimos para grávidas adoram bege? Eu odeio. Quando eu me vejo bege, fico roxa de raiva. E bege e roxo não combinam!

Mas só eu vejo sua begice.

Pois é, mas todo mundo vê os complementos da armadura. Por exemplo, a calça de grávida que tem grandes faixar elásticas para acompanhar o crescimento do bebê.

Dessa eu gostei. Até estou pensando em comprar uma. É muito prática para ir em churrascos.

Por cima dela vem uma daquelas batinhas, que nem sempre são um primor de alta costura. E podem adicionar facilmente uns cinco quilos a uma silhueta já inchada. Efeito botijão de gás.

Até agora já cobrimos pés, pernas, baixo abdômen, cintura, seios e o resto do tronco. Só o rosto ficou livre.

Nem tanto, José Roberto. Você tem que lembrar que eu tenho passado uma espécie de cimento, digo, protetor solar para tentar conter as fatídicas manchas que aparecem na gravidez. Quando passo demais, meu rosto fica até esbranquiçado. Pareço uma vampira do Crepúsculo.

Seu protetor tem um fator tão alto que deve ser à prova de balas. E leva um tempão para aplicar.

Você reclama que eu tenho demorado mais para me arrumar. Mas não imagina o tempo que eu gasto para colocar todo este arsenal.

O Batman punha colã, máscara, capa e cinto de utilidades bem rápido. Era o tempo de descer num poste de bombeiro.

Por causa dessa pressa toda é que ele sempre colocava a cueca por cima da calça. Não seria um bom exemplo para o nosso menino-prodígio. Prefiro continuar demorando.

 


Cantigas aterrorizantes de ninar
Comentários 3

Barrigudos

Um amigo falou que aos sete meses o bebê já escuta o que falamos, e contou que cantava músicas de ninar para seu filho na barriga da mãe. E depois do nascimento, quando cantava para ele dormir, a música fazia muito efeito.

O curioso é que o Torero nunca gostou muito dessa ideia de falar com o bebê na barriga. Ele fazia uma cara de descrença e falava qualquer bobagem para o bebê, tipo: “Se você está me ouvindo, chute três vezes”.

Mas a chance de a música de ninar ser um sonífero natural fez com que eu reconsiderasse meu ceticismo. Pigarreei, fiz cara de Pavarotti e mandei: “Boi, boi, boi da cara preta, pega esse menino que tem medo de careta…”

– Ah, não! – eu protestei. – Pode ir para lá com essa cantoria de medo.

– Mas é só uma melodia. Ele ainda não sabe falar.

– É assim que você começa a incutir medo na criança.

Pensando bem, a música falava contra a natureza (o boi) e tinha um fundo racista (o boi tem a cara preta). Escolhi outra peça do meu repertório e mandei: “Dorme, neném, que a Cuca vem pegar. Papai foi na roça, mamãe foi trabalhar.”

– Essa também não. Por causa dessa música, eu me escondia atrás do sofá quando a Cuca aparecia no Sítio do Pica-Pau Amarelo. Sem contar que sugere que o bebê tem que dormir porque ele foi abandonado pelo pai e pela mãe, mesmo que por causa do trabalho.

Nem argumentei contra. Só limpei a garganta, botei minha boca perto do umbigo de Rita e cantei: “Atirei o pau no ga-to-tô, mas o ga-to-tô não morreu-reu-reu, dona Chica admirou-se-se do berro que o gato deu: miau!”

– Isso, Torero, vamos ensinar o nosso filho, desde o útero, a maltratar os animais.

– Mas o gato não morreu.

– Também não morre quando puxam o rabo, cortam os bigodes…

– Eu tinha cinco anos quando cortei os bigodes da Giane. Não é justo você jogar isso na minha cara!

– A gente tem que criar os filhos para serem melhores do que a gente!

Como não luto contra pontos de exclamação, escolhi outra música: “Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar”. Como vi que Rita não tinha protestado, continuei: “O anel que tu me deste era vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou.”

– Isso, vamos dar a impressão de que o mundo é cheio de falsidade, de anéis de vidro e não de diamante. E para piorar vamos passar a ideia de que o amor é algo frágil, que se acaba. Que segurança ele vai ter ouvindo isso do próprio pai desde o útero?

