Matando a saudade na cama!
Barrigudos
Depois de duas semanas separados, eu e Rita matamos nossa saudade ficando vários dias na cama. Mas não é o que você está pensando. É o contrário.
Torero chegou na segunda-feira com uma febre de 38,5º.C.
É uma doença que chamo de folhite. Desde que entrei na Folha de S.Paulo, no longínquo ano de 1987, quando os computadores só tinham letras verdes, eu fico doente depois de um trabalho longo.
Mal entrou em casa, Torero foi para cama e lá ficou. Nem a minha famosa canjinha ele quis.
Só fui levantar da cama 36 horas depois. Acordava, comia alguma coisa, tomava remédios e voltava a dormir. O problema é que eu estava espalhando meus germes pela casa. A cada espirro lá iam os malditos dançando pelo ar. E quem eles foram encontrar?
Eu! Grávida e com a resistência baixa, fui uma presa fácil.
Logo estávamos os dois de cama. Agora sei que eu deveria ter ido para nosso apê em Santos, sem colocar a Rita em risco. Mas é difícil pensar com febre.
Por outro lado, eu estava preocupada e queria cuidar dele. Não sei se teria topado ele ir para Santos.
Eu iria do mesmo jeito! Me arrastando pela Imigrantes, deixando um fio viscoso pelo caminho, assim como os caracóis.
Não faça drama. No fundo, eu sempre achei que grávida tivesse uma aura de proteção, como se nada pudesse acontecer com a gente.
Mas é o contrário. As grávidas são um convite aos vírus, fungos e bactérias.
Depois de uns dias comecei a me sentir baqueada, como num começo de gripe. Veio a dor de cabeça, a dor de garganta, a taquicardia, e uma dor nas costas, na região lombar, insuportável. Eu não conseguia sentar, não conseguia deitar e não podia ficar de pé. Para piorar, minha barriga ficou muito dura e eu sentia que o bebê se mexia pouco.
O desespero total veio quando tive um pequeno sangramento.
Corremos para a médica. Se bem que “corremos” talvez não seja o termo certo. Gripados, nós nos mexíamos em câmera lenta, feito bichos-preguiça, zumbis ou deputados na quinta-feira.
Chorei de dor e de medo. De novo pensei que meu bebê estava em risco. Eu sabia que alguma coisa não estava certa.
Levamos mais ou menos uma hora para sermos atendidos. Ou três mil e seiscentos segundos. Cada um bem lento e tenso.
O exame mostrou que uma simples gripe evoluía para uma pneumonia. O bebê também estava sentindo isso. O líquido amniótico baixou e o batimento cardíaco estava muito acelerado. Tive que tomar antibiótico, analgésico e ficar em repouso. Minha médica explicou que a terrível dor lombar que eu sentia, e a pressão na barriga, são típicas do trabalho de parto.
Rita ganhou uma amostra grátis do que vai sentir daqui a dois meses.
Se a medicação não funcionasse em 24 horas, teria que ir para o hospital. Com risco de parto prematuro.
Mas parece que deu certo. Enquanto escrevemos este texto, com os dois espirrando lado a lado, num batuque mal ritmado e meio úmido, vejo que Rita já está com uma cara bem melhor.
Para uma grávida, nada é simples. Nem gripe.
Agora chega de escrever e vamos para a cama! Dormir e tossir, é claro.