Como ser pai de prematuro sem virar vampiro, zumbi ou Frankenstein
Barrigudos
Em Guantânamo, um campo de prisioneiros mantido pelos Estados Unidos em Cuba, uma das técnicas de tortura é acordar o sujeito seguidamente, sem deixá-lo ter um sono longo.
Pois é exatamente isso que temos que fazer com um prematuro. Mesmo que ele esteja dormindo angelicalmente, temos que acordá-lo de três em três horas para alimentá-lo. Eles têm que ganhar peso rapidamente, mas são tão pequenos que não conseguem acordar quando têm fome. Não podemos esperar pelo seu choro de alarme.
E, para deixá-los despertos, antes de cada mamada há uma troca de fralda.
Por tabela, nós, pais, também fazemos esta tortura conosco. Até alguns dias atrás, o despertador do meu celular estava programado para apitar às 2h45, 5h45, 8h45, 11h45, 14h45, 17h45, 20h45, 23h45. Se escutar uma vez por dia aquela sirene já é horrível, imagine como é ouvi-la oito vezes. É preciso um autocontrole de monge budista para não botar o celular na frente da roda do seu carro e passar por cima. Com direito a marcha à ré.
Nos primeiros dias de Matias em casa, eu e Rita fazíamos todas as trocas juntos. Era uma demonstração de companheirismo, era um aprendizado conjunto das minúcias das trocas de fraldas, era o ato de partilhar a paternidade.
Balela!
Fazer tudo junto pode ser bonito, mas acaba com a resistência física do pai e da mãe.
Por conta dessa solidariedade, em poucos dias eu e Rita tínhamos olheiras tão profundas que parecíamos vampiros coadjuvantes num filme do Bela Lugosi.
A saída foi o rodízio. Não, não o de pizza. O de mamadeira.
Como Matias ainda toma um bom tanto leite artificial, decidimos que nas mamadas da meia-noite e das três da manhã só eu acordaria (o que explica o horário deste post). E as trocas das 6h00 e das 9h00 ficariam a cargo de Rita. Assim nós dois conseguiríamos dormir um tanto sem interrupções.
Deu certo. No começo eu me senti andando naquele passo lento dos zumbis, mas logo o corpo se acostumou. E as horas seguidas de sono foram sensacionais.
Para Rita foi melhor ainda. Com o sono mais longo, ela conseguiu recuperar um tanto do leite, que começava a rarear.
E durante o dia estamos os dois mais espertos.
É claro que eu, como trabalho em casa, tenho uma certa vantagem sobre a maioria dos pais. Se trabalhasse numa empresa, entrando às 9h00 e saindo às 18h00, dificilmente poderia assumir o turno da noite. Mas hoje vários pais já trabalham em casa ou têm horários flexíveis.
Pode parecer menos romântico fazer as trocas de fraldas e mamadas separadamente. Mas é importante garantir que os pais não fiquem em pedaços como um Frankenstein.