– Tá bom…

– Não tem uma música de coelhinho?

– Coelhinho, se eu fosse como tu, tirava a mão do bolso e…

– Não, essa não!

Desisti das cantigas de ninar e mandei: “Nossa, nossa, assim você me mata. Ai se eu te pego, ai, ai se eu te pego…”

– Vamos subir o nível. Que tal uma MPB?

Apelei para o Chico Buarque: “Olha aí, ai, o meu guri, olha aí, olha aí, é o meu guri, e ele chega…”

– Para, para! Já estou ficando com vontade de chorar. Essa música acaba comigo. A realidade dos meninos de rua é muito dura…

– Eu desisto! 

– E se a gente tentasse os clássicos, como Mozart e Bach?

– Eu não sei cantarolar estas coisas. Meu limite é “Boi, boi, boi da cara preta, pega essa menina que tem medo de careta…”

– Tá bom, canta o que você quiser e depois a gente conserta nosso filho com terapia. E me passa aquele tapa-ouvidos.


Ser pai é padecer em casa
Comentários 1

Barrigudos

Dizem que ser mãe é padecer no paraíso. E o pai? Padece onde? Ou não padece? Claro que padece! E até antes de ser pai. O pai antepadece.

Por exemplo, estes dias Rita está doente. Logo, eu faço tudo. Hoje de manhã saí para comprar pão, lavei louça, fui à farmácia, marquei o próximo ultrassom (fazendo um bico de secretária) e esquentei o almoço.

Conjuguei a trilogia “lavar, passar e cozinhar”. Acho até que escreverei um livro sobre o assunto. Será um novo best-seller, substituindo “Comer, rezar e amar”.

Estou semimorta na cama, e é Torero quem me acorda para me dar remédio, às vezes à uma da manhã, e me leva alimento.

Se eu trabalhasse fora de casa seria um problema. Por sorte, sou escritor e meu escritório fica na mesa da sala.

 Grávidas não podem tomar qualquer medicamento. Então a cura pode demorar mais. Eu tive que trocar de remédios duas vezes. Durante todo o tempo, Torero teve que medir minha temperatura, avaliar pelo meu rosto se eu estava com mais ou menos dor, checar pressão e batimento cardíaco, enfim, tudo o que uma mãe faria.

O pai é a mãe da mãe quando a mãe está doente.

 Esta definitivamente não é uma posição confortável para o homem. Mas às vezes ela é necessária. E é respeitável quem aceita fazer este papel.

 Acho que hoje em dia isto está mais comum. Pais estão assumindo parte do que eram atividades exclusivamente maternas. Nos sábados e domingos pela manhã, quando vou tomar café na padaria, vejo vários pais sozinhos com seus filhos. Uma mente mais maldosa talvez tenha pensado: “Devem ser pais divorciados”. Mas não. Pelo que ouço das conversas com seus filhos, eles optaram vir tomar café na padaria e deixar a mãe dormindo.

O cuidar deixou de ser exclusividade da mãe.

A maternidade deixou de ser exclusividade da mãe. É só ver que, no começo do Barrigudos, eu quase não escrevia. Mas agora os textos estão bem mais azulados do que antigamente. Ainda escreverei um blog chamado Papatraca.

Estes dias você foi um super-herói.

Só se for o Bolsa-de-água-quente-Humana, o homem-termômetro, ou o Super-Kleenex.

Torero passou de coadjuvante a protagonista esta semana.

Mas não faço nenhuma questão disso. Minha especialidade é a coadjuvância (se é que esta palavra existe). No cinema, nos meus filmes e nos de amigos, já fiz papel de motorista, de atropelado, de público de boxe e de motoqueiro. Só neste último tive uma fala: “Ciao, bela”. E fui péssimo. Nasci para ser o Tonto e não o Zorro. Por isso, fique boa logo!


Matando a saudade na cama!
Comentários 1

Barrigudos

 

Depois de duas semanas separados, eu e Rita matamos nossa saudade ficando vários dias na cama. Mas não é o que você está pensando. É o contrário.

Torero chegou na segunda-feira com uma febre de 38,5º.C.

É uma doença que chamo de folhite. Desde que entrei na Folha de S.Paulo, no longínquo ano de 1987, quando os computadores só tinham letras verdes, eu fico doente depois de um trabalho longo.

