A náufraga da ilha Maternália
Barrigudos
Caro leitor que lê esta mensagem, não sei se você pegou uma garrafa que atirei daqui ou se está lendo pelo computador, mas, de qualquer forma, preciso me comunicar com alguém.
Meu nome é Maria Rita Barbi e estou isolada numa ilha. A ilha Maternália.
Eu e meu filho Matias chegamos aqui no dia 13 agosto, vindos de um lugar remoto chamado UTI.
No início, não reclamei. Afinal tínhamos tevê, computador, internet e banho quente. Mas aos poucos fui tomando consciência de que tinha pouca chance de utilizar esses luxos. É que Matias consome todo meu tempo. Quando não estou dando de mamar estou embalando seu choro, trocando sua fralda, higienizando mamadeiras ou lavando sua roupa.
Por conta disso fica impossível chegar perto do computador ou da tevê. Ouvi dizer que houve um escândalo de espionagem contra o governo brasileiro, mas não sei foi a CIA, a KGB ou o 007.
Por aqui as noites e os dias se confundem. Fico acordada de madrugada e tento dormir algumas horas durante o dia. Mas não tem dado muito certo. Quem dita meu sono é Matias, e ele é meio imprevisível.
Resultado: estou com profundas olheiras e, se dou uma piscada mais lenta, já começo a sonhar.
Os cuidados pessoais foram para o brejo. Na ilha Maternália não há manicures, cabelereiros, depiladoras e afins. Lojas? Nem pensar. Um cafezinho? Só o do coador. E de vez em nunca. Minhas sobrancelhas estão quase fazendo um laço, meu cabelo está pior que o de Tom Hanks em “O náufrago”, e minhas pernas estão concorrendo com as da macaca Chita.
Tenho a impressão de que, se o Ibama me encontrar, me prenderá numa jaula para análise de espécies não catalogadas.
Não posso reclamar da alimentação. Torero, que um dia já foi escritor, hoje é um eficiente barqueiro, e passa os dias indo e vindo para o mundo exterior a fim de nos trazer suprimentos.
Tenho saudade dos amigos, de bater perna na rua e se não me engano, havia uma coisa chamada cinema que era bem divertida.
Quando o sol bate forte na minha cabeça, começo a ter miragens: vejo festas, reuniões, gente rindo e usando roupas elegantes. Aliás, falando em roupas, estou me vestindo com trapos que um dia já foram pijamas e moletons.
Sinto falta de usar bolsas e sapatos de salto. Acho que nem sei mais me maquiar. Rímel? Só rindo.
É claro que Matias é lindo, fofo e a melhor pessoa com quem eu poderia ficar numa ilha deserta. Escolhi esta vida conscientemente e não me arrependo. Mas às vezes tenho vontade de colocar meu filho nas costas e nadar até alguma ilha vizinha para fazer um social. Pena que ele ainda está em quarentena.
Enfim, estou feliz mas seria bom bater um papo de vez em quando.
Por favor, me escrevam.