Barrigudos

Quando amamentar é tirar leite de pedra

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Amamentar não é fácil. Pelo contrário. Foi isso que descobri com as dezenas de e-mails, comentários aqui no blog e histórias que recebi via Facebook. Tudo por conta do último texto (http://barrigudos.blogosfera.uol.com.br/2013/09/28/cade-o-meu-leite/).

Essas mensagens me mostraram que meu problema não é nada raro. Muitas mulheres têm que enfrentar obstáculos nesse ato tão delicado que é dar leite para um filho.

Minha mãe e minha sogra revelaram que suas experiências não foram uma sopa no mel. As duas tiveram mastite. E eu e Torero mamamos no peito somente até os três meses de idade.

Márcia me contou que também teve problemas para amamentar seu primogênito, que nasceu com 36 semanas de gestação. Assim como eu, ela não tinha leite suficiente no começo, mas aos poucos, com diversas técnicas e acompanhamento de uma doula, conseguiu reverter o quadro e chegou ao aleitamento materno exclusivo. Ela me disse: “Parece que tudo conspira para que a mulher desista de amamentar. Mas temos que persistir.”

Já Silvia teve leite em abundância para sua pequena Ana. Mas tinha que tomar um remédio que o deixava com sabor ruim, e Ana não o sugava por nada. “Desesperada, eu comecei a chorar, peguei um ônibus e fui até a faculdade onde meu marido estudava. Eu falei para ele: ‘O meu leite está ruim, a Aninha não vai tomar nada e vai morrer de fome!’. Então o marido, com simplicidade masculina, disse: “Ela pode tomar leite em pó.”

Jacque escreveu que teve muito leite para suas duas filhas mais velhas, mas para sua caçula Helena inexplicavelmente não houve leite suficiente. Ela chorou, se lamentou, mas depois viu que não havia nada demais em dar a mamadeira. E confessa que esta está sendo a melhor “maternagem” de sua vida. Helena é uma criança de dez meses saudável e feliz.

A verdade é que a amamentação exclusiva com leite materno está enraizada na nossa cultura mais como um dever da mãe do que um direito do bebê. Por isso, quando as mulheres não conseguem cumprir esse papel na plenitude por várias razões, há um sofrimento inevitável. A amamentação deve ser uma opção, uma escolha da mãe. Só assim a discriminação contra as mulheres que não amamentam por diversas razões seria combatida.

Há mulheres que escolheram não amamentar de forma consciente. Uma senhora me confessou que amamentou cada uma das filhas, hoje mulheres com mais de trinta anos, por apenas um mês. Ela não suportou a dor nos mamilos, que rachavam e sangravam, e decidiu parar. Ficou feliz com sua decisão e nunca se arrependeu.

Já outra amiga disse que encasquetou que tinha pouco leite para sua filha, hoje com três anos. “Aí que o leite não vinha mesmo”, e ela desistiu de amamentar a pequena com três meses e meio de vida. Mas diz que se arrependeu e se arrependerá dessa decisão até o fim da vida, e que poderia ter tentado mais.

Muitas mulheres com pouco leite não desistem. É o caso de Caru, Suca e Samanta.

Caru diz que está “passando pelo mesmo perrengue”. Mas ela avisa: “Farei como você, Barbi, enquanto eu tiver 20 ml por mamada, o Artur ganhará o meu carinho, não desistirei. Força!”

Suca recorreu a uma medicação para ter mais leite, o Motilium. “Tive resultado, o peito encheu de leite. Mas o receio de passar alguma droga através do leite para ela me fez parar. Hoje administro a minha enorme frustração para não enlouquecer e tiro com a bombinha os poucos mililitros que me restam, mas ainda tenho muita esperança.”

Samanta usou de tudo: bomba manual, bomba elétrica alugada, ordenha manual e até uma sonda colada ao bico do seio. “Aí quando ela sugava o meu peito saíam os dois leites”. Ela diz que não foi fácil, mas valeu a pena. “Creio que toda mãe que tenha essa vontade deve tentar de tudo para que seu pouco leite seja dado ao seu filho. É uma grande demonstração de amor.”

Depois de todas essas histórias, entendi porque há tanta propaganda a favor do aleitamento materno. É que não é fácil mesmo. Às vezes amamentar é tirar leite de pedra.