Mal entrou em casa, Torero foi para cama e lá ficou. Nem a minha famosa canjinha ele quis.

Só fui levantar da cama 36 horas depois. Acordava, comia alguma coisa, tomava remédios e voltava a dormir. O problema é que eu estava espalhando meus germes pela casa. A cada espirro lá iam os malditos dançando pelo ar. E quem eles foram encontrar?

Eu! Grávida e com a resistência baixa, fui uma presa fácil.

Logo estávamos os dois de cama. Agora sei que eu deveria ter ido para nosso apê em Santos, sem colocar a Rita em risco. Mas é difícil pensar com febre.

Por outro lado, eu estava preocupada e queria cuidar dele. Não sei se teria topado ele ir para Santos.

Eu iria do mesmo jeito! Me arrastando pela Imigrantes, deixando um fio viscoso pelo caminho, assim como os caracóis.

Não faça drama. No fundo, eu sempre achei que grávida tivesse uma aura de proteção, como se nada pudesse acontecer com a gente.

Mas é o contrário. As grávidas são um convite aos vírus, fungos e bactérias.

Depois de uns dias comecei a me sentir baqueada, como num começo de gripe. Veio a dor de cabeça, a dor de garganta, a taquicardia, e uma dor nas costas, na região lombar, insuportável. Eu não conseguia sentar, não conseguia deitar e não podia ficar de pé. Para piorar, minha barriga ficou muito dura e eu sentia que o bebê se mexia pouco.

O desespero total veio quando tive um pequeno sangramento.

Corremos para a médica. Se bem que “corremos” talvez não seja o termo certo. Gripados, nós nos mexíamos em câmera lenta, feito bichos-preguiça, zumbis ou deputados na quinta-feira.

Chorei de dor e de medo. De novo pensei que meu bebê estava em risco. Eu sabia que alguma coisa não estava certa.

Levamos mais ou menos uma hora para sermos atendidos. Ou três mil e seiscentos segundos. Cada um bem lento e tenso.

O exame mostrou que uma simples gripe evoluía para uma pneumonia. O bebê também estava sentindo isso. O líquido amniótico baixou e o batimento cardíaco estava muito acelerado. Tive que tomar antibiótico, analgésico e ficar em repouso. Minha médica explicou que a terrível dor lombar que eu sentia, e a pressão na barriga, são típicas do trabalho de parto.

Rita ganhou uma amostra grátis do que vai sentir daqui a dois meses.

Se a medicação não funcionasse em 24 horas, teria que ir para o hospital. Com risco de parto prematuro.

Mas parece que deu certo. Enquanto escrevemos este texto, com os dois espirrando lado a lado, num batuque mal ritmado e meio úmido, vejo que Rita já está com uma cara bem melhor.

Para uma grávida, nada é simples. Nem gripe.

Agora chega de escrever e vamos para a cama! Dormir e tossir, é claro.

 

 


Como é triste a separação durante a gravidez (versão feminina)
Comentários 6

Barrigudos

 

Hoje é minha vez de escrever sozinha. E vou contar como foi ficar separada durante a gravidez. Mesmo que tenha sido apenas uma separação geográfica.

Logo que o Torero viajou por duas semanas para cobrir a Copa das Confederações, pensei: “Vou aproveitar esse tempo sozinha para fazer várias coisas que ele não gosta”. Então aluguei filmes “de mulherzinha”, bati perna no shopping, troquei o queijo prato por cottage e marquei uma sessão de spa em casa com as amigas, com direito a touca térmica e máscara facial verde.

A diversão durou dois dias. Depois disso, bateu a estranheza de estar separada.

A casa ficou vazia e a geladeira, cheia. Foi estranho ter o controle remoto da TV só pra mim. E, curiosamente, passei a me atrasar para os compromissos, porque agora eu já não tinha mais quem me apressasse.

Além disso, comecei a sentir uma pressão danada para dar conta de tudo sozinha: trabalho, casa, reforma do quarto do bebê, último trimestre da gravidez. Fora as noites mal dormidas por conta do refluxo, o cansaço geral e o barrigão, que agora já incomoda para andar. Até passei a ter falta de ar. Eu fiquei exausta.

