Barrigudos

Arquivo : junho 2013

Como é triste a separação durante a gravidez (versão masculina)
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Hoje escreverei sozinho. E sobre um assunto triste. É que eu e Rita estamos separados há uns dez dias. Não, não é um divórcio. É uma separação geográfica.

Como estou cobrindo a Copa das Confederações para a Folha de S.Paulo, ando viajando muito. Hoje, por exemplo, estou indo de Fortaleza ao Rio de Janeiro, para ver a final. É claro que isso é divertido. Mas também causa uma certa ansiedade ficar longe da barriga de Rita. Sinto que estou perdendo alguma coisa, que não estou ajudando o quanto podia.

Mas a sensação mais terrível foi quando desmaiei. Ou quando acordei do desmaio. Explico:

Eu estava viajando de Salvador para Recife. Mal o avião levantou voo, comecei a suar gelado. Tirei a blusa que levo por conta do ar condicionado e fiquei só de camiseta, mas não adiantou. Continuei suando. Resolvi ir ao banheiro. Quando estava no corredor, me deu algo como uma preguiça imensa, um sono instantâneo, e eu desabei. Mas só percebi isso quando abri os olhos e vi a aeromoça me perguntando: “O senhor está bem?”. Nem consegui responder, o que em si já era uma resposta.

Fui levado até o chão perto da cabine, onde continuei deitado, com as pernas levantadas sobre uma dos assentos das comissárias. Minha camisa estava empapada de suor. A enfermeira perguntou pelo microfone se havia um médico a bordo. Para minha sorte, havia uma médica e uma enfermeira. Equipe completa.

Quando consegui pensar um pouco, me perguntei: “O que será que eu tenho? Será que eu vou morrer antes de ver o meu filho? Que droga! Quem mandou esperar tanto?”

Enquanto a médica checava minha pressão e a enfermeira procurava uma veia para me por no soro, eu continuava a ter pensamentos tétricos: “E se eu estiver muito doente e nem puder voltar para São Paulo? Será que Rita vem para cá, ter o bebê aqui? E se eu não sobreviver nem três meses? Será que é leucemia? Um tumor no cérebro?”

Foram pensamentos um tanto dramáticos, eu sei. Mas nunca tinha desmaiado antes. E é um tanto assustador você apagar de repente, ficar sem domínio do corpo. O engraçado é que não pensava no terrível que é morrer, pensava no terrível que seria morrer sem conhecer meu filho, sem ver a cara do cara. Tinha chegado tão perto… Faltavam só umas dez semanas… Seria uma grande injustiça.

Então ativei meus poderes de recuperação de Wolverine, que foram ajudados por um tanto de glicose dado pela doutora Michele, e fui melhorando aos poucos.

Continuei deitado até quase o fim do voo. Mas sempre pensando que não iria cumprir minha obrigação de cuidar do pequeno. E nem teria o prazer de pegá-lo no colo.

Chegando em Recife, fiz os exames. Não era um tumor no cérebro, mas uma reles infecção viral.

Agora não vejo a hora de voltar para casa e esperar junto com a Rita. Pode parece que esperar, ainda mais para o homem, é não fazer nada. E talvez não seja mesmo. Talvez seja só ficar ali do lado. Mas isso já é bem bom.

 


Miami é aqui. Ou logo ali.
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A moda é comprar o enxoval do bebê em Miami.

Um tanto pelo glamour, outro tanto pelo preço baixo.

Mas o que poucos sabem é que existe uma Miami aqui mesmo.

Ou melhor, ali. Em Pernambuco. E conhecemos o lugar por acaso.

Torero participou do CinePE e aproveitamos para visitar uma escola que tinha lido os seus livros.

Essa escola fica em Santa Cruz do Capibaribe, no agreste pernambucano, a três horas de Recife.

Lendo sobre a cidade, descobrimos que ela possui o maior parque de confecções da América Latina e um grande pavilhão de 120 mil metros quadrados (o tamanho de 12 campos de futebol), com mais de 10 mil lojas.

