Barrigudos

Arquivo : julho 2013

Rotina de mãe de UTI tem lágrimas e aplausos
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No dia 21 de julho ganhei duas identidades: virei mãe do Matias e uma mãe de UTI. Eu quis muito ser mãe do Matias. Mas não desejaria nem ao meu pior inimigo que ele se tornasse uma mãe de UTI.

Uma mãe começa a ser de UTI quando vê seu filho na incubadora pela primeira vez. Não é fácil. O bebê está cheio de fios, com as mãos roxas por conta das picadas de agulha e com tubos que nem deixam a gente ver o rostinho dele.

Depois tem a primeira vez no banco de leite. Em geral, as mães estão de cadeira de rodas, recém-operadas, usam pijamas de flanela e os olhos estão vermelhos de tanto chorar. A primeira coisa que nos sugará não é a boquinha de um bebê, mas uma bomba elétrica. Algo nada charmoso.

No hospital onde estamos, as cinquenta mães com bebês na UTI possuem uma sala de apoio para elas. Lá temos tevê, oito poltronas, um banheiro, uma geladeirinha e armários. Aliás, quando ganhei a chave do meu armário é que percebi que a estadia do Matias não seria tão breve e eu tinha me tornado uma mãe de UTI.

Ser mãe é padecer numa sala de apoio. Ela pode ser algo apaziguador ou depressivo. Tudo depende do clima das mães que estão lá. Se todas tiveram progresso com seus bebês no dia, rola até piada. Se algum bebê piorou, o ar fica denso.

Passamos cerca de doze horas no hospital todos os dias. Uma das mães que encontrei por aqui tem até um bordão: “Isto é pior que um emprego”.

Falando em emprego, há vários chefes que telefonam ou mandam e-mails cobrando as mães sobre finalizações de trabalho, informações ou até mesmo reuniões. Geralmente os prematuros chegam de surpresa, o que não dá muito tempo para as mães se desligarem adequadamente do trabalho. Por outro lado, os chefes não têm ideia do que é a rotina de uma mãe de UTI. Foi engraçado presenciar algumas mandando seus superiores à *&%#@. A prioridade número um de uma mãe de UTI é o seu bebê.

As mulheres nesta situação contam os sucessos em pequenas medidas: quantos mililitros de leite o bebê passou a mamar e quantos gramas ganhou em peso.

Na UTI, nenhuma de nós sabe onde a outra mora, no que trabalha ou quantos dígitos há na sua conta bancária. Mas sabemos os detalhes dos partos e as informações de seus bebês, como peso, altura, procedimentos que fez, medicações que toma.

A maioria de nós não teve chá de bebê, não veio com mala de maternidade pronta, não tinha o enxoval completo, nem o quarto do bebê totalmente arrumado. E nada disso fez diferença. Os bebês não usam roupas na incubadora e não voltam conosco para casa.

Somos conhecidas pelo primeiro nome e como mãe de nossos filhos. Aqui sou “Maria-Rita-mãe-do-Matias”.

As mulheres nesta situação têm muito em comum e enfrentam um tsunami emocional diário. Não há um dia em que não se chore, seja de alegria ou tristeza.

O pior que pode acontecer é a perda de um bebê. Nesta hora, todas choramos. Pelo bebê que se foi, pela mãe e por medo que aconteça conosco.

Mas existe o momento da consagração, que é a ida do bebê para casa. Há até um ritual de celebração: os funcionários e as mãe de UTI fazem um corredor polonês e a mãe e seu bebê são aplaudidos enquanto saem. Mas não é um aplauso curto, um aplauso de parabéns. É um aplauso longuíssimo, misturado com muitas, muitas lágrimas. Parece algo tribal, como se toda a aldeia de mães festejasse a vitória daquele bebê e invocasse as próximas.

Não vejo a hora de isso acontecer comigo.

 


Ser pai de prematuro na UTI é viver numa montanha russa
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Matias está na UTI neonatal. Já escutamos previsões muito diferentes sobre quanto tempo ele vai ficar por lá. De uma a seis semanas.

Mesmo por um dia, a UTI é uma montanha russa sentimental. A cada notícia ruim, você entra em depressão. A cada notícia boa, carnaval.

