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A história de Catarina, a dona do pezinho abaixo
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As histórias de mães e pais de UTI são tão emocionantes e únicas que eu e Rita decidimos que não deveríamos contar só a nossa. Assim, a partir de hoje, todas as quintas-feiras teremos um texto escrito por um pai ou uma mãe de prematuro. Para abrir esta nova seção, convidamos a Soraia Fiaccadori Braz, mãe de Catarina.

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Uma enfermeira se abaixou e falou-me ao pé do ouvido:

– Te acalma, é uma menina, ela está viva, pesa 460 gramas e está tudo bem!

E foi assim que, depois de horas chorando e vomitando, eu pude, digamos, me acalmar.

E Catarina nasceu! O conceito médico define como aborto o feto com menos de 500 gramas. Mas na hora H ela chorou! Não era um aborto, era um milagre!!!

A mãe de um prematuro é um ser diferenciado. Ela não tem direito ao repouso após a cirurgia cesariana. No mesmo dia ela começa a peregrinação do seu leito até a UTI neonatal, várias vezes ao dia. Anda curvada de dor. Dor física e emocional. Mas, ao mesmo tempo em que chora, agradece a Deus pelo seu filho estar bem até aquele momento. A mãe de UTI olha ao lado a dor da sua vizinha de leito e se compadece com a dor alheia.

Quatro dias depois do nascimento, que alegria, ela começou a ingerir leite materno pela sonda. 1 ml de 3 em 3 horas!

Com vinte dias, no dia de Santo Antonio, ela fez uma cirurgia cardíaca e tudo correu bem, até a recuperação.

Nós mudamos de sala na UTI quatro vezes. Catarina teve 4 pneumonias. Ficou entubada por 111 dias. A partir deste dia, em que ela arrancou o tubo de oxigênio, eu pude ouvir sua voz. Foi como música para os meus ouvidos.

Fiz amigas de UTI e aprendi muito sobre traqueostomia, gastrostomia, síndrome de Partau, síndrome de Edward. Vivi momentos sinceros, abraços apertados onde a situação socioeconômica nada importavam, mas apenas um olhar e um ouvido atento para escutar aquela amiga que naquele dia não tinha tido boas noticias. Vi cinco crianças falecerem. Todas tinham mais peso que a minha bebê.

Encontrava outras amigas no lactário. Choravam porque não tinham leite. Trocávamos nomes de remédios que ajudavam no efeito colateral a produzir mais leite. Falávamos cada uma do seu caso e, assim, parecia amenizar aquela situação onde você tem que se despir na frente de alguém que você nunca viu, que fica te olhando e olhando o quanto você consegue tirar de leite.

Na UTI neonatal não podem entrar crianças de fora. Logo, minha outra filha conheceu a irmã no dia em que ela veio pra casa. Foram 154 dias de UTI. Foram necessárias onze transfusões de sangue e duas transfusões de plaquetas. Tem displasia pulmonar. Ela alcançou peso com quatro dígitos na segunda quinzena de julho, com quase dois meses de vida. E na mesma semana eu pude pega-la no colo pela primeira vez. É indescritível a sensação de fazer o primeiro canguru com seu bebê.

Eu rezei para que ela viesse pra casa livre de qualquer resquício da prematuridade extrema. Ela veio, mas não como eu sonhei. Como outra mãe da UTI, preferi  chamar o motorista da ambulância de choffeur particular, para parecer menos traumático. Vir pra casa com serviço de home care não é bem o sonho de consumo de uma mãe de UTI , mas vir pra casa, apenas utilizando catéter de oxigênio na menor graduação existente, depois de quase ser desperdiçada como um aborto, não tem palavras que traduzam o sentimento de vitória.

Soraia Fiaccadori Braz

 

(Se quiser contar a sua história, mande um email para torero@uol.com.br)

 


A maternidade não pede licença
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trabalho

O aniversário de quatro meses de um bebê prematuro pode ser uma data terrível. É o término da licença-maternidade e o retorno da mãe ao trabalho.

Esta semana presenciei muito choro. Algumas de minhas amigas de UTI estão voltando ao serviço e sofrendo a dor da separação de seus pequenos.

O problema é que estas mães não tiveram chance de ficar em casa com seus filhos muito tempo, porque alguns deles acabaram de sair da UTI.

Com quem deixá-los?

