Barrigudos

Éramos quatro prematuros, afinal.

Barrigudos

Há exatamente 5 anos, no dia 28 de dezembro de 2008, Gisele dava à luz duas gêmeas: Sophie e Yarin.

Passei uma gravidez difícil. Está certo que eu procuro ser bastante saudável, praticava esporte regularmente, alimento-me bem, procuro manter bons hábitos de vida, mas estava grávida de duas meninas univitelinas aos 34 anos de idade.

Desde a décima quinta semana eu tinha com um problema de ''vazamento'' de líquido amniótico, problema que nunca vi similar, mas o fato é que, de tempos em tempos, eu tinha grandes vazamentos, como se a bolsa tivesse rompido. Ia correndo ao hospital e… nada, a quantidade de liquido estava normal, apesar de o vazamento continuar. Nunca souberam me explicar o que realmente estava acontecendo. Mas permaneci em repouso ABSOLUTO durante toda a gestação.

No dia 24 de dezembro de 2008 (28º semana de gestação), na ceia de Natal, eu estava num dos períodos de grande vazamento. Sentia o liquido escorrer o tempo todo, mas, como das outras vezes, acreditei que estava tudo bem.  Até que, na madrugada do dia 28, um domingo, vi escorrer um liquido esverdeado… Como eu estava usando um absorvente, pude ver, claramente, que algo estava ainda mais errado desta vez.

O obstetra estava viajando. Esperei que ele chegasse e tivemos de fazer uma cesariana de emergência e, na noite do mesmo domingo, dia 28 de dezembro, nasceram, após 28 semanas e 3 dias de gestação, minhas duas pequenas meninas: Sophie, a mais velha, e Yarin, a caçula.

A solidão daquela noite foi inesquecível e indescritível; algo que eu jamais sentira na minha vida. Nada, não havia nada nem ninguém no quarto em que passei aquela primeira e assustadora noite.  A barriga, silenciosa, o quarto, parado.

Não sabia o que deveria esperar após o nascimento delas, só conseguia ouvir o som débil da voz do médico me consolando: ''Elas estarão melhor fora de sua barriga!''

Nada foi como eu havia planejado, ou como todas as mães planejam para seu primeiro filho. Todos felizes, flores, fotos, bebês gordinhos, papai assistindo ao parto, essas imagens de ''foram felizes para sempre'' que sempre nos são mostradas.

bailarinaMeu marido chegou no susto. Ligaram para ele  e disseram ''Vem logo, precisaremos fazer uma cesariana de emergência''. Quando chegou tudo já era insegurança. A barriga, de lugar seguro, tornou-se lugar hostil para minhas filhinhas e elas ganharam ''incubadoras''  que ressaltavam ainda mais o tamanho de ''bebê de útero'' delas.  Tão pequenas, tão cheias de fios, agulhas, esparadrapos.  Como superar isso?

Apesar de muito pequenas, as meninas nasceram bem. Sophie, em praticamente 3 dias, já respirava sem ajuda e estava tomando a embriagante dose de 3 ml de leite materno a cada 3 horas.  Yarin sofreu mais, precisou ficar entubada e chegou a pesar 1kg, nasceu com 1,430kg, mas, devido às dificuldades respiratórias, perdeu muito peso.

Demorei para poder pegá-la no colo.  Passaram por muitos profissionais, fisioterapeutas, fonoaudiólogas (para ensiná-las a sucção) e por muitos exames: raio x do cabeça, coração, pulmão…  Depois de 30 dias de UTI, fomos para a fase da ''engorda'' e, meu Deus! Como cada 10g que cada uma ganhava era motivo de choro, comemoração e expectativas para a nova pesagem do dia seguinte.

belaMinhas filhas tiveram refluxo seriíssimo, saímos de casa com elas a primeira vez quando elas já tinham 5 meses! Visitas? Só depois de mãos lavadas e, muitas vezes, com máscara no rosto. O medo de voltar ao hospital era MUITO mais forte do que o constrangimento de pedir todo o cuidado do mundo aos parentes que vinham ver ''as gêmeas''.

Passei os dias ao lado delas, amamentando, acordando as meninas a cada três horas (quem tem, sabe: sono de prematura é de pedra).

Durante todos os 44 dias que ficamos no hospital, entre UTI e ''engorda'', só tenho a agradecer à equipe do hospital.  Profissionais que, sem dúvida, me deixavam mais tranquila cada vez que ia pra casa.  Médicos, enfermeiras e auxiliares bem preparados para a tarefa de lidar com bebês e com mamães prematuras e assustadas.

Neste ano, Yarin e Sophie vão completar 5 anos de vida.  Quem olha pra elas não vê nem de longe as meninas prematuras. São saudáveis, fortes, alegres, alimentam-se bem e não guardam nenhuma marca da prematuridade.  Yarin teve um problema respiratório grave aos 16 meses, mas, depois disso, nunca mais teve nada sério. São duas pequenas vencedoras.

Esse assunto ainda me comove muito.  Acompanho o blog Barrigudos e identifiquei-me com muitas coisas que vocês escrevem.

Apesar de eu já ter passado por outra gravidez, desta vez de um único bebê, o Lucah, que transcorreu super bem, sinto que a minha história, de mãe prematura, ainda não está totalmente resolvida para mim e, se escrevo este relato, é também para me ajudar a superar as fortes emoções pelas quais passei na gestação e nascimento das meninas.

Preciso acrescentar que, como eu, meu marido, também um pai prematuro, sempre ficou ao nosso lado, sempre esteve presente na UTI revezando comigo o colo para acolher nossas pequenas no ''canguru''. Ele não escreveu este texto comigo, mas, certamente, assustou-se e comemorou cada uma das etapas que vencíamos.

Gisele P. Martins

Sophie com a saia de bailarina e Yarin, como a princesa Bela.

Sophie com a saia de bailarina e Yarin, como a princesa Bela.