Em dias de grande movimento, cem mil pessoas circulam por ali. Essa indústria fez a cidade crescer muito. Saltou de vinte mil para cem mil pessoas em menos de uma década.

No começo, ela era conhecida como Feira da Sulanca. As roupas eram feitas com elanca trazida do sul.

Mas eram de baixa qualidade. Com o tempo, a cidade atraiu indústrias de tecido e confecções, que foram se sofisticando e hoje atendem até o exigente mercado internacional.

Famílias inteiras se mudaram para lá em busca de riqueza. E têm conseguido. Uma simples costureira ganha cinco mil reais por mês. É uma espécie de Serra Pelada, só que de roupas.

Então é uma Serra Vestida.

Só que a indústria de confecções está consolidada e não vai acabar como o ouro.

Depois da palestra para as crianças resolvemos dar um pulo até lá, só para conhecer.

Começamos comprando algumas roupas para dar de presente, até que descobrimos que havia coisas para bebês e num preço inacreditável.

Aí Rita enlouqueceu.

Bodies e culotes a R$ 5, camisas polo de criança a R$ 3, macacões, meias, luvinhas, sapatinhos, kits-berço, jogos de lençol, cobertores, mantas, casaquinhos, saídas de maternidade, malas, tudo lindinho para os olhos e para o bolso.

Eu até fiquei por ali no começo das compras, mas depois de algum tempo desisti e fui comprar umas camisas de times de futebol (elas custavam quinze reais, em vez dos duzentos que estão custando as da seleção). Quando voltei à loja em que tinha deixado a Rita, ela estava atrás de uma montanha de roupas. Pensei que ela estava escolhendo. Mas não, aquela era a nossa compra.

Fui mostrando para o Torero as coisas que eu tinha escolhido. Ele também achou tudo lindo e barato. Só que tínhamos um problema: como levaríamos tudo aquilo?

A saída foi comprar uma mala. A maior que encontramos.

Lamentei não ter levado minha lista de enxoval, porque poderia ter comprado tudo ali.

Ainda falta alguma coisa?

Sempre falta. Criança perde tudo muito rápido.

Se você quer comprar roupas baratíssimas, não precisa gastar uma passagem para Miami. Pode ir até Recife, que é um lugar muito agradável, e dar um pulo em Santa Cruz do Capibaribe. A cidade não exige visto de entrada, você não precisa ser humilhado na alfândega, as atendentes falam português e recebem em reais.

Não se iluda, porém, que você encontrará por lá uma Miami nos detalhes do glamour. A estrutura é popular, os banheiros deixam a desejar  e o local é focado apenas em confecção, ou seja, carrinhos de bebê, berços e afins ficam de fora da lista de compras. Mas você ainda pode dar uma passadinha em Caruaru, que fica no caminho, onde tem a feira mais doida do mundo.

Chega de compras, Rita!


Em nome do filho
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Shakespeare já dizia que uma rosa teria o mesmo cheiro se tivesse outro nome. Mas se, em vez de se chamar William Shakespeare ele se chamasse Odroaldo Gilciclésio, ele talvez não estivesse sendo citado neste texto hoje. O nome faz diferença. Por isso é tão importante achar o nome certo para o seu filho.

Acredito que tanto eu quanto Torero temos que gostar do nome que dermos ao bebê.  Afinal, ele será uma das palavras que eu mais vou gritar na vida.

E a que eu mais vou escutar.

Curiosamente, nós tínhamos pelo menos cinco nomes engatilhados para o caso de o bebê ser uma menina. Mas ficamos numa sinuca de bico quando soubemos que vinha um menino.

Além de não termos nenhum nome na manga, inventamos algumas regras que deixaram a escolha ainda mais difícil.

A primeira foi o veto aos nomes duplos. Como sou Maria Rita e ele, José Roberto, sabemos que quem tem dois nomes não tem nenhum, porque cada pessoa nos chama de um jeito. Ora com só um dos nomes, ora com um dos nomes cortados pelo meio, misturando os dois e às vezes inventando um terceiro.

