Barrigudos

Quando a pediatra vira paciente

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Hoje quem conta sua história é Paolla, uma pediatra que se viu na condição de paciente, e mãe de um prematuro.

paola

Na minha segunda gravidez, achei que tudo seria tranquilo, normal, que eu trabalharia até as 37 semanas, como as minhas amigas.

Isso foi ate a vigésima semana, quando tive um sangramento no trabalho e descobri que tinha placenta previa, que é quando a placenta não migra ate o fundo do útero, podendo recobrir todo o colo uterino, impossibilitando um parto vaginal e obrigando a mãe a ficar em repouso absoluto até o termo, porque qualquer (qualquer MESMO) esforço ou estresse pode causar um sangramento e colocar a vida da mãe e do bebe em risco.

Nesse período fiquei lendo sites, fofocando no facebook e procurando blogs, como este, onde comecei a ler a história do Matias. Quando vi que ele tinha nascido de 34 semanas, pensei ''nossa, foi cedo''.

Como pediatra, fiz meus estágios em UTIs e ficava pensando na vida daquelas famílias, com seus bebês tão pequenos dentro de incubadoras. Também vi histórias de vida e de morte, comemorando e chorando junto em várias ocasiões. E, sabendo dos riscos de um parto prematuro, me preparei para isso, embora não o desejasse. Foram 3 doses de corticoide intramuscular (que me renderam episódios de hiperglicemia e uma suspeita de diabetes gestacional), mãe e sogra em casa para ajudar a cuidar de mim, da mais velha e da casa e muita ansiedade.

E, na trigésima-segunda semana, comecei a ter contrações que felizmente foram inibidas com uso de medicação em casa. Só que, na trigésima-quarta, a minha GO disse que, a partir daquele ponto, ela não faria outras medidas para inibir o parto, se eu sangrasse muito ou entrasse em trabalho de parto, o bebê iria nascer, pois já seria viável e o risco era muito grande (sem contar que o bebe era GORDO por causa da minha hiperglicemia e estava pressionando a placenta).

Dois dias depois comecei a sangrar e ela me mandou para a maternidade. Mas eu estava crente que ia fazer um exame e voltar pra casa. Quando entrei pra ser examinada e coloquei a camisola, senti uma contração e o bebe ENCAIXOU, descolando a placenta e causando o maior sangramento que já vi na minha vida (e olha que vi muitos).

Em dez minutos eu estava no centro cirúrgico. Cinco minutos depois, Isabella nasceu. Demorou para chorar e, quando chorou, foi só um ''bunhe''. A neonatologista a levou para a sala de observação, enquanto a anestesista tentava controlar a minha pressão que teimava em cair absurdamente.

Quando fui para o quarto, me contaram que ela tinha sido levada para a UTI por causa de um desconforto respiratório, mas que não seria necessário entubar e nem usar o CPAP. Meu marido desceu para vê-la, mas eu só consegui ir no dia seguinte, porque a pressão continuava caindo. Quando consegui descer, queria tirá-la daquela incubadora, ficar com ela nos meus braços, sabia que não podia, mas ficava com aquela sensação de incoerência: Por que o meu bebê gordo, grande para um prematuro, tem que ficar ali dentro, longe de mim? Felizmente, ela melhorou rápido, mas precisou de fototerapia e, por conta de ter nascido com 34 semanas (35+5 pelo Capurro, mas a dúvida persistia), ficou no soro até termos certeza de que sabia sugar.

Só que ela resolveu fazer isso da maneira mais difícil. Na segunda noite, ela arrancou o soro da veia e ninguém conseguia achar outra! O neonatologista de plantão me chamou e disse que, ou mamava ou ganhava um cateter umbilical. Quase chorando, eu disse ''ela vai mamar''. Minha entrada na UTI foi liberada a cada três horas, mas, se eu não chegasse a tempo, eles dariam leite na mamadeira pra não precisar passar o cateter, caso ela sugasse. E ela sugou.

No dia seguinte, ela foi liberada para a unidade de cuidados intermediários e, um dia e meio depois, para o quarto. Meu leite desceu no terceiro dia, depois de muita insistência para a bebê sugar e o uso da bomba para ordenhar. Viemos para casa após 5 dias e ela continuou engordando tão bem que hoje é até difícil de lembrar que ela nasceu prematura.

Paolla L. M. Alberton.