O sorriso mágico dos bebês
Barrigudos
(Hoje, Torero escreve em azul e Maria Rita, em preto)
Matias está rindo. E muito.
Mal acorda e já dá belas risadas com suas gengivas vazias.
Ele já dava alguns sorrisos antes, mas agora eles acontecem com muita facilidade. E nós derretemos, é claro.
O interessante é que os sorrisos começam a acontecer quando os pais já estamos exaustos por conta dos primeiros meses de cuidados intensivos com os bebês.
O cansaço, as olheiras, as noites sem dormir e os braços cansados de carregar o bebê durante as crises de choro, tudo isso é esquecido quando eles riem para nós.
A risada para os pais é uma recompensa. É o pote de ouro no fim do arco-íris.
E não é à toa que os bebês são fofos. Há quem diga que a risada dos bebês é uma prova da teoria da evolução de Darwin. Uma prova da seleção natural.
O sorriso aumenta o índice de fofura, e isso faz com que os adultos lhes prestem mais atenção, aumentando o cuidado que têm com eles, garantindo assim a sobrevivência dos filhotes e a perpetuação da espécie.
Trata-se de um truque para garantir os cuidados parentais. A mesma tese explica porque os filhotes de cachorros e de gatos são tão lindinhos.
Matias utiliza bem os seus poderes. Sempre que vê alguém pela primeira vez, dá um daqueles sorrisos com um gemidinho, o que automaticamente transforma a pessoa em uma escrava. Tanto isso é verdade que a frase mais comum depois de uma de suas risadas hipnóticas é “Posso segurar ele um pouquinho?”.
Ele é como o Gato de Botas do Shrek, só que, em vez daquele olhar pidão, usa o sorriso.
O golpe é ainda mais eficiente em avós babões e tias corujas. Estes pobres seres, já predispostos a amar incondicionalmente, não têm a menor defesa contra os sorrisos sedutores de um bebê. Se Matias soubesse falar e dissesse “Me dá seu carro, vovó?”, elas entregariam a chave na hora.
Mas o riso como elemento de sedução não é uma exclusividade humana. Segundo Katie Slocombe, especialista em cognição da Universidade de York (Grã-Bretanha), ''Quando um chimpanzé ri, isso parece estimular seu interlocutor a continuar a brincar, assim como faz um bebê tentando manter a atenção de um adulto.''
A tática risadal de Matias é tão sofisticada que ele conseguiu desenvolver vários tipos de sorrisos. Há uma risadinha irônica com o canto da boca, um sorriso safado em que ele põe a linguinha de fora, uma risada larga, com a boca bem aberta, uma risada contida, com a boca fazendo apenas um traço, e uma gargalhada que é quase um grito. E às vezes ele ainda olha para a pessoa com o canto de olho e inclina levemente a cabeça. É infalível! Não há quem não se torne seu adorador.
Mas pode ser que estejamos sendo maquiavélicos demais. Talvez o riso das crianças não seja um recurso instintivo para garantir sua sobrevivência, talvez não seja uma demonstração da teoria da evolução de Darwin.
Talvez ele apenas sorria porque está feliz, porque sente que é amado.
Ou talvez seja isso que ele quer que a gente pense.