Outra regra é que não podíamos usar nomes de exes (exes é o plural de ex). Isso diminuiu muito nosso leque de ofertas, e não por minha causa.

Calúnias, Torero, calúnias…

Minha primeira opção, já que eu me chamo José e ela Maria seria… Jesus.

Barrabás!

Barrabás tem um som bonito. E seria uma boa propaganda para o meu livro “O Evangelho de Barrabás”, disponível nas melhores casas do ramo. Mas eu jamais faria merchandising.

Puxando a sardinha para minhas origens italianas, sugeri Lorenzo.

Mas eu tenho problemas com este nome por conta do filme “O óleo de Lorenzo”, que conta a história de um menino que sofre uma doença raríssima. No final, chorei feito um bezerro desmamado, ou como um torcedor que vê seu time cair para a segunda divisão.

Também gosto muito de Lucca.

É nome de cidade, não de gente.

E Lucas?

Jogou no São Paulo. Se é para colocar nome de jogador, vamos de Neylé, que mistura dois craques. Se você preferir, pode ser Peymar.

Acabo de criar uma nova regra, que nos impede de misturar nomes de jogadores.

Então vou criar uma que nos impeça de colocar nomes compridos.

Agora complicou. Não poderei chamar meu filho de Austregésilo ou Nicodemo?

Não. Mas podemos colocar nomes dos avós e bisavós. Ludovico, Giocondo, Altivo, Philúvio, Ariosto. Ou uma combinação de alguns deles.

Melhor deixarmos a família fora disso.

Eu gosto de nomes com tê, como Martim e Matias.

Martim é o nome de um parente distante, muito bigodudo, chato e com dentes amarelos. E Matias era o nome de um menino que me batia na escola.

Tá. E Eitor?

Só se for com agá. Heitor sem agá é como uma torrada sem geleia, como um brigadeiro sem granulado.

Sou contra o agá no começo de palavras. Eles não têm som, não servem para nada.

Eu acredito em homens com agá.

E Gael?

É perigoso. Rima com pastel e pinel. A gente tem que pensar no bullying que ele vai sofrer na escola.

Talvez a data do nascimento nos inspire. Se for em setembro, pode ser Setembrino. E se for no dia sete, pode se chamar Independêncio.

Só se, caso ele nasça em agosto, se chame Augusto.

Augusto é um nome muito convencido. Significa “majestoso”, “sublime”, “imponente”, “divino”, “venerável”.

Alguma outra ideia?

Nenhuma.

Então acho que nossa decisão vai ficar para a hora em que olharmos a cara do bebê.

Você prefere Joelhésio ou Joelhaldo?

 


Grandes pequenos sustos
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Vou começar atacando: mulher grávida é cheia de frescura!

Eu não diria que somos frescas. Diria que ficamos mais cuidadosas. Talvez um pouco neuróticas. Ok, a gente fica louca demais.

Agora você consegue admitir, mas na hora do surto, não. Aí acredita piamente que vai abortar em dez segundos.

Você só está dizendo isso porque eu encanei com a epidemia de dengue. Custa, uma mulher no meu estado, evitar as áreas contaminadas?

O problema é que você considera o mundo uma área contaminada.

O mundo, não. Só todos os lugares aonde a gente vai.

Ficamos mais de um mês sem ir para Santos. E, quando fomos, eu não podia abrir a janela. Qualquer mosquito era um assassino em potencial.

Não sei identificar um mosquito que é portador de dengue de outro que não é. Eu não fico com uma lupa para ver se ele tem pintinhas brancas ou não.

Logo, todos são culpados. E dá-lhe repelente! Você ficou mais lambuzada que telefone de açougueiro. Pelo menos o cheiro era bom. O que tinha naquele negócio?

Cravo (muito cravo), óleo de amêndoas e álcool. Foi a receita de um repelente caseiro.

O pior é que não adiantou.

Levei uma picada enorme na mão, muito dolorida e surtei.

Até que enfim admitiu!