Matias nasceu bem, mas aos poucos teve que ir colocando apetrechos. Primeiro foi uma sonda que entra pela boca e vai até seu estômago, depois um cateter no braço para receber alimentação parenteral, luz para a icterícia (o que implica nuns óculos azuis), um tubo que empurra ar em suas narinas (que implica num gorro e em dois tubões, um vindo de cada lado do rosto), aí teve apneia e precisou de medicação, tem eletrodos no peito para monitorar a frequência cardíaca, uma botinha azul com fiozinho que não sei para que serve etc… Meu filho parece astronauta. 

Só dá para ver o queixo com covinha.

A cada apetrecho colocado, você sente vontade de chorar. E às vezes chora mesmo.

Aliás, chora-se por vários motivos. Por exemplo, ao ver a enfermeira tirando sangue de um mãozinha tão pequena. E não tanto pela agulha, mas mais pelo fato de ele não reagir, não espernear, não berrar de dor e de protesto. Pode ser também o email sincero de um amigo ou uma mãe que cantarola uma música triste para a filha que está na incubadora ao lado.

De todas as tristezas, a mais triste ir para casa sem nosso filho. É uma frustração. Uma sensação de incapacidade, de impotência. Dá uma certa raiva do mundo. Você sabe que ninguém tem culpa, mas dá uma raiva geral, com foco indeterminado. Para piorar, a saída do hospital é cheia de burocracia. Na mesma hora em que temos que pagar todas as despesas (como se fôssemos fugir para a Toscana e deixar o nosso filho na UTI), tivemos que assinar os papéis da internação de Matias. A vontade é de trocar uns socos com o dono do hospital. Pelo menos aliviaria a raiva.

Mas o problema não é a saída do hospital. É chegar em casa. Ver aquele berço vazio é uma tristeza violenta. Você sente que abandonou o menino, pensa que nada tem justiça nem lógica.

Mas também há lágrimas de felicidade. E por coisas aparentemente pequenas. Por exemplo, anteontem ele recebeu pela primeira vez o leite da mãe e não houve problema. Foi uma festa. Quase estouramos uma garrafa de champanhe. Se bem que minha vontade era apertar os seios de Rita e ver o leite espirrar num jato imenso, molhando o teto, escorrendo pelas paredes e fazendo poças no chão. Mas seria desperdício. Todo o leite deve ir para Matias.

Os médicos avisam que esta montanha russa emocional vai durar até a saída de Matias do hospital. Mas, depois dele conseguir beber o leite materno, não consigo acreditar nisso. Penso que ele ficará cada dia mais forte, e daqui a pouco estará tão musculoso que vai arrebentar a incubadora, andar até a sala de espera da UTI e falar para nós com voz grossa: “Vamos embora, pessoal. Quero tomar um porre de leite lá em casa!”

 


Nasceu!
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No último sábado, às 18h30, eu estava no salão de beleza. Já tinha feito depilação, as unhas dos pés, sobrancelha, e acabava de pintar as unhas das mãos com esmalte clarinho enquanto Rute, a dona do salão, me contava que seu filho tinha nascido de trinta e quatro semanas.

Eu falei para ela: “Que coincidência! Estou com 33 semanas e meia, quase 34”. Foi então que senti como se eu fosse a nascente de um rio. Um volume de água muito grande começou a sair de mim. Minha calça ficou encharcada rapidamente e logo tinha alagado a cadeira em que eu estava. Nada prepara a gente para um parto prematuro.

No instante seguinte eu recebi uma ligação do celular da Rita. Falei:

-Oi, Rita.

-Não é a Rita. É a Rute. Você está perto do salão?

-A duas quadras.

-Então vem rápido. A bolsa da Barbi estourou.

Eu nem consegui acreditar naquilo. No próximo sábado faríamos o curso para pais e na outra semana teríamos o chá de bebê. O bebê só deveria nascer no começo de setembro. Fiquei tão nervoso que virei à primeira esquerda e errei o caminho. Acabei levando o dobro do tempo para chegar ao salão.

Eu fiquei muito assustada e comecei a tremer muito. De repente vi tolhas e copos de água com açúcar vindo para mim. Eu pensava: “Não pode ser agora, ele está muito pequeno!”