O jeito foi racionalizar esforços. Ida ao supermercado? Só na falta de comida e papel higiênico. Padaria? Um luxo desnecessário. Que saudades do pão quentinho que Torero traz pela manhã…

Ficou claro para mim que gravidez é parceria. Uma grávida precisa de apoio e ponto. Seja ele qual for. Deixo aqui meu profundo respeito a quem encara ou encarou a gestação de forma mais solitária. Não é fácil.

A barriga crescia mais do que nunca e eu não podia mostrá-la ao Torero. O bebê chutava forte, se mexia de um jeito diferente, e ele não estava lá para sentir. Foi chato.

Mas pior mesmo foi quando ele me contou que não tinha passado bem. Em uma conversa com vídeo por Skype ele apareceu com olheiras profundas e estava levemente esverdeado. Vi que ele sofria, apesar de jurar que estava melhor. Torero mente mal.

Pensamentos dramáticos surgiram, turbinados pelos hormônios loucos da gravidez: “E se ele estiver com algo mais sério e não quer me preocupar? E se ele piorar enquanto estiver sozinho? Como ajudá-lo estando tão longe?”

Pensei em pegar um avião e ir até ele, em Recife, mas já estou proibida de voar. Cotei até passagem de ônibus, mas eu demoraria demais para chegar e a viagem longa, na minha situação gestacional, poderia provocar um parto prematuro.

Eu sentia que o Torero precisava de cuidados e ao mesmo tempo eu não podia descuidar desse serzinho que é fruto de nós dois. Fiquei entre a cruz e a espada. Ou melhor, entre o marido e o bebê. Foi horrível.

Por sorte, era uma infecção viral e ele vem se recuperando aos poucos. Mas ainda não está 100% bem. Só voltará da Copa um pouco mais animado, por conta da vitória do Brasil.

Agora faltam poucas horas para Torero chegar em casa. Ainda bem que tudo não passou de um susto. Só serviu para sentir na pele que separação na gravidez é muito triste.


Como é triste a separação durante a gravidez (versão masculina)
Comentários 3

Barrigudos

Hoje escreverei sozinho. E sobre um assunto triste. É que eu e Rita estamos separados há uns dez dias. Não, não é um divórcio. É uma separação geográfica.

Como estou cobrindo a Copa das Confederações para a Folha de S.Paulo, ando viajando muito. Hoje, por exemplo, estou indo de Fortaleza ao Rio de Janeiro, para ver a final. É claro que isso é divertido. Mas também causa uma certa ansiedade ficar longe da barriga de Rita. Sinto que estou perdendo alguma coisa, que não estou ajudando o quanto podia.

Mas a sensação mais terrível foi quando desmaiei. Ou quando acordei do desmaio. Explico:

Eu estava viajando de Salvador para Recife. Mal o avião levantou voo, comecei a suar gelado. Tirei a blusa que levo por conta do ar condicionado e fiquei só de camiseta, mas não adiantou. Continuei suando. Resolvi ir ao banheiro. Quando estava no corredor, me deu algo como uma preguiça imensa, um sono instantâneo, e eu desabei. Mas só percebi isso quando abri os olhos e vi a aeromoça me perguntando: “O senhor está bem?”. Nem consegui responder, o que em si já era uma resposta.

Fui levado até o chão perto da cabine, onde continuei deitado, com as pernas levantadas sobre uma dos assentos das comissárias. Minha camisa estava empapada de suor. A enfermeira perguntou pelo microfone se havia um médico a bordo. Para minha sorte, havia uma médica e uma enfermeira. Equipe completa.

Quando consegui pensar um pouco, me perguntei: “O que será que eu tenho? Será que eu vou morrer antes de ver o meu filho? Que droga! Quem mandou esperar tanto?”

Enquanto a médica checava minha pressão e a enfermeira procurava uma veia para me por no soro, eu continuava a ter pensamentos tétricos: “E se eu estiver muito doente e nem puder voltar para São Paulo? Será que Rita vem para cá, ter o bebê aqui? E se eu não sobreviver nem três meses? Será que é leucemia? Um tumor no cérebro?”