Achei que tinha pegado dengue. E que tinha sido uma irresponsável por usar um repelente caseiro, em vez de um com icaridina, aprovado para grávidas. Toda hora ia medir minha temperatura para ver se a febre estava começando.

Surpreendentemente, não deu em nada. Assim como aquela vez em que você carregou uma sacola pesada e achou que ia perder o bebê.

Nem adianta me provocar, porque, enquanto eu estiver grávida, vou evitar levantar peso. Ou carrego o bebê, ou carrego as sacolas.

Evitar peso, tudo bem. Mas até massagem virou uma coisa perigosa.

Vou explicar: comecei a fazer sessões de drenagem linfática para diminuir o inchaço das minhas pernas. Grávida nenhuma merece ter o pé em forma de pãozinho. E eu não queria ter que comprar um número maior de sapato para usar só por alguns meses.

Você está justificando a massagem, não o medo.

É que me avisaram muito que a drenagem linfática para grávidas tinha que ser suave, e não poderia mexer na barriga. As primeiras que fiz foram assim. Mas teve um dia que uma nova massagista me atendeu e o procedimento foi bem diferente.

Explica o diferente.

Primeiro, ela começou com movimentos muito fortes, como se estivesse mudando a musculatura das minhas pernas do lugar. Depois, ela usou um aparelho que parecia um rolo compressor. Tenho certeza que todas minhas células de gordura foram achatadas. Até aí, tudo bem. Ou médio. Mas, quando ela começou a fazer movimentos vigorosos em minha barriga, pedi que parasse. Ela se justificou, dizendo que fazia isso em várias outras grávidas. Achei estranho, e encerramos a massagem por ali.

Uma hora depois Rita estava no sofá, com os pés para cima, com medo de que fosse acontecer uma tragédia. É que ela tinha lido na internet, esta maldita fofoqueira, que uma drenagem linfática mal feita poderia causar um aborto.

Eu sentia dores no baixo ventre e na pélvis. Dores estranhas. Não tive sangramento, mas o bebê se mexia como nunca.

Isso é verdade. Ele parecia estar dançando axé. Mas não justifica o medo que você sentiu. Se bem que eu desconfio desse medo. Por causa dele tive que fazer tudo em casa, desde o jantar até pegar uma água. Você não levantava do sofá para nada. Pensei que fosse até me pedir um peniquinho.

Quase pedi. Eu sentia muita cólica ao andar. Fiquei bem quietinha mesmo. Pensei em ligar para a médica, mas estava sem seu número de celular. Mandei e-mail, mensagem pelo Facebook, e quase tentei sinais de fumaça.

Foi uma noite tensa. Mas não precisava. O nervoso acabou sendo mais incômodo que a massagem. Talvez até mais perigoso.

Na manhã seguinte falei com a médica e ela me tranquilizou. Percebi que tinha feito uma massagem modeladora, e agora estou mais atenta para escolher profissionais que tenham longa experiência com gestantes. Vi que a drenagem linfática pode ser um benefício quando bem executada, mas, nem todas as mulheres podem fazê-la, e deve ser conduzida com leveza.

Agora você fala com tranquilidade, mas, no próximo susto, aposto que teremos um novo drama.

Estar grávida é passar por grandes pequenos sustos.

 


Se meu carrinho falasse…
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Mais difícil que comprar um carro é comprar um carrinho de bebê. São tantos modelos e acessórios que você fica perdido.

O pior é que os preços variam muito. Você acha carrinhos de R$ 150 a R$ 5.000. Ou seja, o mais caro custa 33 vezes mais do que o mais barato.

É a mesma diferença de um Fiat Mille para um Mercedes-Benz SL65, o safety car da Fórmula-1. Mas o Mille e o SL65 têm motores bem diferentes. O do Mercedes é um V-12 que faz de 0 a 100km/h em 4,2 segundos. O do Mille mal chega a 100 km/h. Já nos carrinhos de bebê, o motor é o mesmo: você (1hp).