Meu primeiro impulso era tentar parar aquela correnteza. Se eu conseguisse segurar o líquido, ele demoraria mais para nascer. Mas era impossível conter a enxurrada.

Fora isso, eu começava a ouvir a piada pronta: “A Barbi começou o trabalho de parto no salão de beleza”.

Cheguei no salão e fomos em direção ao hospital. A cada curva eu repetia para mim mesmo: “Não posso bater o carro, não posso bater o carro…”

No caminho, liguei para o celular de minha médica e avisei o que tinha acontecido. Ela explicou que no hospital veriam como estava a coisa e tentaríamos retardar o parto para eu poder tomar as medicações necessárias para uma criança prematura: penicilina para evitar infecção e cortisol para amadurecer os pulmõezinhos.

Eu, que só conheço o trabalho de parto pelos filmes, pensava que tudo seria muito rápido. Para mim, depois de estourar a bolsa, teríamos três minutos de comerciais e o bebê já nasceria.

Na emergência, me examinaram e viram que eu estava com contrações leves e espaçadas. Não dava mais para atrasar o parto com remédios. Então, às 20h30, fui levada para a sala de pré-parto. E menos de uma hora depois eu tomava as medicações.

Precisávamos de umas oito horas para que Rita tomasse duas doses de penicilina. E doze horas para que o cortisol fizesse parte de seu trabalho. Ou seja, ela teria que aguentar pelo menos até as 9h30 do dia seguinte.

Eu precisava dar um jeito de trabalhar a dor para aguentar até o fim. Comecei a meditar. Usei todas as técnicas que aprendi. Principalmente as de respiração. Aumentei o nível de concentração e baixei o nível da contração. Com isso a gente ganhou algumas horas.

Eu fiquei ali na cadeira do lado, ora tentando ficar acordado, ora tentando dormir.

Lá pelas 7h00 do domingo, as contrações ficaram mais intensas e mais frequentes. Foi então que a dra. Ana Lucia chegou, me avaliou e disse que, pelo quadro, o bebê nasceria ainda naquela manhã.

As contrações foram piorando. E Rita começou a morder coisas para aliviar a dor. Tratei de ficar a uma distância segura.

Mordi lençol, travesseiro, meu próprio dedo…

Às dez da manhã entramos na sala de parto. Eu levava a minha câmera, pronto para fazer um grande documentário.

As contrações aumentaram muito. E os intervalos eram minúsculos. Não conseguia ficar deitada. Não entendo como alguém pode querer fazer um parto normal deitado. As lágrimas de dor escorriam pelo meu queixo. Sem exageros. E depois de um tempo comecei a urrar. O parto é uma experiência animal.

A barriga de Rita ficou com um formato muito estranho. Com uma ponta bem aguda do lado direito. Era como se um alien fosse sair por ali.

Diante do quadro, dra. Ana Lucia optou por uma cesariana.

O bebê, se não me engano quanto ao termo técnico, estava “defletido em segundo grau”. Acho que isso quer dizer que ele estava tentando sair com o queixo, não com o topo da cabeça. Eu continuava filmando tudo. Mas tremia como se estivesse sem camisa no polo norte.

Eu já estava há mais de quinze horas em trabalho de parto. A dor das contrações era tão grande que nem senti a agulha da anestesia.

E ela não é nada pequena. Dra. Ana Lucia ligou a música ambiente e ainda fez uma piada: “Eu demoro seis meses para ganhar a confiança de vocês, mas todo mundo se apaixona pela anestesista em dois minutos”.

Comecei a não sentir mais nada e um pano foi colocado na minha frente, cobrindo o espetáculo. Daí Torero foi para a frente do palco.

Não é fácil ser um câmera nessa hora. Há muito sangue e muita carne. Cirurgia não é algo delicado. Tem um certo ar medieval. Mas o que me fez tremer mesmo foi ver a ponta da cabeça do bebê saindo. Aí a câmera começou a balançar bastante. E quando o bichinho saiu inteiro… foi inacreditável. Soltei uns grunhidos horríveis de choro sendo contido. Parecia um porco selvagem.

O bebê foi levado para a enfermaria, eu fui ver como Rita estava e a câmera ficou filmando pés e paredes.

