Barrigudos

Mãe, você vai ser avó!

Barrigudos

Depois do primeiro ultrassom, ficamos em dúvida sobre quando contar para os outros sobre a gravidez. Parece que há um costume judeu de esperar três meses. E o Padre Marcelo disse o mesmo recentemente. Tem a ver com olho gordo. Coisa muito científica.

Na verdade, andei lendo que 90% dos abortos espontâneos acontecem até as primeiras 12 semanas.

Aí a gente falou: “Vamos esperar os tais três meses para sair contando”.

Só que ninguém faz ideia das dúvidas, das tensões e minhocas que caraminholam pela cabeça da gente nestas primeiras semanas. E que ficam maiores quando a gente não divide isso com ninguém.

Ainda mais num primeiro filho. Aparecem muitos medos. O começo de uma gravidez não é um abrir garrafa de champanhe.  Aparecem um monte de fantasmas.

Para manter o segredo, eu e Torero começamos a falar em código, ficávamos mais em casa e passamos até a mentir: aquela minha cara de enjoo era uma indigestão de feijoada, o meu sono era excesso de trabalho e a nova tara por limão era uma dieta doida que eu estava experimentando.

Pior foi quando uma prima da Rita ligou e disse que tinha sonhado que ela estava grávida.

Eu neguei. Três vezes.

Uma noite, conversando na cama, não aguentamos mais e decidimos contar. Pelo menos para nossos pais.

E, já que íamos fazer isso, que fosse de um jeito divertido.

Eu ganhei como brinde um perfume “Vô” e um hidratante “Vó”. Rita cresceu os olhos em cima daquilo.

Achei que seria perfeito contar sem contar, dando um presente que já dissesse tudo.

Marcamos de comer uma pizza na casa dos pais da Rita. E na sala, antes da pizza chegar, demos os presentes.

Minha mãe abriu o pacote rapidinho. Quando olhou para o nome do hidratante, perguntou: “Tem uma mensagem escondida aqui?”

Já o seu Ludovico nem tinha conseguido tirar o laço do pacote.

Eu olhei para ela e balancei a cabeça, em sinal de positivo.

Dona Annita saltou da cadeira e veio abraçar a gente. E o seu Ludovico sem entender nada. Só lutando contra o embrulho.

Ela me disse: “Eu não esperava mais isso de você! Que maravilha!”

“O que foi?”, perguntou seu Ludovico com o pacote ainda fechado na mão. Respondi: “A Rita está grávida”. “A Rita?”, ele perguntou. E logo seus olhos começaram a marejar.

Foi a melhor notícia da vida deles. Eu demorei tanto que eles nem esperavam mais serem avós.

Todo mundo ficou falando ao mesmo tempo, em pé, se abraçando no meio da sala. Depois de uns minutos, eu cansei e sentei no sofá, esperando que eles fizessem o mesmo. Mas todo mundo continuou de pé e eu que tive que me levantar de novo.

Eles abriram um vinho e a pizza chegou. Não sobrou quase nada. Felicidade dá fome.

O passo seguinte era contar para a minha mãe. Tentamos ser criativos e compramos um copo de champanhe escrito “vovó”. Entregamos o presente, ela abriu e disse apenas: “Obrigada”.

É que a Litz já era avó. Logo não havia nenhuma novidade naquela taça.

Tentei ajudar dando algumas pistas: “Esse copo é para comemorar”, “Comemorar ser avó”, “Ser avó…”

E ela não matava a charada. Pensou até que aquele era o dia da avó.

Aí ela ficou um tempo em silêncio. De repente, olhou para mim e gritou: “Você está grávido!”. E veio correndo me abraçar. Eu disse: “Ela também está'', e apontei para a Rita. Só então ela foi cumprimentá-la.

Acabou sendo reconfortante contar para nossos pais, porque eles nos tranquilizaram, nos deram colo e vibraram muito com a notícia.

Ser pai com os pais por perto traz uma certa paz.