Foram pensamentos um tanto dramáticos, eu sei. Mas nunca tinha desmaiado antes. E é um tanto assustador você apagar de repente, ficar sem domínio do corpo. O engraçado é que não pensava no terrível que é morrer, pensava no terrível que seria morrer sem conhecer meu filho, sem ver a cara do cara. Tinha chegado tão perto… Faltavam só umas dez semanas… Seria uma grande injustiça.

Então ativei meus poderes de recuperação de Wolverine, que foram ajudados por um tanto de glicose dado pela doutora Michele, e fui melhorando aos poucos.

Continuei deitado até quase o fim do voo. Mas sempre pensando que não iria cumprir minha obrigação de cuidar do pequeno. E nem teria o prazer de pegá-lo no colo.

Chegando em Recife, fiz os exames. Não era um tumor no cérebro, mas uma reles infecção viral.

Agora não vejo a hora de voltar para casa e esperar junto com a Rita. Pode parece que esperar, ainda mais para o homem, é não fazer nada. E talvez não seja mesmo. Talvez seja só ficar ali do lado. Mas isso já é bem bom.

 


Miami é aqui. Ou logo ali.
Comentários 6

Barrigudos

A moda é comprar o enxoval do bebê em Miami.

Um tanto pelo glamour, outro tanto pelo preço baixo.

Mas o que poucos sabem é que existe uma Miami aqui mesmo.

Ou melhor, ali. Em Pernambuco. E conhecemos o lugar por acaso.

Torero participou do CinePE e aproveitamos para visitar uma escola que tinha lido os seus livros.

Essa escola fica em Santa Cruz do Capibaribe, no agreste pernambucano, a três horas de Recife.

Lendo sobre a cidade, descobrimos que ela possui o maior parque de confecções da América Latina e um grande pavilhão de 120 mil metros quadrados (o tamanho de 12 campos de futebol), com mais de 10 mil lojas.

Em dias de grande movimento, cem mil pessoas circulam por ali. Essa indústria fez a cidade crescer muito. Saltou de vinte mil para cem mil pessoas em menos de uma década.

No começo, ela era conhecida como Feira da Sulanca. As roupas eram feitas com elanca trazida do sul.

Mas eram de baixa qualidade. Com o tempo, a cidade atraiu indústrias de tecido e confecções, que foram se sofisticando e hoje atendem até o exigente mercado internacional.

Famílias inteiras se mudaram para lá em busca de riqueza. E têm conseguido. Uma simples costureira ganha cinco mil reais por mês. É uma espécie de Serra Pelada, só que de roupas.

Então é uma Serra Vestida.

Só que a indústria de confecções está consolidada e não vai acabar como o ouro.

Depois da palestra para as crianças resolvemos dar um pulo até lá, só para conhecer.

Começamos comprando algumas roupas para dar de presente, até que descobrimos que havia coisas para bebês e num preço inacreditável.

Aí Rita enlouqueceu.

Bodies e culotes a R$ 5, camisas polo de criança a R$ 3, macacões, meias, luvinhas, sapatinhos, kits-berço, jogos de lençol, cobertores, mantas, casaquinhos, saídas de maternidade, malas, tudo lindinho para os olhos e para o bolso.

Eu até fiquei por ali no começo das compras, mas depois de algum tempo desisti e fui comprar umas camisas de times de futebol (elas custavam quinze reais, em vez dos duzentos que estão custando as da seleção). Quando voltei à loja em que tinha deixado a Rita, ela estava atrás de uma montanha de roupas. Pensei que ela estava escolhendo. Mas não, aquela era a nossa compra.

Fui mostrando para o Torero as coisas que eu tinha escolhido. Ele também achou tudo lindo e barato. Só que tínhamos um problema: como levaríamos tudo aquilo?

A saída foi comprar uma mala. A maior que encontramos.

Lamentei não ter levado minha lista de enxoval, porque poderia ter comprado tudo ali.

Ainda falta alguma coisa?

Sempre falta. Criança perde tudo muito rápido.

Se você quer comprar roupas baratíssimas, não precisa gastar uma passagem para Miami. Pode ir até Recife, que é um lugar muito agradável, e dar um pulo em Santa Cruz do Capibaribe. A cidade não exige visto de entrada, você não precisa ser humilhado na alfândega, as atendentes falam português e recebem em reais.