Eu ouvi um chorinho forte vindo de longe e confirmaram que era dele. Me deu um alívio! O pulmãozinho estava funcionando! Na mesma hora, começou a tocar Mozart na sala. Bem a música que eu mais gosto e ouvia muito durante a gravidez.

Fui até a sala em que o bebê estava sendo limpo. Ele já estava de gorro. Parecia bem saudável. Pintaram o pezinho dele e ganhei uma tatuagem no braço.

Depois trouxeram o bebê para que eu visse. Foi a melhor imagem da minha vida. O meu filho.  Aí as lágrimas jorravam descontroladas pelas razões certas. Eu estava preparada para ver um ratinho, porque na minha imaginação um bebê prematuro teria uma carinha estranha e caberia em uma mão só. Mas não. Eu achei ele lindo. Uma boquinha, um furinho no queixo… Eu queria poder pegar, cheirar, lamber minha cria. Mas só consegui dar uns beijinhos. Logo levaram ele para longe de mim.

O pequeno nasceu com 2,1kg. Terá que ficar na UTI por algum tempo. Ainda não sabemos ao certo quanto.

O duro é que ele fica longe de nós grande parte do dia. Há algumas horas estava dentro de mim, e agora está a três andares de distância.

Ele mal nasceu e já sentimos saudade dele. Pelo menos, já escolhemos seu nome: Matias.

Agora esperamos pelo segundo parto: o dia em que ele sair do hospital.


Pitaco na gravidez dos outros é colírio
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Quem nunca deu pitaco na vida dos outros que atire a primeira pedra.

Mas, quando o assunto é gravidez, os palpites se multiplicam. Todo mundo tem alguma sabedoria secreta e incontestável. E o pior é que às vezes estas sabedorias dizem uma o contrário da outra.

Um exemplo disso é a preparação dos seios para amamentação. Alguns recomendam que se use bucha no bico dos seios e creme desde o início da gravidez, para dar uma calejada. Outros dizem que a bucha deixa o bico ainda mais sensível, e recomendam que você tome sol.

Hum… topless…

Como se isso fosse fácil! Na praia, você é presa. E na varanda do apartamento fica exposta aos binóculos indiscretos de adolescentes espinhentos.

Eu acho que o certo é o futuro pai fazer uma massagenzinha de vez em quando. Hein, hein?

Outra questão: o berço.

Já ouvimos pais dizerem que o melhor é deixar o berço do lado da cama nas primeiras semanas do bebê. Assim fica mais fácil ver quando há algum problema, pegá-lo quando ele chora, monitorá-lo, etc…

Por outro lado, há quem sustente que o melhor é deixá-lo dormindo no próprio quarto desde o começo, para que ele logo se acostume a dormir sozinho.

O engraçado é que as duas facções têm certeza absoluta de sua tese. São como os reencarnacionistas e os ressurreicionistas. Ambos pensam ter a resposta para a grande pergunta, mas só uma delas pode estar certa. Ou nenhuma.

E as fraldas então? Não existe consenso sobre a quantidade que devemos comprar de tamanho RN e P. Há quem diga que quase não se usa fralda RN. Um ou dois pacotes já seriam suficientes. Outros falam que você deve estocar fraldas como se fosse um Noé esperando o Dilúvio.

No caso, um dilúvio de cocô.

O mesmo acontece para as roupas. As quantidades e tamanhos de bodies e mijões indicadas são totalmente díspares. Ninguém se entende. É uma torre de Babel.

Estamos bíblicos hoje.

Falando nisso, há a questão do moisés. Existem os superdefensores e aqueles que falam que é algo inútil, um desperdício de dinheiro.

Para Moisés foi útil. Será que era uma cesta inflável?  

A questão mais polêmica é o tipo de parto. Há radicais dos dois lados.

Dos quatro. Temos os defensores da cesariana, os amantes do parto normal, os entusiastas do parto de cócoras e os fãs do parto na água.

É o tipo de assunto que eu nem consigo discutir com as pessoas. Cada um é tão seguro de sua posição que eles nem param para ouvir dúvidas, anseios, questionamentos… E eu fico com a impressão de que todo mundo só me fala o lado bom dos métodos.

