Carta aberta para Shantala
Barrigudos
Querida Shantala,
não sei o que aconteceu com você. Não sei se ainda está viva, se ainda mora na Índia, se seu filho está bem. Mas escrevo esta carta (ou post) para agradecê-la.
Fico feliz pelo doutor Leboyer ter encontrado você numa rua de Calcutá, e percebido que a massagem que você fazia em seu bebê era algo importante para ser divulgado.
Admirei o fato de você ser paraplégica e ainda assim cuidar do seu bebê com tanta habilidade.
A primeira vez que te vi foi através de uma foto tirada pelo doutor Leboyer.
Depois conheci sua técnica pelo vídeo feito por ele. Fiquei muito impressionada com o vigor dos movimentos, o contato com a pele do bebê e a profunda intimidade que essa massagem parecia criar entre vocês.
Sei que não foi você quem inventou a técnica, muito comum em seu país, e que ela deve ter sido passada a você por sua mãe, que aprendeu com a mãe dela e assim por diante. Como tudo na Índia, deve ser uma técnica milenar.
Eu, impressionada com tudo isso, decidi tentar por aqui com meu Matias.
Como ainda estamos ilhados por conta da quarentena, não pude frequentar nenhum curso para aprender sua técnica. Desse modo, assisti a vídeos repetidas vezes na internet e esta semana me aventurei a aplicar a massagem.
Qual não foi minha surpresa quando percebi que Matias estava gostando mesmo de receber todo aquele carinho! Confesso que achava que, por não ter sido treinada por um profissional especialista na sua massagem, Matias iria chorar, espernear, e eu teria que interrompê-la em poucos segundos. Mas não.
Há algo de instintivo na massagem que você propõe. A gente parece saber a pressão, o ritmo e o tempo de cada movimento. Mas o mais impressionante é que, durante a massagem, o bebê trava um olho no olho com a gente. É aí que se estabelece uma mágica, uma sensação de cumplicidade.
Para mim, a amamentação, que deveria ser outro momento mágico, está sendo como escalar um pico do Himalaia. Tenho pouco volume de leite, meus bicos racham com frequência e sangram. Eu estava chateada porque, diante de tantas dificuldades, eu não estava conseguindo sentir a cumplicidade na relação com o Matias. Mas consegui isso aplicando sua massagem.
Aliás, aconselho a todas as mães tentarem a shantala. Quando eu faço a massagem, Matias parece mais calmo e feliz.
Nos dias seguintes às primeiras vezes, percebi que as cólicas diminuíram de intensidade. E, nos dias que eu não fiz, as cólicas pioraram.
Já experimentei dar banho depois da shantala e foi muito bom. Dar o peito depois da massagem já não foi tão eficiente, porque ele estava tão relaxado que, mal começou a sugar, dormiu profundamente.
Vou continuar experimentando: buscando a melhor hora para a massagem, o melhor lugar (por enquanto estou fazendo na minha própria cama), a melhor quantidade de movimentos.
Enfim, obrigada mais uma vez.
Um beijo para você e para seu filho,
Rita, do Brasil.
PS: Mande um abraço ao doutor Leboyer. Ou melhor, feliz aniversário, já que ele fará 95 anos no dia primeiro de novembro. Aliás, que sujeito fantástico, hein? Além de ter revelado ao mundo sua massagem, também popularizou o parto humanizado.