Não se iluda, porém, que você encontrará por lá uma Miami nos detalhes do glamour. A estrutura é popular, os banheiros deixam a desejar  e o local é focado apenas em confecção, ou seja, carrinhos de bebê, berços e afins ficam de fora da lista de compras. Mas você ainda pode dar uma passadinha em Caruaru, que fica no caminho, onde tem a feira mais doida do mundo.

Chega de compras, Rita!


Em nome do filho
Comentários 5

Barrigudos

Shakespeare já dizia que uma rosa teria o mesmo cheiro se tivesse outro nome. Mas se, em vez de se chamar William Shakespeare ele se chamasse Odroaldo Gilciclésio, ele talvez não estivesse sendo citado neste texto hoje. O nome faz diferença. Por isso é tão importante achar o nome certo para o seu filho.

Acredito que tanto eu quanto Torero temos que gostar do nome que dermos ao bebê.  Afinal, ele será uma das palavras que eu mais vou gritar na vida.

E a que eu mais vou escutar.

Curiosamente, nós tínhamos pelo menos cinco nomes engatilhados para o caso de o bebê ser uma menina. Mas ficamos numa sinuca de bico quando soubemos que vinha um menino.

Além de não termos nenhum nome na manga, inventamos algumas regras que deixaram a escolha ainda mais difícil.

A primeira foi o veto aos nomes duplos. Como sou Maria Rita e ele, José Roberto, sabemos que quem tem dois nomes não tem nenhum, porque cada pessoa nos chama de um jeito. Ora com só um dos nomes, ora com um dos nomes cortados pelo meio, misturando os dois e às vezes inventando um terceiro.

Outra regra é que não podíamos usar nomes de exes (exes é o plural de ex). Isso diminuiu muito nosso leque de ofertas, e não por minha causa.

Calúnias, Torero, calúnias…

Minha primeira opção, já que eu me chamo José e ela Maria seria… Jesus.

Barrabás!

Barrabás tem um som bonito. E seria uma boa propaganda para o meu livro “O Evangelho de Barrabás”, disponível nas melhores casas do ramo. Mas eu jamais faria merchandising.

Puxando a sardinha para minhas origens italianas, sugeri Lorenzo.

Mas eu tenho problemas com este nome por conta do filme “O óleo de Lorenzo”, que conta a história de um menino que sofre uma doença raríssima. No final, chorei feito um bezerro desmamado, ou como um torcedor que vê seu time cair para a segunda divisão.

Também gosto muito de Lucca.

É nome de cidade, não de gente.

E Lucas?

Jogou no São Paulo. Se é para colocar nome de jogador, vamos de Neylé, que mistura dois craques. Se você preferir, pode ser Peymar.

Acabo de criar uma nova regra, que nos impede de misturar nomes de jogadores.

Então vou criar uma que nos impeça de colocar nomes compridos.

Agora complicou. Não poderei chamar meu filho de Austregésilo ou Nicodemo?

Não. Mas podemos colocar nomes dos avós e bisavós. Ludovico, Giocondo, Altivo, Philúvio, Ariosto. Ou uma combinação de alguns deles.

Melhor deixarmos a família fora disso.

Eu gosto de nomes com tê, como Martim e Matias.

Martim é o nome de um parente distante, muito bigodudo, chato e com dentes amarelos. E Matias era o nome de um menino que me batia na escola.

Tá. E Eitor?

Só se for com agá. Heitor sem agá é como uma torrada sem geleia, como um brigadeiro sem granulado.

Sou contra o agá no começo de palavras. Eles não têm som, não servem para nada.

Eu acredito em homens com agá.

E Gael?

É perigoso. Rima com pastel e pinel. A gente tem que pensar no bullying que ele vai sofrer na escola.

Talvez a data do nascimento nos inspire. Se for em setembro, pode ser Setembrino. E se for no dia sete, pode se chamar Independêncio.

Só se, caso ele nasça em agosto, se chame Augusto.

Augusto é um nome muito convencido. Significa “majestoso”, “sublime”, “imponente”, “divino”, “venerável”.

Alguma outra ideia?

Nenhuma.

Então acho que nossa decisão vai ficar para a hora em que olharmos a cara do bebê.