São como muçulmanos, católicos, protestantes e judeus. Cada um acredita que a sua religião é a melhor. E as outras são crendices primitivas.

Os pitacos não são só sobre assuntos sérios. Há briga até no tipo de pijama que eu tenho que levar para a maternidade. Tem gente que diz que devo ter uma camisola bem larga. Outros falam que o certo é pijama com botões para facilitar a amamentação. E eu não tenho uma coisa nem outra.

Enfim, o que fazer com os pitacos?

A gente ouve tudo, mas no fim decide o que for melhor para a gente.


O ataque da múmia bege!
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“É um cavaleiro medieval? É o Homem de Ferro? Não! É a Rita!”

Torero está dizendo isso porque, nesta altura da gravidez, eu tenho que usar tantos aparatos que mais pareço aquele bonequinho da Michelin.

Você anda tão enrolada que parece uma múmia. Vou começar a te chamar de Ritankâmon!

Meu uniforme de sobrevivência gravídica começa com meias de compressão. Mas não estou falando daquelas meinhas três quartos. Falo das sete oitavos, que cobrem do dedão até o fim da coxa.

Quando elas são pretas e têm uma rendinha, são bacanas. Mas as suas…

São beges, a cor menos sexy do planeta, e têm uma textura pouco agradável, o que deixa as minhas pernas parecendo de plástico. Uma beleza…

E ainda por cima são difíceis de colocar.

É como vestir uma calça jeans dois números menor. Mas a meia é só o começo dos meus problemas de vestuário. Em seguida vem a supercalcinha. Ela é maior, mais alta e, é claro, bege. Parece que assaltei a gaveta da minha avó.

Tem também a faixa. Pensei que você ia começar a lutar sumô. Com a barriga já estava parecida. Com a faixa, ficou igualzinha.

Eu sabia que uma hora você ia usar minha barriga contra mim. Pois fique sabendo que esta faixa me ajuda a segurar o peso do bebê.

E também é bege. Combina com o resto.

Inclusive com o sutiã especial, que mais parece com um top. Como os seios aumentam bem durante a gravidez, a gente precisa buscar conforto longe das rendas e armações.

Em vez de Victoria’s Secret, é um modelo Victoria’s Support.  

Com todas essas coisas, parece que eu estou usando uma armadura bege. Por quê? Por quê? Por que os fabricantes de acessórios íntimos para grávidas adoram bege? Eu odeio. Quando eu me vejo bege, fico roxa de raiva. E bege e roxo não combinam!

Mas só eu vejo sua begice.

Pois é, mas todo mundo vê os complementos da armadura. Por exemplo, a calça de grávida que tem grandes faixar elásticas para acompanhar o crescimento do bebê.

Dessa eu gostei. Até estou pensando em comprar uma. É muito prática para ir em churrascos.

Por cima dela vem uma daquelas batinhas, que nem sempre são um primor de alta costura. E podem adicionar facilmente uns cinco quilos a uma silhueta já inchada. Efeito botijão de gás.

Até agora já cobrimos pés, pernas, baixo abdômen, cintura, seios e o resto do tronco. Só o rosto ficou livre.

Nem tanto, José Roberto. Você tem que lembrar que eu tenho passado uma espécie de cimento, digo, protetor solar para tentar conter as fatídicas manchas que aparecem na gravidez. Quando passo demais, meu rosto fica até esbranquiçado. Pareço uma vampira do Crepúsculo.

Seu protetor tem um fator tão alto que deve ser à prova de balas. E leva um tempão para aplicar.

Você reclama que eu tenho demorado mais para me arrumar. Mas não imagina o tempo que eu gasto para colocar todo este arsenal.

O Batman punha colã, máscara, capa e cinto de utilidades bem rápido. Era o tempo de descer num poste de bombeiro.

Por causa dessa pressa toda é que ele sempre colocava a cueca por cima da calça. Não seria um bom exemplo para o nosso menino-prodígio. Prefiro continuar demorando.

 


Cantigas aterrorizantes de ninar
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Um amigo falou que aos sete meses o bebê já escuta o que falamos, e contou que cantava músicas de ninar para seu filho na barriga da mãe. E depois do nascimento, quando cantava para ele dormir, a música fazia muito efeito.