Para quem não tem a sorte de contar com parentes próximos, o jeito é deixá-los nas creches. E o medo?

Medo de que não cuidem bem, que lhe falte atenção, que fique doente, que se machuque, que não seja bem alimentado, que acabe gostando mais do cuidador do que da mãe… E o pior de tudo é ficar longe daquilo que você mais quer ficar perto. O fim da licença-maternidade força a mãe a cortar o cordão umbilical, ou emocional, com o bebê.

A volta ao trabalho também vem atrapalhar um bocado o aleitamento materno. Certamente a mãe de UTI já teve algum problema com amamentação: ou o bebê demorou muito para ir para o seio, ou ela teve pouco leite, ou demorou para engrenar na rotina das mamadas. E para aquelas que sobreviveram aos quatro meses e ainda amamentam, ficar longe do seu bebê complica ainda mais essa tarefa.

Uma amiga minha, médica, voltou a trabalhar recentemente e em uma semana seu leite acabou. As muitas horas longe de seu filho diminuíram o estímulo para a produção, e ela, que já não era muito farta, secou.

Outra amiga, que trabalha com moda, optou por deixar a filha num berçário. Ela não tem parentes aos quais recorrer e o pai da bebê também trabalha fora. Ela percorreu, perto da casa dela, cinco opções. Escolheu o berçário que achou melhor, mas mesmo este não a deixou satisfeita. Ela está indo para o trabalho preocupada. E chora todos os dias.

Há um ano, minha prima, advogada, também chorou muito quando teve que deixar sua pequena de quatro meses na creche. Lembro de nossa conversa ao telefone, quando ela me contou isso. Ela mais chorava do que falava, e eu não consegui entender quase nenhuma de suas palavras. Agora que sou mãe, compreendo o que ela estava sentindo.

Como mãe de UTI, vejo a volta ao trabalho com um peso maior do que o normal. É difícil destraumatizar da experiência da UTI e delegar os cuidados intensivos do prematuro a outras pessoas. É muito difícil abrir mão da convivência intensiva com o filho em uma fase em que ele começa a se desenvolver e fazer fofurices. Torna-se  praticamente impossível sair de casa com seu bebê sorrindo pra você, como se não existisse mais ninguém no mundo.

Por mais que a mulher goste do que faça, o vínculo da mãe com o bebê nos primeiros meses é tão forte que tudo o que a gente pensa e quer é ficar ao lado do filho, cheirando, cuidando, babando, lambendo a cria.

Eu também não passarei incólume pelos quatro meses. Não tenho carteira assinada e me dei uma licença-maternidade por conta própria, mas os projetos que posterguei por causa do parto prematuro começaram a virar monstros de desenho japonês e já me atormentam.

Tenho pelo menos um relatório Godzilla para terminar até o final do mês e outros dois ainda sem data oficial de entrega. Haja cabeça. E braços, para dar conta de tudo. Trabalhar de casa não refresca muito meu retorno ao trabalho. Não tenho babá e os cuidados de Matias ficam por minha conta e de Torero, que já voltou ao ritmo intenso de labuta há algum tempo.

Ainda me pergunto como vai ser possível trabalhar e cuidar de Matias no meio de suas imprevisíveis crises de cólica e de choro. Se para mim já está difícil alcançar a meta de tomar um banho por dia, imagine ter que se concentrar, na frente do computador, pensando em estratégias para clientes? Logo eu, que estou sem estratégia nenhuma para encarar a retomada do trabalho.

Existe licença-maternidade, mas a maternidade não pede licença.


O sorriso mágico dos bebês
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(Hoje, Torero escreve em azul e Maria Rita, em preto)

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Matias está rindo. E muito.

Mal acorda e já dá belas risadas com suas gengivas vazias.

Ele já dava alguns sorrisos antes, mas agora eles acontecem com muita facilidade. E nós derretemos, é claro.

O interessante é que os sorrisos começam a acontecer quando os pais já estamos exaustos por conta dos primeiros meses de cuidados intensivos com os bebês.

O cansaço, as olheiras, as noites sem dormir e os braços cansados de carregar o bebê durante as crises de choro, tudo isso é esquecido quando eles riem para nós.

A risada para os pais é uma recompensa. É o pote de ouro no fim do arco-íris.

E não é à toa que os bebês são fofos. Há quem diga que a risada dos bebês é uma prova da teoria da evolução de Darwin. Uma prova da seleção natural.

