Inutilidades ultra úteis
Barrigudos
(Rita escreve em preto, Torero em azul)
Pensei que eu seria um pai anticonsumista. Nada de inutilidades tecnológicas e frescuras moderninhas comigo. Eu seria simples, estóico, um pai que usaria apenas suas mãos nuas para cuidar de seu filho.
Eu pensei que seria uma mãe à antiga, fazendo as coisas por mim mesma, sem nenhum recurso eletrônico. Não chegaria a usar fralda de pano, mas quase.
Porém, ganhamos alguns apetrechos high tech de amigos e nos rendemos.
Para quê viver como no século XIX se estamos no século XXI? Este “I” que sai do meio e vai para a ponta direita tem que fazer alguma diferença.
Eis aqui alguns acessórios inúteis que se revelaram muito úteis:
Termômetro de água: Quando Rita quis comprar um, eu protestei: “Era só o que faltava. Basta colocar o dedo na água e já sabemos a temperatura. Se meus pais não precisaram disso, eu não vou precisar”.
Ah, quanta ingenuidade. Só depois que ganhamos o tal termômetro (que tem o formato de uma prancha de surfe) é que vimos como calculávamos mal a temperatura da água.
Não é à toa que Matias ficava molinho depois do banho. Deixávamos a água um tanto acima da temperatura ideal. Ele tomava não só um banho, mas também uma sauninha relaxante.
Termômetro de orelha: Eu nem sabia que isso existia. Parece coisa de Jornada nas Estrelas (aliás, como o celular, que lá se chama transcoder). Mas é um treco muito útil. Você não precisa ficar segurando o bracinho do bebê enquanto o termômetro faz seu trabalho. Ele solta uma luzinha e pronto, já mediu a temperatura. É rápido, eficiente e silencioso. O contrário do Congresso.
Babá eletrônica: Ideal para pais escritores. Quando Rita desaba, digo, tira uma sonequinha, eu posso ficar escrevendo e de olho em Matias ao mesmo tempo. Qualquer barulho ou movimento e lá vem a imagem do pequeno. Com isso dá até para tomar banho de vez em quando.
Miniberço: Quando o vimos pela primeira vez, achamos uma inutilidade. Para que um berço tão pequeno? É melhor um grande, que fica com ele por mais tempo. Mas não sabíamos que teríamos um prematuro. Então alugamos um, que fica do lado de nossa cama. Nestes dois primeiros meses, é bom ter o Matias ali do lado.
Álcool-gel: É ótimo para aquela última desinfetada antes de pegar no bebê. Deixamos bem perto do berço. E, quando chego da rua apressado e esqueço de lavar a mão, sempre dá para disfarçar e dizer que ia passar o álcool-gel.
Papel-toalha: Não pensávamos que seria útil para bebê, mas é ótimo ter um rolo por perto na hora da troca. Ainda mais se o seu pequeno faz um perigoso cocô spray de vez em quando. Também é útil quando Matias faz xixi no meio da troca de fraldas, molhando tudo ao redor, inclusive eu, como se fosse um hidrante quebrado.
Cotonete especial: Ele tem uma ponta mais fininha, e assim é útil para tirar cotocos do nariz e cerotos mais profundos. De vez em quando até roubo alguns para uso próprio.
Ofurô: Na verdade é um grande balde transparente. Mas Matias gosta de tomar banho nele porque fica quase todo imerso.
É claro que nada disso é essencial. Nossos tatatatatataravós nem tinham energia elétrica, e conseguiram criar nossos tatatatatavós.
O amor dos pais ainda é a melhor tecnologia.
Mas, entre os Jetsons e os Flintstones, prefiro ficar com os primeiros. Embora, mesmo com toda a eletrônica, estejamos mais para os Simpsons.