O curioso é que o Torero nunca gostou muito dessa ideia de falar com o bebê na barriga. Ele fazia uma cara de descrença e falava qualquer bobagem para o bebê, tipo: “Se você está me ouvindo, chute três vezes”.

Mas a chance de a música de ninar ser um sonífero natural fez com que eu reconsiderasse meu ceticismo. Pigarreei, fiz cara de Pavarotti e mandei: “Boi, boi, boi da cara preta, pega esse menino que tem medo de careta…”

– Ah, não! – eu protestei. – Pode ir para lá com essa cantoria de medo.

– Mas é só uma melodia. Ele ainda não sabe falar.

– É assim que você começa a incutir medo na criança.

Pensando bem, a música falava contra a natureza (o boi) e tinha um fundo racista (o boi tem a cara preta). Escolhi outra peça do meu repertório e mandei: “Dorme, neném, que a Cuca vem pegar. Papai foi na roça, mamãe foi trabalhar.”

– Essa também não. Por causa dessa música, eu me escondia atrás do sofá quando a Cuca aparecia no Sítio do Pica-Pau Amarelo. Sem contar que sugere que o bebê tem que dormir porque ele foi abandonado pelo pai e pela mãe, mesmo que por causa do trabalho.

Nem argumentei contra. Só limpei a garganta, botei minha boca perto do umbigo de Rita e cantei: “Atirei o pau no ga-to-tô, mas o ga-to-tô não morreu-reu-reu, dona Chica admirou-se-se do berro que o gato deu: miau!”

– Isso, Torero, vamos ensinar o nosso filho, desde o útero, a maltratar os animais.

– Mas o gato não morreu.

– Também não morre quando puxam o rabo, cortam os bigodes…

– Eu tinha cinco anos quando cortei os bigodes da Giane. Não é justo você jogar isso na minha cara!

– A gente tem que criar os filhos para serem melhores do que a gente!

Como não luto contra pontos de exclamação, escolhi outra música: “Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar”. Como vi que Rita não tinha protestado, continuei: “O anel que tu me deste era vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou.”

– Isso, vamos dar a impressão de que o mundo é cheio de falsidade, de anéis de vidro e não de diamante. E para piorar vamos passar a ideia de que o amor é algo frágil, que se acaba. Que segurança ele vai ter ouvindo isso do próprio pai desde o útero?

– Tá bom…

– Não tem uma música de coelhinho?

– Coelhinho, se eu fosse como tu, tirava a mão do bolso e…

– Não, essa não!

Desisti das cantigas de ninar e mandei: “Nossa, nossa, assim você me mata. Ai se eu te pego, ai, ai se eu te pego…”

– Vamos subir o nível. Que tal uma MPB?

Apelei para o Chico Buarque: “Olha aí, ai, o meu guri, olha aí, olha aí, é o meu guri, e ele chega…”

– Para, para! Já estou ficando com vontade de chorar. Essa música acaba comigo. A realidade dos meninos de rua é muito dura…

– Eu desisto! 

– E se a gente tentasse os clássicos, como Mozart e Bach?

– Eu não sei cantarolar estas coisas. Meu limite é “Boi, boi, boi da cara preta, pega essa menina que tem medo de careta…”

– Tá bom, canta o que você quiser e depois a gente conserta nosso filho com terapia. E me passa aquele tapa-ouvidos.


Ser pai é padecer em casa
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Dizem que ser mãe é padecer no paraíso. E o pai? Padece onde? Ou não padece? Claro que padece! E até antes de ser pai. O pai antepadece.

Por exemplo, estes dias Rita está doente. Logo, eu faço tudo. Hoje de manhã saí para comprar pão, lavei louça, fui à farmácia, marquei o próximo ultrassom (fazendo um bico de secretária) e esquentei o almoço.

Conjuguei a trilogia “lavar, passar e cozinhar”. Acho até que escreverei um livro sobre o assunto. Será um novo best-seller, substituindo “Comer, rezar e amar”.

Estou semimorta na cama, e é Torero quem me acorda para me dar remédio, às vezes à uma da manhã, e me leva alimento.

Se eu trabalhasse fora de casa seria um problema. Por sorte, sou escritor e meu escritório fica na mesa da sala.