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O sorriso aumenta o índice de fofura, e isso faz com que os adultos lhes prestem mais atenção, aumentando o cuidado que têm com eles, garantindo assim a sobrevivência dos filhotes e a perpetuação da espécie.

Trata-se de um truque para garantir os cuidados parentais. A mesma tese explica porque os filhotes de cachorros e de gatos são tão lindinhos.

Matias utiliza bem os seus poderes. Sempre que vê alguém pela primeira vez, dá um daqueles sorrisos com um gemidinho, o que automaticamente transforma a pessoa em uma escrava. Tanto isso é verdade que a frase mais comum depois de uma de suas risadas hipnóticas é “Posso segurar ele um pouquinho?”.

Ele é como o Gato de Botas do Shrek, só que, em vez daquele olhar pidão, usa o sorriso.

O golpe é ainda mais eficiente em avós babões e tias corujas. Estes pobres seres, já predispostos a amar incondicionalmente, não têm a menor defesa contra os sorrisos sedutores de um bebê. Se Matias soubesse falar e dissesse “Me dá seu carro, vovó?”, elas entregariam a chave na hora.

Mas o riso como elemento de sedução não é uma exclusividade humana. Segundo Katie Slocombe, especialista em cognição da Universidade de York (Grã-Bretanha), ''Quando um chimpanzé ri, isso parece estimular seu interlocutor a continuar a brincar, assim como faz um bebê tentando manter a atenção de um adulto.''

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A tática risadal de Matias é tão sofisticada que ele conseguiu desenvolver vários tipos de sorrisos. Há uma risadinha irônica com o canto da boca, um sorriso safado em que ele põe a linguinha de fora, uma risada larga, com a boca bem aberta, uma risada contida, com a boca fazendo apenas um traço, e uma gargalhada que é quase um grito. E às vezes ele ainda olha para a pessoa com o canto de olho e inclina levemente a cabeça. É infalível! Não há quem não se torne seu adorador.

Mas pode ser que estejamos sendo maquiavélicos demais. Talvez o riso das crianças não seja um recurso instintivo para garantir sua sobrevivência, talvez não seja uma demonstração da teoria da evolução de Darwin.

Talvez ele apenas sorria porque está feliz, porque sente que é amado.

Ou talvez seja isso que ele quer que a gente pense.


A Fuga da Ilha Maternália
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(Hoje, Rita escreve em preto e Torero, em azul)

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Consegui! Depois de três meses de confinamento, fugimos da ilha Maternália!

A quarentena de Matias já havia sido afrouxada pela médica. Mas isso não bastava. Havia vários outros “ses”. Só poderíamos sair se não houvesse perigo de chuva, se o sol não estivesse terrível, se não estivesse muito frio e se não houvesse trânsito nas ruas.

 Então olhamos pela janela e tudo estava perfeito. Todos os “ses” tinham se tornado realidade.

Eu gritei: “Vamos levar o Matias para passear!”

Eu nem acreditei, porque Rita parecia ter abraçado a vida de eremita para sempre, cuidando de Matias sem sair de casa. Eu já a tinha convidado algumas vezes para sairmos com ele, mas ela sempre achava algum obstáculo instransponível, como uma perigosa brisa.

Comecei a preparar o carrinho para saída. E passei a explorá-lo, porque até então ele só servia como uma caminha para Matias. Foi aí que descobri como o carrinho dobrava, que ele tinha freio e que possuía várias bolsas.

Tratei de arrumar Matias rapidamente, antes que Rita mudasse de ideia.

Ele ficou lindinho, com body dos Beatles, calça jeans e meias xadrezinhas. Mas faltava um chapéu. Ele não podia sair na rua sem um chapéu.

Testamos alguns modelos. Ganhou um boné que combinava com a meia.

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O carrinho mal cabia no elevador. E eu mal cabia de ansiedade. Seria meu primeiro passeio desde que a bolsa estourou (se você não leu este texto, clique aqui: http://barrigudos.blogosfera.uol.com.br/2013/07/23/nasceu/).

Gildásio, o porteiro, abriu um sorriso e o portão dos carros. Foi uma saída em grande estilo.

Ele me disse: “A senhora estava sumida, hein dona Maria Rita?”