Para ter tanta diferença de preço, os carrinhos de bebê tinham que vir com air bag, banco de couro, ar condicionado e, principalmente, um motor. De preferência, com controle remoto, para a mãe pilotar o carrinho sentada no banco do parque.

A variação de acessórios não chega a tanto. Mesmo assim, causa uma certa confusão. O que é melhor, um carrinho com quatro ou três rodas? Ele deve ter moisés e bebê conforto? Alça reversível faz diferença? E quanto aos modos de dobrá-lo: é melhor um mais simples ou um que ocupe menos espaço? 

O mais engraçado é que os pais para quem fazemos estas perguntas nos dão respostas totalmente diferentes. Para uns, o Moisés foi fundamental nos primeiros três meses do bebê. Outros nunca chegaram a usá-lo. E assim por diante…

Ser pai é padecer nas Feiras de Bebês e Gestantes…

E o carrinho não é única grande despesa que se tem na chegada do bebê. Berços, cômodas, armários, roupas, brinquedos, fraldas… toda uma infraestrutura é necessária. Se a gente não fizer as contas na ponta do lápis, é capaz de quebrar antes do bebê nascer.

Então pensamos: será que não existe uma rede de doação de usados para bebês? Eles se utilizam das coisas por tão pouco tempo que é um pecado jogá-las fora.

É uma afronta ao consumo consciente. E a maioria das pessoas fica com tralhas imensas, abarrotando quartinhos e banheiros.

Pois eis que, por sorte ou oração, uma amiga de Rita ofereceu-nos um carrinho.

Aleluia!

Era um carrinho de marca respeitável, com bebê conforto, bem conservado e com todas as peças. Só não estava muito limpinho.

Porque estava guardado há uns dois ou três anos.

Junto com o carrinho, a amiga nos indicou empresas especialistas em higienização.

Elas desmontam tudo e limpam peça por peça com produtos antialérgicos. No final, o carrinho fica como novo.

Por apenas noventa reais!

Me pareceu um bom negócio. Gastaríamos pouco mais que a metade de um Mille para ter um Range Rover.

Mas um amigo nosso, com cara de reprovação, falou: “Vocês vão querer uma coisa usada? Primeiro filho tem que ser tudo novo!”

Eu me senti ofendida. Era como se o fato de eu aceitar uma doação me fizesse uma mãe pior. Ou menos amorosa. Como assim, eu não faria das tripas coração para dar o melhor para meu filho?

Na internet, vi que com os cinco mil reais do carrinho mais caro, você compra um Peugeot 206, ano 2002. Vou deixar para quando ele fizer 18 anos.

Na mesma loja descobrimos que há a possibilidade de se alugar aqueles brinquedos caros e que as crianças aproveitam por pouco tempo. E também há brechós de roupas de bebê.

O que nos leva a uma questão: Qual o limite entre novos e usados?

Você compraria roupas de segunda mãe para seu filho recém-nascido? Alugaria brinquedos usados? Até onde vai o limite da reciclagem para você?

Dê sua opinião. Seja ela nova ou usada.


O sol não nasce para as hemorroidas
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Ninguém tem hemorroida. Ou, pelo menos, ninguém admite. Numa festa, você vê gente falando com naturalidade de dores nas costas, sobre problemas nos dentes, diabetes, colesterol alto, etc… Mas hemorroidas, nunca.

Tem gente que mostra a obturação nova, tem gente que mostra a cicatriz da operação de apêndice, mas ninguém vai mostrar aquele calombo que não vê a luz do sol.

Só que as pessoas têm hemorroidas. E as grávidas também.

Mas é claro que ninguém te conta isso. Ela é a vilã secreta da gravidez. Só vai descobrir quem tiver.

Nas capas de revista para pais você dificilmente verá uma manchete sobre o assunto (procuramos um bom tanto e não encontramos nada). O tema, quando aparece, fica na página de conselhos médicos, sem destaque.

É um assunto que entra pela porta dos fundos.