 Grávidas não podem tomar qualquer medicamento. Então a cura pode demorar mais. Eu tive que trocar de remédios duas vezes. Durante todo o tempo, Torero teve que medir minha temperatura, avaliar pelo meu rosto se eu estava com mais ou menos dor, checar pressão e batimento cardíaco, enfim, tudo o que uma mãe faria.

O pai é a mãe da mãe quando a mãe está doente.

 Esta definitivamente não é uma posição confortável para o homem. Mas às vezes ela é necessária. E é respeitável quem aceita fazer este papel.

 Acho que hoje em dia isto está mais comum. Pais estão assumindo parte do que eram atividades exclusivamente maternas. Nos sábados e domingos pela manhã, quando vou tomar café na padaria, vejo vários pais sozinhos com seus filhos. Uma mente mais maldosa talvez tenha pensado: “Devem ser pais divorciados”. Mas não. Pelo que ouço das conversas com seus filhos, eles optaram vir tomar café na padaria e deixar a mãe dormindo.

O cuidar deixou de ser exclusividade da mãe.

A maternidade deixou de ser exclusividade da mãe. É só ver que, no começo do Barrigudos, eu quase não escrevia. Mas agora os textos estão bem mais azulados do que antigamente. Ainda escreverei um blog chamado Papatraca.

Estes dias você foi um super-herói.

Só se for o Bolsa-de-água-quente-Humana, o homem-termômetro, ou o Super-Kleenex.

Torero passou de coadjuvante a protagonista esta semana.

Mas não faço nenhuma questão disso. Minha especialidade é a coadjuvância (se é que esta palavra existe). No cinema, nos meus filmes e nos de amigos, já fiz papel de motorista, de atropelado, de público de boxe e de motoqueiro. Só neste último tive uma fala: “Ciao, bela”. E fui péssimo. Nasci para ser o Tonto e não o Zorro. Por isso, fique boa logo!


Matando a saudade na cama!
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Depois de duas semanas separados, eu e Rita matamos nossa saudade ficando vários dias na cama. Mas não é o que você está pensando. É o contrário.

Torero chegou na segunda-feira com uma febre de 38,5º.C.

É uma doença que chamo de folhite. Desde que entrei na Folha de S.Paulo, no longínquo ano de 1987, quando os computadores só tinham letras verdes, eu fico doente depois de um trabalho longo.

Mal entrou em casa, Torero foi para cama e lá ficou. Nem a minha famosa canjinha ele quis.

Só fui levantar da cama 36 horas depois. Acordava, comia alguma coisa, tomava remédios e voltava a dormir. O problema é que eu estava espalhando meus germes pela casa. A cada espirro lá iam os malditos dançando pelo ar. E quem eles foram encontrar?

Eu! Grávida e com a resistência baixa, fui uma presa fácil.

Logo estávamos os dois de cama. Agora sei que eu deveria ter ido para nosso apê em Santos, sem colocar a Rita em risco. Mas é difícil pensar com febre.

Por outro lado, eu estava preocupada e queria cuidar dele. Não sei se teria topado ele ir para Santos.

Eu iria do mesmo jeito! Me arrastando pela Imigrantes, deixando um fio viscoso pelo caminho, assim como os caracóis.

Não faça drama. No fundo, eu sempre achei que grávida tivesse uma aura de proteção, como se nada pudesse acontecer com a gente.

Mas é o contrário. As grávidas são um convite aos vírus, fungos e bactérias.

Depois de uns dias comecei a me sentir baqueada, como num começo de gripe. Veio a dor de cabeça, a dor de garganta, a taquicardia, e uma dor nas costas, na região lombar, insuportável. Eu não conseguia sentar, não conseguia deitar e não podia ficar de pé. Para piorar, minha barriga ficou muito dura e eu sentia que o bebê se mexia pouco.

O desespero total veio quando tive um pequeno sangramento.

Corremos para a médica. Se bem que “corremos” talvez não seja o termo certo. Gripados, nós nos mexíamos em câmera lenta, feito bichos-preguiça, zumbis ou deputados na quinta-feira.

Chorei de dor e de medo. De novo pensei que meu bebê estava em risco. Eu sabia que alguma coisa não estava certa.