Quando saímos do prédio, percebemos que o passeio teria um toque de aventura. É que as calçadas de São Paulo são uma prova de rali. Elas têm buracos, árvores, são estreitas e possuem minas (não as explosivas, as de cocô).

Matias chacoalhava feito aqueles bonequinhos com pescoço de mola que ficam no painel do carro. Pensei que ele fosse começar a chorar, que teríamos que voltar a qualquer momento, mas não.

Ele dormiu.

Andamos por um quilômetro. Mil metros! Eu não andava tanto desde o meu parto. Estava tão contente que cumprimentava todo mundo que passava.

Aí decidimos que já tínhamos andado bastante.

Na volta, as nuvens se abriram e o sol ficou mais forte.

Matias acordou e começou a chorar.

Fechamos a “capota” do carrinho e apertamos o passo.

Chegamos em casa suados. Todos os três.

Mas valeu a pena. A sensação de liberdade, de finalmente poder levar o filho para a rua, para a vida comum, foi uma delícia. Há três meses ele estava numa incubadora, e o céu, para ele, era o teto da sala de UTI.

Domingo ele viu céu de verdade. E árvores. E nuvens. Viu tanta coisa que, depois que chegou em casa, foi difícil de dormir.

Mas, quando dormiu, gostou do que sonhou.

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Os dez mandamentos do Rei do Berço
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O vídeo do Rei do Camarote fez tanto sucesso que foi visto até aqui, na Ilha Paternália. Caso você não tenha assistido, o link é este: http://www.youtube.com/watch?v=atQvZ-nq0Go.

 Pois bem, o vídeo é tão engraçado (mesmo que involuntariamente) que resolvemos fazer os Dez Mandamentos do Rei do Berço. Ei-los:

 Em primeiro lugar, para ter um Rei do berço, você deve vesti-lo com roupas das melhores grifes, tipo Armani Junior. Afinal, dá muito mais gosto babar numa jaquetinha que custa 450 dólares.

 Ele também tem que ter um carrinho, um carrinho potente. A Ferrari é um mito, um sonho de consumo, mas, quando o assunto é carrinho, o quente mesmo é o da Aston Martin. Custa mais de sete mil reais lá na Inglaterra. Importando deve ficar bem mais caro.

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Quando o bebê está no berçário, é mais um. Mas no berço ele fica em evidência. É uma questão de status. E a conta… você já sabe, né? Este aqui em cima custa vinte mil dólares. A marca é a  Posh Tots e ele é todo feito em cedro. Isso sim é um berço esplêndido.

 A cadeirinha tem que ser da Swarovski.  Ela é feita de metal reforçado, tem assento prateado e detalhes em cristal. É tão chique que a mamadeira tem que vir com aquela vela de aniversário que solta foguinho.

Aquecedor de lencinho umedecido é um luxo. E o que são duzentos reais?

Chupeta é essa aqui embaixo. Custa só 30 mil reais. É feita em ouro branco e tem 278 diamantes incrustados. Se o seu bebê é daqueles que praticam arremesso de chupeta à distância, é bom tomar cuidado.

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Outra coisa importante é a lixeira que neutraliza o odor da fralda suja. Custa o preço de um carrinho, mas como ter o nariz empinado com cheiro de cocô por perto?

 Babador? Gucci é Gucci, gente. Nada melhor do que Gucci para o bebê que ainda faz guti-guti. E o preço é uma pechincha:  U$ 120.

 Em volta do berço tem que ter babás, babás bonitas, porque não faz sentido você ter tudo aquilo ali e não ter babás. Não adianta ter bercinho chique, cadeirinha de cristal e chupeta de diamante se não tiver babás. É como ter uma banheira e não ter um patinho para brincar.

E um verdadeiro Rei do Berço tem que ter um superursinho de pelúcia. Um bom ursinho de pelúcia agrega valor. Agrega valor às babás, às mamadeiras, à fralda, ao que tem dentro da fralda, a tudo. O ursinho da fábrica alemã Steiff custa 87.400 dólares. É feito com fios de ouro, pupilas de safira e íris de diamante.

Enfim, quem é que não quer ter um carrinho da Aston Martin, um babador de 250 reais, um berço mais caro que um carro e um ursinho que vale um apartamento?

 Nós. Nós não queremos.     