Maria, a mãe de Jesus, pode ter tido hemorroidas. A rainha Elizabeth também. E Angelina Jolie, com o peso da gravidez de gêmeos, mais ainda. Catherine Deneuve, Gisele Bundchen, Beyonce e até a presidenta Dilma Rousseff podem ter tido hemorroidas na gravidez. Mas nunca saberemos.

Eu tive. E pensei que era uma exceção. Nunca tinha tido isso. E, como ninguém fala que gravidez pode provocar hemorroidas, tomei um susto danado.

Nunca pensei que teria que sair em busca de uma almofada em forma de donut.

Um dia tomei coragem e comentei com algumas mães sobre o meu desconforto. Só então elas me contaram que tiveram hemorroidas em algum momento da gestação ou no pós-parto. Para minha surpresa, a maioria contou uma história sobre isso.

Mas é um assunto tão tabu que ninguém oferecia uma dica, nem apontava uma solução.

Teve a sua tia.

É verdade. Uma tia nonagenária, que já não tinha nada a perder, que já não se importava mais com falsos moralismos. Ela sugeriu um banho de assento com chá de mamona. E funcionou.

Mas você também usou os remédios receitados pela médica.

Ela explicou que aquilo acontecia porque a barriga já pressionava as veias da parte inferior do corpo. E me indicou dois remédios e meias de compressão para ajudar no retorno do sangue das pernas.

Eu só pude colaborar não tocando no assunto. Pensei em fazer um poema com rimas como meditabunda, furibunda, barafunda, iracunda e pudibunda. Mas desisti. Nestes momentos, a solidariedade há que ser profunda.

Para piorar, junto com as hemorroidas veio a azia.

E logo agora que o enjoo estava dando uma trégua. A gravidez parece um carro velho: quando você conserta uma coisa, outra dá problema.

A azia me obriga a ficar sentada, com o tronco alto, para evitar o refluxo. Já a hemorroida pede que eu fique com as pernas para cima. Não é uma posição muito fácil. Nem na ioga eu consegui isso. Acho que a saída é comprar um colchão em forma de “V”.


Apareceu a barriguinha, olê, olê, olá…
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Levei um susto um dia desses. É que, pela primeira vez, durante meu ritual matinal de levantar a blusa e mostrar a barriga pro Torero, ele falou: “Nossa, não é que tem um cara mesmo aí dentro?!”

Não era uma barriga grande, mas já dava para desconfiar que a Rita estava grávida. Ou tinha passado a tomar uns chopes depois do trabalho.

Senti orgulho. Finalmente eu via que meu filho estava crescendo. E aquelas bocas maldosas que diziam que eu não estava me alimentando bem, ou seja, subnutrindo meu bebê, finalmente teriam que se calar.

Mas o orgulho deu lugar à tristeza quando ela subiu na balança da médica. Rita estava acima do peso indicado para aquela fase da gravidez e tomou uma bronca. Até chorou.

Não era justo. Eu estava me alimentando direito. E quando escorregava, comia praticamente ar. Ou biscoito de polvilho, o que dá na mesma. Pelo menos, era o que eu acreditava. Até que fui olhar a tabela de calorias e vi que polvilho provavelmente era a comida favorita de Jabba, the Hutt.

Para quem não conhece, Jabba, the Hutt é este monstro de Star Wars aqui embaixo.

Eu estava sempre ganhando carimbos de estrelinhas na minha ficha gestacional. Mas, daquela vez, ganhei o carimbo do Cascão. Deu sujeira…

Rita sentiu o peso da responsabilidade. Ou a responsabilidade do peso.

Essas mudanças no corpo contribuíram para uma considerável diminuição na minha autoestima. Passei a me achar uma balofa porpética.

Traduzo “porpética” aos leitores: significa em forma de porpeta, redonda como uma almôndega.

Antes, quando eu passava na rua, na frente de uma obra, recebia elogios, cumprimentos e frases como: “Quanta saúde!”, “Quer lavar roupa lá em casa?” e “Essa não tá esperando ônibus mas tá no ponto”.

No começo da gravidez ela ainda recebia cantadas. Conta aquela da meia maratona.

