O açúcar de Fernandinho
Barrigudos
Hoje a história de UTI será contada por Daniela, mãe de Fernandinho. Não é um caso de prematuro, mas de diabetes.
Sou diabética desde a infância e assim que fiquei grávida sabia dos riscos que meu bebe corria.
Tive uma gestação supertranquila, sem nenhuma complicação, exceto pela morte de meu pai, faltando vinte dias para meu parto. Mesmo com esse acontecimento, meu parto foi na data prevista.
No dia, tudo tranquilo. Meu neném nasceu com 3,780 kg, sem hipoglicemia (um dos maiores riscos para filhos de diabéticas, pois durante a gestação a mãe utiliza o pâncreas do neném e, quando ele está no ambiente externo, acontece uma desordem natural que deve ser bem assistida).
Eu não tinha leite. Por causa da morte de meu pai meu leite secou. O neném tinha muita fome e chorava sem parar. Davam uma quantidade pequena de leite para ele e ele chorava, chorava até que parou e parecia ter desmaiado.
Corri na enfermaria e me falaram que era normal, que sentem muito soninho. Eu percebi que era hipoglicemia, pois quando eu tenho fico como ele estava: com muita fome e depois extremamente cansada. Até já desmaiei.
Depois de implorar bastante por cuidados médicos, resolveram fazer um exame de sangue. Aí viram o grande problema: a glicemia dele estava 21, enquanto o normal é entre 70 e 110. Levaram-no direto para a UTI para tomar glicose. E ele teve que fazer uma série de exames para saber se tinha havido alguma lesão cerebral.
Ter um bebê na UTI foi a experiência mais dolorida que tive em vida. Eu e meu marido nos alternávamos na vigilância. Mesmo que pouco pudéssemos fazer, existe aquela sensação de que o bebê chama por você 24 horas por dia. Foram quatro dias sem dormir.
A agonia maior é pelo boletim médico. A notícia pode ser preocupante, que nada mudou ou até que o pequenino é um lutador e está vencendo. Meia hora depois, o medo volta a assombrar. E agora? Será que ainda está melhorando? E se algo aconteceu? Não é o caso de repetir todos os exames?
Foi na UTI que Fernandinho recebeu seu primeiro banho da mamãe. Desajeitada por ser mãe de primeira viagem, mas com todo carinho e cuidado para não desligar nada e ter que ver seu bracinho furado novamente.
Fernandinho ficou quatro longos dias na UTI… E não teve nenhuma sequela!
A saída da maternidade foi um momento tão mágico e maravilhoso que eu não acreditava que estava acontecendo. Lágrimas escorriam de felicidade.
Fernandinho chegou em minha vida vinte dias depois que perdi meu Fernandão. As últimas palavras de meu pai antes de entrar na cirurgia foram: ''Doutor, preciso voltar para conhecer meu xarazinho''.
Ele infelizmente não voltou, mas sinto no meu filho a memória de meu pai vivo, pois meu pai já o amava mesmo sem nunca ter tido a chance de vê-lo.
Daniela Nunes