Você prefere Joelhésio ou Joelhaldo?

 


Grandes pequenos sustos
Comentários 2

Barrigudos

Vou começar atacando: mulher grávida é cheia de frescura!

Eu não diria que somos frescas. Diria que ficamos mais cuidadosas. Talvez um pouco neuróticas. Ok, a gente fica louca demais.

Agora você consegue admitir, mas na hora do surto, não. Aí acredita piamente que vai abortar em dez segundos.

Você só está dizendo isso porque eu encanei com a epidemia de dengue. Custa, uma mulher no meu estado, evitar as áreas contaminadas?

O problema é que você considera o mundo uma área contaminada.

O mundo, não. Só todos os lugares aonde a gente vai.

Ficamos mais de um mês sem ir para Santos. E, quando fomos, eu não podia abrir a janela. Qualquer mosquito era um assassino em potencial.

Não sei identificar um mosquito que é portador de dengue de outro que não é. Eu não fico com uma lupa para ver se ele tem pintinhas brancas ou não.

Logo, todos são culpados. E dá-lhe repelente! Você ficou mais lambuzada que telefone de açougueiro. Pelo menos o cheiro era bom. O que tinha naquele negócio?

Cravo (muito cravo), óleo de amêndoas e álcool. Foi a receita de um repelente caseiro.

O pior é que não adiantou.

Levei uma picada enorme na mão, muito dolorida e surtei.

Até que enfim admitiu!

Achei que tinha pegado dengue. E que tinha sido uma irresponsável por usar um repelente caseiro, em vez de um com icaridina, aprovado para grávidas. Toda hora ia medir minha temperatura para ver se a febre estava começando.

Surpreendentemente, não deu em nada. Assim como aquela vez em que você carregou uma sacola pesada e achou que ia perder o bebê.

Nem adianta me provocar, porque, enquanto eu estiver grávida, vou evitar levantar peso. Ou carrego o bebê, ou carrego as sacolas.

Evitar peso, tudo bem. Mas até massagem virou uma coisa perigosa.

Vou explicar: comecei a fazer sessões de drenagem linfática para diminuir o inchaço das minhas pernas. Grávida nenhuma merece ter o pé em forma de pãozinho. E eu não queria ter que comprar um número maior de sapato para usar só por alguns meses.

Você está justificando a massagem, não o medo.

É que me avisaram muito que a drenagem linfática para grávidas tinha que ser suave, e não poderia mexer na barriga. As primeiras que fiz foram assim. Mas teve um dia que uma nova massagista me atendeu e o procedimento foi bem diferente.

Explica o diferente.

Primeiro, ela começou com movimentos muito fortes, como se estivesse mudando a musculatura das minhas pernas do lugar. Depois, ela usou um aparelho que parecia um rolo compressor. Tenho certeza que todas minhas células de gordura foram achatadas. Até aí, tudo bem. Ou médio. Mas, quando ela começou a fazer movimentos vigorosos em minha barriga, pedi que parasse. Ela se justificou, dizendo que fazia isso em várias outras grávidas. Achei estranho, e encerramos a massagem por ali.

Uma hora depois Rita estava no sofá, com os pés para cima, com medo de que fosse acontecer uma tragédia. É que ela tinha lido na internet, esta maldita fofoqueira, que uma drenagem linfática mal feita poderia causar um aborto.

Eu sentia dores no baixo ventre e na pélvis. Dores estranhas. Não tive sangramento, mas o bebê se mexia como nunca.

Isso é verdade. Ele parecia estar dançando axé. Mas não justifica o medo que você sentiu. Se bem que eu desconfio desse medo. Por causa dele tive que fazer tudo em casa, desde o jantar até pegar uma água. Você não levantava do sofá para nada. Pensei que fosse até me pedir um peniquinho.

Quase pedi. Eu sentia muita cólica ao andar. Fiquei bem quietinha mesmo. Pensei em ligar para a médica, mas estava sem seu número de celular. Mandei e-mail, mensagem pelo Facebook, e quase tentei sinais de fumaça.

Foi uma noite tensa. Mas não precisava. O nervoso acabou sendo mais incômodo que a massagem. Talvez até mais perigoso.