Eu estava esperando o Torero cruzar a linha de chegada quando um sujeito se aproximou e disse: “A deusa está esperando uma amiguinha?”. Eu respondi: “Deusa? Só se for da fertilidade, porque eu estou grávida.”

Mas a gravidez espantou os conquistadores baratos.

Agora, se eu passo em frente a uma obra, sou ignorada.

Percebi um certo lamento nisso?

É que, para as mulheres, as cantadas dadas pelos operários de uma obra servem como termômetro de quão sexy elas estão. Coincidência ou não, tenho me sentido um trubufu. Não entendo como há mulheres que se sentem no máximo da beleza durante a gravidez. Invejo todas elas.

Digo, em nome de nós, homens, seres quase desprezados no sistema gravidecional, que não há muita diferença. A barriga não é uma quebra estética tão radical que nos faça preferir o celibato.

Por outro lado, minha redondez tem sido celebrada pelas outras mulheres. Sei que, secretamente, muitas torciam para que eu engordasse feito uma ogra.

Ah, a velha rivalidade feminina…

Essa questão da barriga tem dois lados.

O de dentro e o de fora.

Não. O lado bom e o ruim. O ruim é que as mudanças do corpo ajudam a derrubar a autoestima. O bom é você ter a certeza que está avançando na gestação, porque há um certo exibicionismo da identidade maternal. Ou seja, eu estou no pico da fertilidade e no fundo do poço da estética convencional. É uma situação ambígua.

Ou, no caso da barriga, umbígua.


A montanha russa do sexo
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Há épocas em que uma mulher se sente uma deusa do sexo, uma mistura de Brigite Bardot com Catherine Zeta-Jones. O começo de uma gravidez não é uma dessas épocas.

Não há motivo para isso. A grávida continua tão bela quanto antes. Ainda mais no começo, pois não há nenhuma mudança aparente.

Mas não é assim que uma grávida se sente. Pelo menos no meu caso. Eu achava que meu rosto estampava exatamente o mal estar que eu sentia. Ou seja, me imaginava levemente esverdeada e com o lábio torto.

Uma marciana. Justo meu tipo!

Por conta disso, sexo era a última coisa que passava pela minha cabeça. Ou melhor, a penúltima. A última era comer feijoada.

Minha tese para esta inapetência sexual é outra. Acho que é uma questão física. Como as recém-grávidas já têm um pão em seu forninho, elas passam a desprezar o, digamos, cassetinho. Tanto que entre os animais são raras as fêmeas que copulam durante a gestação.

Nós, mulheres, somos mais complexas. Sexo para nós é sensação. Vai muito além dos apelos instintivos. Mulheres fazem sexo após a menopausa, não dependem do período fértil para ter tesão, podem ficar excitadas quando ganham uma rosa ou brochadas quando o homem tira um palito personalizado do bolso no fim do jantar e começa a limpar os dentes.

Se eu passar fio dental, você fica excitada? Sabor hortelã!

Enfim, o fato é que fiquei muito insegura em relação a várias questões. O sexo poderia machucar o bebê? Ele sentiria alguma coisa durante a relação? Ser ativa sexualmente poderia provocar um aborto? Travei. E fui procurar ajuda.

A médica disse que, como Rita estava numa gravidez normal, sem complicações, não havia problemas com o sexo. No fundo, acho que estas dúvidas são culpa da Virgem Maria. E não estou fazendo piada. O cristianismo faz uma oposição entre maternidade e sexualidade. Tanto que a mãe de Jesus, segundo a lenda, jamais teria feito sexo. A sociedade acha que uma mãe fazer sexo é pecado. 

Pecado mesmo é o quanto meus seios doíam no começo da gravidez. Sem contar que eles ficaram grandes.

 Sim, bem grandes…

Tire a mão daí!

 Repressão, repressão…

É verdade que eu sentia séculos de repressão feminina sobre meus ombros. Mas não era só isso. Para minha surpresa, me percebi mais guiada pelos hormônios. E eles não desejavam sexo.

 É a minha teoria do forninho cheio.

