Barrigudos

O dia em que virei canguru

Barrigudos

 

É isso mesmo, eu virei um canguru!

Não um canguru muito típico, é verdade. Não estou na Austrália, não tenho aquelas orelhas enormes, nem aquele rabo comprido. Mas fiquei com Matias na minha barriga.

A técnica do canguru consiste numa série de medidas que visam ajudar na recuperação do bebê prematuro. A parte mais conhecida é deixar o bebê em contato com físico com o pai ou com a mãe. Eles ficam em nosso peito, mais ou menos como um filhote de canguru. E nunca por menos de uma hora.

Os especialistas dizem que ajuda a criança a ganhar peso, auxilia na produção de leite materno, diminui o impacto provocado pela prematuridade, cria vínculo afetivo etc…

Não tenho certeza dos benefícios que traz aos bebês, mas os pais sempre saem alegrinhos da sala depois de fazerem o canguru.

Matias também parece gostar muito. No começo ele até dá uns miadinhos, sons que eu traduzo como: “Isso é gostoso”, “Você é quentinho” e “Sua barrigona é bem macia, não emagreça nunca”.

O canguru é um jeito ficar mais perto dele. Um jeito dele ser mais meu. Um jeito de este pronome possessivo ser usado com mais autoridade.

Como Matias foi para a UTI logo que nasceu, nosso contato físico foi pequeno até agora. Se juntar todos os momentos em que o segurei no colo, deve dar menos do que um pai segura o filho recém-nascido em seu primeiro dia em casa.

O canguru, que também é chamado de pele-a-pele (no meu caso seria mais certo dizer pele-a-pelo), ajuda a diminuir esta distância. Eu posso sentir seu calor, a penugem nas suas costas, passar o dedo pelo seu narizinho arrebitado (como o da Rita), pelo seu queixo com covinha (como o da Rita) e pelo seu cabelo ralinho (como o meu).  

Algumas enfermeiras não deixam o bebê ficar em contato com os pelos do peito do pai. Outras dizem que é melhor assim. Por conta das primeiras, um pai chegou a depilar o peito. E nada de passar lâmina de barbear. Ele usou cera mesmo. Acho que colocar um paninho sobre o peito é mais prático. E dói menos.

Uma coisa divertida é ficar bem deitado na cadeira. Aí consigo sentir o peso de Matias. Um pesinho. Ele agora está com 2,07 kg.

Matias fica tão à vontade nesta posição que dorme em poucos segundos. E fica uma hora sem se mexer um milímetro. Só solta uns puns de vez em quando.

Fazer o canguru me deu uma boa ideia: Vou colocar Matias dentro de minha camisa e fugir com ele da maternidade. Se alguém perguntar, digo que engordei um pouco por causa da tensão. “Sabe como é, a gente fica comendo muito chocolate…”

Acho que colocarei meu plano em prática amanhã.

Tomara que os seguranças do hospital não leiam este blog.