O pequeno gigante perde suas roupas
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roupinhas(Hoje Rita escreve em preto e Torero, em azul)

Como olhamos para Matias todos os dias, não temos noção do quanto ele está crescendo. Só sabemos disso pelas roupas, que vão ficando cada vez mais apertadas.

E pelas minhas costas, que vão ficando cada vez mais doloridas.

Esta semana tivemos que fazer uma limpa. Matias perdeu uma gaveta inteira.

As roupas de tamanho RN (recém-nascido) foram aposentadas.

Cada macaquinho bonitinho… E algumas a gente só usou umas poucas vezes…

Percebemos que ganhamos mais roupas RN e P. No nosso caso deu certo, mas imagino que os pais que têm filhos que nascem a termo devem perder roupa muito rapidamente.

Que desespero ter que comprar todo o enxoval de novo, de novo e de novo!

Na verdade, nós também passaremos por isso. É só questão de tempo. E no nosso caso ainda teremos que abandonar mais roupas. Como Matias nasceu muito pequeno, tivemos que comprar um enxoval para prematuros. E perdemos esta numeração inteira.

O triste disso é quando a gente acha uma roupa bonitinha e não consegue usar mais do que duas ou três vezes. Por exemplo, ele tinha um macaquinho de ursinho que era lindo, dava vontade de colocá-lo sempre, mas agora nem fecha. E eu me arrependi de não tê-lo usado mais.

Temos uma regra de usar cada roupa pelo menos uma vez. Mas houve um conjunto de casaco e calça que eu trouxe de uma viagem ao Nordeste que nem isso conseguiu. Ela tinha uns cactos verdes bordados muito simpáticos, mas esta semana, quando fomos colocá-lo em Matias, os botões quase arrebentaram. Ele ficou parecendo um desses gordos que vemos nos balcões de bares pedindo um torresminho.

Ontem Matias perdeu seu primeiro sapato. Que foi usado só uma vez. Ainda por cima, para ir à médica. Ele era lindo, o primeiro tamanho possível de sapato para um bebê, dado por uma prima querida. Mas apertou o pé de Matias como o sapato da Cinderela esmagou o pé das irmãs malvadas. Ele chorou e tivemos que tirar o sapato imediatamente.

Em compensação, esta semana Matias usou sua primeira calça jeans. E ficou muito alinhado.

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O bom de perder roupas é que a gente sempre tem a possibilidade de estrear outras, mais divertidas. Estou louca para colocar uma roupa de sapinho nele. Mas a numeração é G e teremos que esperar um pouco. Parece que a cada numeração existem mais possibilidades para deixar nosso filho um fofo.

Falando nisso, como parei de fazer qualquer ginástica, aumentei um número e tive que comprar umas calças novas. Também estou mais fofo. Mas no mau sentido.

 

*    *    *

 

PS: Em sites como o Mercado Livre há milhares de itens (alguns são lotes grandes) de roupas de bebê usadas. Você pode vender as suas ou comprar as do próximo tamanho, se não tiver preconceito contra roupas de segunda mão. E brechós geralmente aceitam trocas, de modo que você pode trocar suas roupas pequenas por outras maiores.

 

 


Cólica, essa maldita
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Nessa última semana Matias abriu o berreiro em decibéis jamais alcançados. Se algum morador do prédio suspeitava que havia um novo morador no 114, suas dúvidas foram eliminadas. Tenho certeza que o choro de Matias foi ouvido até na drogaria da esquina.

Não foi choro de fome, nem de colo, nem de birra. Matias teve algumas de suas piores crises de cólica desde que saiu da UTI.

A cólica, essa maldita, não tem hora para começar, nem para acabar. Em geral vem acompanhada de alguns punzinhos ou de gases se mexendo na barriguinha do bebê. Às vezes, para Matias, também surge antes de um grande cocô.

Parece que em prematuros a cólica pode ser ainda pior, mais constante e mais intensa. Matias bem sabe.

É difícil encarar a cólica como algo natural em bebês novinhos. Não é justo que algo incomode tanto um serzinho tão pequeno.

A cólica não dói só no bebê. Dói no pai e na mãe também. Por exemplo, carreguei Matias o tempo todo com sua barriga virada para baixo. Essa é uma posição anticólica ótima para ele, mas desajeitada para mim. Com seu peso, minhas costas ficam arqueadas como as do corcunda de Notre Dame, e isso tem rendido algumas dores constantes.