Na manhã seguinte falei com a médica e ela me tranquilizou. Percebi que tinha feito uma massagem modeladora, e agora estou mais atenta para escolher profissionais que tenham longa experiência com gestantes. Vi que a drenagem linfática pode ser um benefício quando bem executada, mas, nem todas as mulheres podem fazê-la, e deve ser conduzida com leveza.

Agora você fala com tranquilidade, mas, no próximo susto, aposto que teremos um novo drama.

Estar grávida é passar por grandes pequenos sustos.

 


Se meu carrinho falasse…
Comentários 10

Barrigudos

Mais difícil que comprar um carro é comprar um carrinho de bebê. São tantos modelos e acessórios que você fica perdido.

O pior é que os preços variam muito. Você acha carrinhos de R$ 150 a R$ 5.000. Ou seja, o mais caro custa 33 vezes mais do que o mais barato.

É a mesma diferença de um Fiat Mille para um Mercedes-Benz SL65, o safety car da Fórmula-1. Mas o Mille e o SL65 têm motores bem diferentes. O do Mercedes é um V-12 que faz de 0 a 100km/h em 4,2 segundos. O do Mille mal chega a 100 km/h. Já nos carrinhos de bebê, o motor é o mesmo: você (1hp).

Para ter tanta diferença de preço, os carrinhos de bebê tinham que vir com air bag, banco de couro, ar condicionado e, principalmente, um motor. De preferência, com controle remoto, para a mãe pilotar o carrinho sentada no banco do parque.

A variação de acessórios não chega a tanto. Mesmo assim, causa uma certa confusão. O que é melhor, um carrinho com quatro ou três rodas? Ele deve ter moisés e bebê conforto? Alça reversível faz diferença? E quanto aos modos de dobrá-lo: é melhor um mais simples ou um que ocupe menos espaço? 

O mais engraçado é que os pais para quem fazemos estas perguntas nos dão respostas totalmente diferentes. Para uns, o Moisés foi fundamental nos primeiros três meses do bebê. Outros nunca chegaram a usá-lo. E assim por diante…

Ser pai é padecer nas Feiras de Bebês e Gestantes…

E o carrinho não é única grande despesa que se tem na chegada do bebê. Berços, cômodas, armários, roupas, brinquedos, fraldas… toda uma infraestrutura é necessária. Se a gente não fizer as contas na ponta do lápis, é capaz de quebrar antes do bebê nascer.

Então pensamos: será que não existe uma rede de doação de usados para bebês? Eles se utilizam das coisas por tão pouco tempo que é um pecado jogá-las fora.

É uma afronta ao consumo consciente. E a maioria das pessoas fica com tralhas imensas, abarrotando quartinhos e banheiros.

Pois eis que, por sorte ou oração, uma amiga de Rita ofereceu-nos um carrinho.

Aleluia!

Era um carrinho de marca respeitável, com bebê conforto, bem conservado e com todas as peças. Só não estava muito limpinho.

Porque estava guardado há uns dois ou três anos.

Junto com o carrinho, a amiga nos indicou empresas especialistas em higienização.

Elas desmontam tudo e limpam peça por peça com produtos antialérgicos. No final, o carrinho fica como novo.

Por apenas noventa reais!

Me pareceu um bom negócio. Gastaríamos pouco mais que a metade de um Mille para ter um Range Rover.

Mas um amigo nosso, com cara de reprovação, falou: “Vocês vão querer uma coisa usada? Primeiro filho tem que ser tudo novo!”

Eu me senti ofendida. Era como se o fato de eu aceitar uma doação me fizesse uma mãe pior. Ou menos amorosa. Como assim, eu não faria das tripas coração para dar o melhor para meu filho?

Na internet, vi que com os cinco mil reais do carrinho mais caro, você compra um Peugeot 206, ano 2002. Vou deixar para quando ele fizer 18 anos.

Na mesma loja descobrimos que há a possibilidade de se alugar aqueles brinquedos caros e que as crianças aproveitam por pouco tempo. E também há brechós de roupas de bebê.

O que nos leva a uma questão: Qual o limite entre novos e usados?

Você compraria roupas de segunda mãe para seu filho recém-nascido? Alugaria brinquedos usados? Até onde vai o limite da reciclagem para você?

Dê sua opinião. Seja ela nova ou usada.