Barrigudos

Álcool na gravidez pode dar ressaca para a vida toda

Barrigudos

No último post do ano, às vésperas das champanhes e sidras, um texto sobre prematuros, mães e álcool. A autora, para evitar problemas, pediu que seu nome não fosse revelado.

garrafa

O filho de uma amiga, hoje com 18 anos, nasceu de 8 meses e ficou 15 dias na UTI, porque uma pulmão não funcionava, o que é conhecido por membrana hialina.

Ele nasceu numa época em que as UTIs neonatais eram raras. Para internar uma criança tinha que tirar outra, o que era terrível ter que escolher quem viveria. Na minha cidade só tinha em dois hospitais, foi um sufoco. Mas conseguiram uma vaga, pois um bebê teve alta.

O motivo do parto prematuro, depois se descobriu, foi que a mãe, pessoa muito bacana, mas ignorante, achava que o bebê precisava adquirir anticorpos, e por isso não parou de beber.

Ela bebia muito e isso acabou antecipando o parto. Como o bebê nasceu em um hospital sem recursos, não tinha nem incubadora com respirador. Para piorar, ele teve cinco paradas respiratórias. Uma enfermeira sentou ao lado dele e, toda vez que ele parava de respirar, ela o fazia voltar. Essa enfermeira o acompanhou para o outro hospital quando conseguiram a transferência.

Quando completou nove anos, o menino começou a ter ausências (perdia os sentidos, mas não caia). Fizeram muitos exames e descobriram que ele tem epilepsia pela falta de oxigenação na hora do parto e por ela ter ingerido muita bebida alcoólica durante a gestação. O mais interessante é que hoje ele odeia qualquer tipo de bebida alcoólica sem mesmo saber dos problemas que teve quando nasceu.

O resultado é que ele tem que tomar medicamento pela vida toda, porque se ele parar as crises ficam piores a ponto dele ter convulsões, ele também tem dificuldade de aprendizado: não consegue aprender a ler. É ótimo em matemática, ótimo contador de histórias e aprendeu a tocar violão de ouvido. Mas de livros, infelizmente, ele foge.

Quanto à mãe do bebê, minha amiga, não arredou o pé da UTI sem o filho. Depois ficou tão enlouquecida que por um tempo não quis saber do bebê, então eu o levei pra casa e cuidei dele, até que um dia ela veio e o levou. Mas ele já estava grandinho.

Fiquei triste e feliz. Feliz porque ela não bebia mais e podia cuidar dele. Triste porque não foi fácil  me afastar dele. Ela o levou para morar em outro Estado e eu só o vejo duas vezes ao ano. Mas achei melhor eles conviverem. É muito amor para eles ficarem separados.

Ah, o pai não foi esquecido. Ele ia ao hospital todos os dias para que ela pudesse descansar, mas foi conivente com as bebidas. Quando o bebê teve alta, nunca o vi tão feliz. Porém, depois de 15 dias o bebê teve que voltar para o hospital, pois estourou uma hérnia de tanto ele fazer força para respirar nas primeiras horas de vida. Ele forçava a respiração com o diafragma. Era impressionante ver aquele menininho lutando para sobreviver.

Depois de tudo isso, quando o bebê tinha dois anos os pais se separaram e o pai caiu numa depressão muito grande, tão grande que não podia cuidar de si e nem dos filhos. Então nós cuidamos dos três. Ele casou de novo depois de 10 anos e teve outro filho que  teve gestação, parto e tem vida normal.

Espero que ajude as pessoas a entender porque é tão importante que a mãe não beba na gestação e durante a amamentação.