Como mãe, faço tudo o que posso para aliviar a dor de Matias. São diversos métodos que aprendo e aplico na base da tentativa e erro.

Por exemplo, quando uma grande cólica chegou por esses dias, tentei carregá-lo no sling, que em geral o acalma. Mas descobri que durante a crise o sling mais atrapalha do que ajuda. É que Matias fica esticando fortemente as perninhas, como manobra para tentar liberar os gases, e no sling há pouco espaço para contorcionismos. Como resultado, ele ficou mais incomodado e chorou ainda mais.

Em outro pico de dor, tentei fazer massagens anticólica: comecei com o sobe-e-desce da perninha, seguido de movimentos circulares na barriguinha. Matias gostou e parece que relaxou da dor no instante da massagem. Mas foi só parar que a cólica voltou com tudo.

Também coloquei em ação a almofada térmica de sementes.  Ela funciona como uma bolsa de água quente, só que é feita com sementes que podem ser aquecidas no microondas. É prática e mais segura para o bebê porque não há perigo de estourar e vazar. Com apenas 40 segundos no microondas ela já fica quentinha na medida certa para uso. Mas infelizmente não poderei mais usá-la. O Tico brigou com o Teco e por engano marquei no visor do microondas 40 minutos, em vez de 40 segundos. Resultado? Infectei a casa com fumaça e cheiro de grãos queimados. Tive que jogar a almofada fora. E fiquei com um estranho desejo de comer pipoca.

Para aliviar as crises, tenho colocado Matias no banho de ofurô . Parece algo chique, mas o ofurô é literalmente um balde bonitinho e um pouco mais reforçado do que aqueles da lavanderia de casa. Matias adora ficar imerso nele como um saquinho de chá. Só não sei se, ao sair, seu choro é da cólica que não passou ou da frustração do banho ter acabado.

Por fim, faço uso dos remédios para gases, que não acabam com a cólica, mas aliviam um bocado.

Um bebê com cólicas paralisa uma casa e mobiliza mãe e pai. Todos ficam em função de fazer com que aquele choro desesperado acabe o quanto antes. Por conta disso, tenho acumulado alguns recordes nessa semana: menor tempo dormido por dia, menor número de banhos tomados, maior olheira de todos os tempos, pior cabelo da história.

Os especialistas dizem que as cólicas em bebês costumam acabar por volta dos três meses. Como Matias já alcançou essa idade, eu e Torero teríamos que comemorar, pois o sofrimento estaria no fim. Mas não. Como ele é prematuro, é como se ainda tivesse dois meses de vida. Não adianta chorar. Parece que teremos mais um mês choroso pela frente…

 

P.S.1- Este texto, um tanto atrasado, foi feito às pressas em um intervalo de cólica do Matias.

P.S.2- Se alguém tiver alguma dica anticólicas, por favor, envie.


Chega de moleza! É hora de criar as Olimpaiadas!
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Caros pais, caríssimas mães, nós precisamos de esporte. E de um esporte específico para nós, pais e mães.

Se há toda uma olimpíada para deficientes físicos (que é muito justa e cheia de histórias comoventes), por que não fazer uma olimpíada para os pais de bebês com, digamos, até seis meses de idade, estes pobres seres que ficam alijados da atividade esportiva?

Pois bem, aproveitando que os Jogos do Rio de Janeiro estão se aproximando, venho humildemente propor a criação das Olimpaiadas.

Comecei a pensar nestes novos jogos quando vi que meus braços, de tanto carregar o Matias, estavam com músculos que eu nunca tive antes. Então passei a observar outras atividades paternas e percebi que havia outras que mais pareciam novos esportes.  Foi assim que cheguei à Olimpaiada, que inicialmente teria sete provas, disputadas no masculino e no feminino:

Levantamento de bebê: Seria mais ou menos como a prova de levantamento de peso. O vencedor seria aquele que levantasse mais vezes o seu filho, multiplicando-se este pelo peso. Ou seja, se um pai levanta 100 vezes uma criança de 5kg, faz 500 pontos. Se outro levanta 90 vezes uma criança de 6kg faz 540 pontos. Pais de gêmeos poderiam competir com um filho em cada braço.

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Maratona: É aquela em que os pais ficam andando por várias horas com o bebê no colo, geralmente da sala para a cozinha e da cozinha para sala. Minha impressão é que passa dos 42 km. E obviamente ela terá que ser disputada de madrugada.

