Barrigudos

Matias precisa entrar no eixo

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fisioterapia

Esta semana Matias começou a fazer fisioterapia para o pescoço. Sua cabeça estava mais inclinada para um dos lados. Poderia parecer que ele estava fazendo charme, olhando meio de lado para as pessoas. Mas não. Era um problema mesmo. E a médica sugeriu que fizéssemos algumas sessões de fisioterapia.

Não seria uma novidade para ele. Na verdade, Matias, para sua idade, é um veterano nessa terapia. Um prematuro, durante sua estadia na UTI, faz fisioterapia todos os dias na incubadora. Mexem em suas pernas, em seus braços, viram o bebê para lá e para cá. Além disso, os prematuros com dificuldades respiratórias precisam dos fisioterapeutas para procedimentos como aspiração de gosmas e melecas. E outras coisas mais.

Mas, quando se é bebê, a fisioterapia não é um sofrimento, não é aquele aperta-e-empurra. É uma grande brincadeira. Uma brincadeira de estica-e-puxa. A ordem é brincar. Brincar para mexer, brincar para alongar, brincar para curar.

Também não são usados aqueles apetrechos que mais lembram instrumentos de tortura, que dão choques e causam dor. Aqui, os aparelhos são bem diferentes: brinquedos. Muitos brinquedos. Por exemplo, chocalhos barulhentos. A fisioterapeuta usa-os para fazer Matias virar a cabeça. Coloca-o no lado direito, fora de seu campo de visão, e faz um barulho para que ele vire sozinho a cabeça. Depois faz o mesmo no outro lado.

Para chamar a atenção de Matias, a fisioterapeuta Monaliza (que tem um sorriso franco e nada enigmático) também utiliza uma arma poderosa: os pais. A mãe – ou o pai- tem que acompanhar as sessões com seu bebê. Matias está com quatro meses (três na idade corrigida) e, para minha surpresa e felicidade, já me reconhece como mãe.  Ou cuidadora, vai saber. Então, quando faço algum movimento diferente ou saio de sua visão, ele percebe. Assim sigo as instruções de Monaliza, coisas como “Agora converse com ele do lado direito” ou “Acalme-o no seu colo por alguns minutos”. Ou ainda “Não se mexa agora, senão ele sairá da posição de alongamento”.

Matias não fica quieto, bonzinho e risonho durante o tempo todo da sessão. Tem horas que abre o berreiro. E quando o bebê fica estressado ele não alonga, não estica, não coopera. Aí o jeito é parar tudo, acalmá-lo e desestressá-lo, para só então voltar a fazer os exercícios. Esse é um processo que pode durar um bom tempo. E descobri que Monaliza possui a paciência de um monge budista.

As sessões de fisioterapia com bebês não são cronometradas como treinos de classificação na Fórmula 1. São imprevisíveis como as corridas. A gente tem uma ideia do número de exercícios que tem que fazer, mas o tempo que demorará é um mistério. Há incidentes no meio do caminho. Por exemplo, uma pausa inesperada para um cocô. Ou o começo de uma crise de cólica. Ou ainda um soninho que quer se instalar. Não tem jeito. É preciso ser flexível e adaptar o ritmo das sessões ao bebê.

Não dá para saber se Matias tem gostado ou não. Na primeira sessão ficou muito ligado e demorou para dormir quando tudo terminou. Mas na última ganhou um exercício que teve como base um banho de ofurô com ervas e ficou calminho, relaxado. No final dormiu tão profundamente que nem acordou direito para mamar, quatro horas depois.

Mas gostando um pouco ou muito, o que importa mesmo é que a fisioterapia dê resultado para o nosso bebê.  Por enquanto, a inclinação de Matias para um dos lados tem rendido boas piadas sobre suas futuras preferências políticas, mas, a longo prazo, poderá atrapalhar um bocado a sua estrutura e o seu aprendizado de andar. Tomara que Matias não demore muito para entrar no eixo.