Levamos mais ou menos uma hora para sermos atendidos. Ou três mil e seiscentos segundos. Cada um bem lento e tenso.

O exame mostrou que uma simples gripe evoluía para uma pneumonia. O bebê também estava sentindo isso. O líquido amniótico baixou e o batimento cardíaco estava muito acelerado. Tive que tomar antibiótico, analgésico e ficar em repouso. Minha médica explicou que a terrível dor lombar que eu sentia, e a pressão na barriga, são típicas do trabalho de parto.

Rita ganhou uma amostra grátis do que vai sentir daqui a dois meses.

Se a medicação não funcionasse em 24 horas, teria que ir para o hospital. Com risco de parto prematuro.

Mas parece que deu certo. Enquanto escrevemos este texto, com os dois espirrando lado a lado, num batuque mal ritmado e meio úmido, vejo que Rita já está com uma cara bem melhor.

Para uma grávida, nada é simples. Nem gripe.

Agora chega de escrever e vamos para a cama! Dormir e tossir, é claro.

 

 


Como é triste a separação durante a gravidez (versão feminina)
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Hoje é minha vez de escrever sozinha. E vou contar como foi ficar separada durante a gravidez. Mesmo que tenha sido apenas uma separação geográfica.

Logo que o Torero viajou por duas semanas para cobrir a Copa das Confederações, pensei: “Vou aproveitar esse tempo sozinha para fazer várias coisas que ele não gosta”. Então aluguei filmes “de mulherzinha”, bati perna no shopping, troquei o queijo prato por cottage e marquei uma sessão de spa em casa com as amigas, com direito a touca térmica e máscara facial verde.

A diversão durou dois dias. Depois disso, bateu a estranheza de estar separada.

A casa ficou vazia e a geladeira, cheia. Foi estranho ter o controle remoto da TV só pra mim. E, curiosamente, passei a me atrasar para os compromissos, porque agora eu já não tinha mais quem me apressasse.

Além disso, comecei a sentir uma pressão danada para dar conta de tudo sozinha: trabalho, casa, reforma do quarto do bebê, último trimestre da gravidez. Fora as noites mal dormidas por conta do refluxo, o cansaço geral e o barrigão, que agora já incomoda para andar. Até passei a ter falta de ar. Eu fiquei exausta.

O jeito foi racionalizar esforços. Ida ao supermercado? Só na falta de comida e papel higiênico. Padaria? Um luxo desnecessário. Que saudades do pão quentinho que Torero traz pela manhã…

Ficou claro para mim que gravidez é parceria. Uma grávida precisa de apoio e ponto. Seja ele qual for. Deixo aqui meu profundo respeito a quem encara ou encarou a gestação de forma mais solitária. Não é fácil.

A barriga crescia mais do que nunca e eu não podia mostrá-la ao Torero. O bebê chutava forte, se mexia de um jeito diferente, e ele não estava lá para sentir. Foi chato.

Mas pior mesmo foi quando ele me contou que não tinha passado bem. Em uma conversa com vídeo por Skype ele apareceu com olheiras profundas e estava levemente esverdeado. Vi que ele sofria, apesar de jurar que estava melhor. Torero mente mal.

Pensamentos dramáticos surgiram, turbinados pelos hormônios loucos da gravidez: “E se ele estiver com algo mais sério e não quer me preocupar? E se ele piorar enquanto estiver sozinho? Como ajudá-lo estando tão longe?”

Pensei em pegar um avião e ir até ele, em Recife, mas já estou proibida de voar. Cotei até passagem de ônibus, mas eu demoraria demais para chegar e a viagem longa, na minha situação gestacional, poderia provocar um parto prematuro.

Eu sentia que o Torero precisava de cuidados e ao mesmo tempo eu não podia descuidar desse serzinho que é fruto de nós dois. Fiquei entre a cruz e a espada. Ou melhor, entre o marido e o bebê. Foi horrível.

Por sorte, era uma infecção viral e ele vem se recuperando aos poucos. Mas ainda não está 100% bem. Só voltará da Copa um pouco mais animado, por conta da vitória do Brasil.

Agora faltam poucas horas para Torero chegar em casa. Ainda bem que tudo não passou de um susto. Só serviu para sentir na pele que separação na gravidez é muito triste.


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