110 metros de corrida de carrinho com obstáculos: Numa calçada cheia de buracos (o que é bem comum), os pais terão que levar seus bebês dentro de seus carrinhos o mais rápido possível. Se o bebê chacoalhar demais e chorar, o competidor será desclassificado.

Troca artística de fraldas: Aqui, assim como na ginástica rítmica ou nos saltos ornamentais, o que vale é a estética. Ganha o pai que fizer a troca mais perfeita. Ou seja, aquele que limpar seu filho com movimentos mais harmônicos, que fizer a amarra mais perfeita e que passar o creme contra assaduras com mais arte.

100 mililitros rasos: Esta prova, de muita velocidade, depende principalmente do entrosamento entre pais e filhos. Ganha a dupla que conseguir matar 100 ml de leite mais rapidamente. Para complicar, o bebê que babar ou regurgitar será desclassificado.

Limpeza aquática: Vencerá o pai que, ao dar banho em seu bebê num determinado tempo, deixar seu bebê mais limpo. Juízes examinarão as crianças minuciosamente, procurando inclusive aqueles rolinhos que ficam escondidos nas dobrinhas do pescoço. Em caso de empate, ganha o bebê que cheirar melhor.

Tiro ao alvo: Aqui o pai não é o atirador, mas o alvo. Os pais usarão uma camisa com um alvo no peito, com uma pontuação de zero a cem pontos. Assim, a criança que fizer xixi mais perto do centro vence. Se bem que acertar o olho paterno vale 200 pontos. Acho que, nesta modalidade, eu e Matias temos grandes chances.

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O COB pode achar minha proposta um tanto absurda, mas é uma maneira de incluir os pobres genitores no mundo esportivo. E isso é bem importante, porque nós temos que abdicar de qualquer atividade física mais sistematizada. Eu, por exemplo, engordei três quilos desde que Matias nasceu.

Enfim, chega de esportes antigos e antiquados. Vamos inovar!

É ouro, Brasil!


Prematuros têm duas idades
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Nos últimos tempos tive problemas com os boletins semanais sobre desenvolvimento dos bebês.

Quando descobri que eu estava grávida, assinei todos os boletins de todos os sites que encontrei. Eu amava acompanhar o que acontecia com o bebê dentro da minha barriga. Esperava ansiosa pelo início de cada semana para descobrir qual era o peso aproximado de Matias (que na época não era nem Matias, mas Júnior-Júnior), se ele já ouvia os sons dentro do útero, se os órgãos já estavam formados, se ele já tinha cabelo ou não. E os vídeos? Eu adorava quando os boletins vinham com links para vídeos ilustrando as etapas da gravidez. Tudo muito lindo e fofo.

Mas Matias decidiu vir antes do tempo e a prematuridade não tem espaço nos sites sobre gravidez.

Enquanto Matias estava na UTI era muito cruel olhar para minha lista de e-mails e encontrar por lá informações sobre uma semana da gestação que eu não mais viveria. Passei a odiar cada boletim gestacional profundamente, porque eles me lembravam de algo que havia sido interrompido e me jogavam na cara uma realidade que estava sendo dolorosa.

Tentei descadastrá-los um a um, mas não tive sucesso. E isso só fez com que minha raiva por eles aumentasse ainda mais. Procurei em cada site um possível ajuste na ferramenta dos boletins, afinal, nem todas as mulheres darão à luz exatamente na data prevista para o parto, e eu imagino que ninguém goste de receber dicas sobre algo que deveria ter sido.

Mas, ultimamente, esses cruéis boletins sobre bebês têm chamado minha atenção novamente.

Há mais ou menos uma semana, Matias tem nos presenteado com largos sorrisos, começou a firmar o pescoço e tem acompanhado objetos interessantes com o olhar, como uma girafa amarela que faz um som estridente. No começo, achamos que ele estava espertíssimo.  Mas vimos nos boletins de desenvolvimento dos bebês que os sinais que Matias dava eram de uma criança com um mês a menos do que ele.

Meu primeiro instinto foi re-odiar esses boletins. Mas depois descobrimos com nossa pediatra que não adianta olharmos para Matias como uma criança de três meses, sua idade atual. Para acompanharmos o desenvolvimento de prematuros, a idade tem que ser corrigida de acordo com a idade gestacional. Ou seja, Matias hoje teria dois meses e não três.