Não tem a ver com forninho cheio. Porque, depois de um tempo, tudo mudou. Passei para o outro extremo. Virei uma libidinosa.

 A médica avisou que isso ia acontecer. Mas não acreditei. Ainda bem que eu estava errado.

Confesso que pensar em sexo o tempo todo foi tão assustador quanto não pensar em sexo jamais.

Só que, nessa fase, a barriga já atrapalhava um pouco. Ironicamente, já não podíamos praticar o tradicional papai-e-mamãe. Tivemos que achar outras posições. Então foi muito útil uma página aqui do Gravidez e Filhos, uma espécie de Mama Sutra. O link é este: http://mulher.uol.com.br/gravidez-e-filhos/album/2012/08/28/veja-posicoes-sexuais-confortaveis-para-as-gestantes.htm#fotoNav=6.

Com esta montanha russa do desejo sexual, descobri que, apesar de todas as nossas complexidades psicológicas e sociológicas, ainda somos, para o bem ou para o mal, um parque de diversões hormonal.

 


Como será a cara do cara?
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O bebê não surge no parto. Ele vai nascendo antes, em prestações, se materializando aos poucos. Ainda mais para nós, homens. No meu caso, a primeira vez que o senti mais próximo foi quando ganhamos uma roupa de bebê. Era um macaquinho azul. Aí eu pensei: “Daqui a pouco isso aqui vai estar recheado com uma criança. Dentro desse macaquinho vai ter uma pessoa de verdade.”

A materialização para mim veio com os primeiros chutes. Eu estava na 19ª semana de gravidez. Não era um arroto, não era um pum, não era o intestino brigando com a feijoada do dia anterior. Alguém se mexia para lá e para cá na minha barriga, me cutucando. Foi uma sensação incrível!

Eu colocava a mão na barriga de Rita, mas não sentia nada. Para mim, ele só existia quando ganhávamos alguma roupa. Mas eu não conseguia, e ainda não consigo, imaginar como ele será. Com as avós é diferente.

Minha mãe e a minha sogrete já sonharam com o bebê. No sonho da minha mãe, nosso filhinho fazia carinho no rosto dela e ela se derretia como manteiga quente.

No da minha, ele corria pela sala.

Coincidência ou não, as duas disseram que ele era um menino lindo.

E, é claro, elas são imparciais.

Totalmente.

Um filho lindo? Confesso que vejo mais graça nos meninos esquisitos. Quando vou numa escola falar sobre algum dos meus livros infantis, sempre simpatizo com aquele garoto de nariz comprido, com o mais baixinho, com o de orelhas pontudas. No fundo, talvez eu esteja torcendo para o meu filho ser mais esquisito que lindo, mais engraçado que belo.

Você pode até achar ele esquisito, mas eu vou achá-lo lindinho. Sou geneticamente programada para ver todas as belezas escondidas do bebê.

O fato das avós imaginarem nosso filho gerou uma certa curiosidade, porque nós dois não tivemos nenhuma visão premonitória.

Acho que não podemos nos culpar, porque sua mãe estudou astrologia e a minha, economia. As duas entendem de prever o futuro.

Comentando com os amigos sobre nossa vontade de ver o rosto do bebê, eles disseram: “Isso é moleza. É só fazer um ultrassom 3D”.

Então, durante uma consulta com a minha médica, falamos sobre isso. Ela, animada, começou a nos mostrar diversas fotos de bebês em 3D.

Horror, horror, horror… Todas as crianças tinham uma coloração amarelo-hepatite. Já os rostos pareciam feitos de barro. E por um artesão ruim, porque eram muito macilentos.

Cruz credo! O ultrassom 3D me diria que meu filho era um pequeno alien!

Vendo nossa decepção, a médica começou a procurar o que ela considerava como belos ultrassons.

Mas só achava monstrinhos.

Não é este esquisito que eu quero para o meu filho.

Os tecnológicos que nos desculpem, mas 3D não é fundamental.

É melhor continuar a imaginá-lo dentro de macaquinhos azuis.


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