Os boletins estavam certos. Agora que Matias tem 3 meses, tem que fazer as coisas de dois meses, porque nasceu de 33 semanas e meia, e não de 40.

Quando Matias fizer quatro meses, ele deverá ser capaz de dar gargalhadas, terá que estar com a cabeça firme, enxergar e reconhecer – que são coisas esperadas para crianças de três

Isso quer dizer que o mapa astral de Matias vale a partir do dia em que ele nasceu, mas o tempo corrido de seu nascimento não vale nada para medir o seu desenvolvimento. Pelo menos até ele completar um ano de vida.

Acho que não voltei a amar os boletins semanais de desenvolvimento de bebês. Mas já não os odeio. Digamos que fiz as pazes com eles.


Carta aberta ao senhor Sling
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No último texto, Rita escreveu uma carta para Shantala, a mãe que teria ensinado a massagem indiana para o doutor Frederic Leboyer, que por sua vez a ensinou para o mundo. Fiquei com inveja e por isso hoje também farei uma carta aberta. Mas para o senhor Sling. Vamos a ela:

 

''Caro senhor Sling, não sei se o senhor nasceu na Ásia, na África ou se é parente do Sting, mas desconfio que o senhor era escritor.

Penso isso porque é praticamente impossível escrever se você é pai de um bebê. Toda hora há que pegá-lo no colo, seja porque ele está com cólica, seja porque dá vontade de tê-lo por perto.

Deve-se tomar cuidado com as migalhas de pão quando se usa um sling.

O problema é que, mesmo que eu faça um malabarismo e segure-o com apenas uma mão, não é fácil digitar com a outra. Eu, que escrevo usando só com dois dedos, o indicador e o médio, passo a digitar em passo de tartaruga.

Mas com o sling tudo é divino maravilhoso. Matias fica confortável, tranquilo, e eu posso escrever com meus quatro dedos.

Além disso, o sling me deixa com um certo ar romano, ou mesmo indiano, dependendo do modo como ajeito o pano.

Para gêmeos, aconselha-se tecidos e coluna reforçados.

Imagino, caro Sling, que o senhor deve ter inventado este suporte num dia em que estava atrasado para entregar seu texto para o blog (como eu, hoje). Imagino-o atrapalhado com Sling Junior, até que pegou um lençol, deu um nó diferente e inventou uma espécie de rede para o pequeno.

Além de deixar as mãos livres, há mais uma vantagem. É que Matias já chegou aos cinco quilos, ou seja, é doce e pesado como um saco de açúcar, e levá-lo para lá e para cá está acabando com minhas costas. Mas, com o seu instrumento, o peso fica mais bem dividido. Parte vai para o ombro, que ainda não está estragado. E assim já não ando como o corcunda de Notre Dame.

O sling tem mil e uma utilidades.

Rita diz que o sling dá uma sensação de ele estar mais perto, de recuperar a barriga da gravidez. Como nunca perdi a minha, isto não me afeta tanto.

A bem da verdade, há dias em que Matias não suporta ficar no seu invento. Ele quer é colo. E aí não tem jeito. Tenho que usar as mãos mesmo.

Ou melhor, mil e duas.

Com o sling fico me sentindo um pouco canguru. E isso é bom. Lembro do canguru que fazíamos na UTI. Só que agora Matias está com o triplo do peso, o que torna sua criação muito útil.

Acho que seu invento também deve ser bom para o bebê, pois deixa-o numa posição parecida com a da gravidez. Quando ele nasce, não fica mais todo encolhidinho e vai para um berço enorme, como se fosse uma cama de motel para um adulto. O sling deve lhe devolver um pouco da sensação de acolhimento. Aliás, Matias às vezes fica numa posição de contorcionista em seu sling, mas lemos uma reportagem que diz que isso não atrapalha seu crescimento.

Uma opção mais viril de sling é o modelo cowboy.

Falam até que seu sling, senhor Sling, ajuda a diminuir as cólicas. Mas ainda não mensuramos isso. Se conseguir, será um feito e tanto, porque cólica é o principal motivo dos choros de Matias.

Enfim, caro Sling, quero agradecê-lo por sua grande invenção. Ela facilita minha vida e é o único jeito de eu ter algo em comum com Brad Pitt.

 

Um abraço, Torero.''